Estrutura

Muita gente e pouca solução

Estrutura organizacional da Renova tem 500 empregados diretos, 8.000 indiretos e 400 consultores

Por Ludmila Pizarro e Queila Ariadne
Publicado em 29 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Para cada funcionário contratado diretamente pela Fundação Renova, existem outros 16 colaboradores trabalhando no processo de reparação socioeconômica e ambiental da tragédia. De Mariana, onde a barragem de Fundão, da Samarco, se rompeu, em 2015, até Linhares, no Espírito Santo, onde está a foz do rio Doce, trabalham 500 empregados diretos e 8.000 prestadores de serviços. Além desse total, a Renova ainda conta com cerca de 400 conselheiros e consultores técnicos, que não são remunerados. A folha de pagamento com empregados diretos, em 2018, foi de R$ 7,8 milhões. Indiretos custaram R$ 93,9 milhões.

“A Renova funciona com uma terceirizadora da Vale e da BHP, é um sumidouro de dinheiro”, afirma o diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Siticop-MG), Eduardo Armond. Segundo ele, um dos complicadores é que a Renova contrata, mas, quando ocorre algum problema com os trabalhadores terceirizados, quem responde são as mantenedoras da fundação: Samarco, Vale e BHP. “A Renova é um ‘monstrengo’ juridicamente. Assumiu coisa demais e acaba servindo de escudo para as empresas, que são as responsáveis diretas por fazer todas as reparações do desastre”, avalia.

Um profissional de engenharia que trabalha em uma terceirizada, que solicitou anonimato, conta que mais de uma empresa atua em determinadas frentes das obras de reassentamento. “A pressão é enorme, e temos que conferir cada etapa, porque sabemos que outras empresas vão fazer a mesma coisa”, relata. “As orientações também mudam constantemente, o que causa retrabalho. A cada mudança, a firma em que trabalho ganha mais”, diz.

Segundo a Renova, só na reconstrução de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira há 25 empresas terceirizadas. As obras mais adiantadas são de Bento, que estão na terraplenagem. As de Paracatu de Baixo aguardam licenciamentos, e as de Gesteira, aprovação do plano diretor.

Outra fonte diretamente ligada ao processo, que pediu para não ser identificada, afirma que a quantidade excessiva de pessoas envolvidas nas decisões acaba gerando atrasos. “Por um lado, é muito bom ter a participação de vários players nas decisões. Mas a contrapartida é demorada. Se tem discordância, demora. E isso tem impacto nos programas. Por isso é importante impor limites”, avalia.

A Renova informa, em nota, que “mais de 500 empresas” trabalham no território impactado pelo rompimento de Fundão em Minas e no Espírito Santo e “atuam em reconstrução e infraestrutura, pessoas e comunidades, terra e água, e em programas como reassentamento, indenização, manejo de rejeitos e saúde”.

Empresas não controlam ritmo

Desde a criação da Renova, em 2016, até dezembro de 2018, a Vale já aportou cerca de R$ 2,6 bilhões na fundação. A BHP destinou o mesmo valor. Até março deste ano, os totais atualizados somam R$ 5,7 bilhões. A reportagem questionou a Samarco e suas acionistas, Vale e BHP, sobre a avaliação em relação à demora das respostas da Renova.

Elas explicaram o funcionamento da fundação e esclareceram de onde vêm os recursos, que são divididos entre Vale e BHP. Mas nenhuma das três respondeu como avaliam o ritmo da execução das ações.

O que dizem

Samarco

“A Samarco esclarece que, junto com suas acionistas, é uma das mantenedoras da Fundação Renova, mas, em razão da paralisação das suas operações desde novembro de 2015, todos os aportes têm sido realizados somente por Vale e BHP.”

Vale

“A Vale é uma das empresas mantenedoras da Renova, que tem autonomia para gerenciar e executar as ações estabelecidas por um Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC), assinado pela Samarco Mineração e suas acionistas – Vale e BHP – e, também, por instituições e órgãos do governo federal e dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.”

BHP

“A BHP está totalmente comprometida com as ações de reparação e compensação das áreas afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão, iniciadas pela Samarco logo após o acidente e atualmente executadas pela Fundação Renova”, disse em nota.

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