O desastre ambiental provocado pelo vazamento de óleo no litoral nordestino, que já atinge também o Espírito Santo, pode gerar impactos positivos no turismo em Minas Gerais.
Em alguns municípios do Estado, há expectativa de que as atrações históricas, gastronômicas e naturais conquistem visitantes que, até então, tinham as praias como primeira opção de destino no próximo verão.
No Circuito das Águas, composto por 14 cidades do Sul de Minas, como Caxambu, São Lourenço e Três Corações, a previsão é de aumento no fluxo de turistas no final do ano e nas férias de janeiro.
“Na região, o carro-chefe é a natureza.Temos a serra da Mantiqueira, parques de águas minerais, e o público vem buscar os balneários. A gente concorre com as praias”, diz a gestora do Circuito Turístico das Águas, Ane Souza.
Segundo ela, o circuito recebe turistas de todo o país, mas a maioria vem de Rio de Janeiro e São Paulo. “Esperamos que o movimento aumente, sim, porque a tendência é que as pessoas fiquem um pouco receosas por causa da questão da saúde, a possibilidade de intoxicação”, pontua.
“As praias de Ubatuba (SP) são próximas, mas, por serem um destino muito procurado, ficam muito lotadas. Esperamos que as pessoas deem preferência para Minas”, ressalta.
As primeiras manchas de óleo no litoral nordestino foram identificadas em agosto. Segundo relatório divulgado em 13 de novembro pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o número de locais afetados chegou a 527.
Das 111 cidades atingidas, 107 estão no Nordeste, e quatro, no Espírito Santo. No Grupo Tauá de Hotéis, que tem resorts em Caeté, na região metropolitana de Belo Horizonte, e Araxá, no Alto Paranaíba, houve um aumento de 45% na procura por pacotes de férias em dezembro, em comparação com o mesmo período do ano passado.
“Esse aumento se deve a diversos fatores, um deles pode ter relação com o aparecimento de petróleo no litoral nordestino”, diz a empresa em nota.
Segundo o grupo, a facilidade de acesso aos hotéis pela capital mineira e as atrações oferecidas, como espaços para a prática de esportes e piscina aquecida, contribuem para o aumento da demanda. “(A alta também tem relação com o fato de) nossos resorts não perderem em lazer e programação ao compará-los aos resorts de praia”, afirma o texto.
Já no hotel Engenho da Serra, em Capitólio, cidade do Sul de Minas conhecida pelos cânions, cachoeiras e pelo balneário Escarpas do Lago, ainda não houve mudança, mas a previsão é de crescimento.
“Geralmente no fim de ano até o Carnaval temos 100% de ocupação. Acreditamos que a procura vai melhorar devido a esse fato lamentável”, pontua a gerente de hotelaria e turismo, Elizângela Alves.
Cancelamentos de pacotes já estão ocorrendo
Com as manchas de óleo no litoral do Nordeste e do Espírito Santo, já tem turista cancelando pacotes fechados para os locais afetados.
É o caso da aposentada Regina Silva, 73, que preferiu cancelar a viagem marcada para uma praia no Sul capixaba, embora as manchas tenham chegado apenas à região Norte do Estado.
“A gente não tem garantia de que o óleo não irá para lá também. Por isso, preferi cancelar”, conta. Ela já tinha quitado 30% do pacote e, agora, negocia o reembolso.
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (Abav-MG), Alexandre Brandão, diz que não há um movimento de cancelamentos no Estado.
Segundo ele, não é possível dizer que houve queda na procura pelo litoral nordestino. “Quem ainda vai contratar deixa para comprar na semana da Black Friday”, diz.
Conforme Brandão, entre as tendências para o final do ano estão os cruzeiros e a Argentina, devido à facilidade do voo direto.
Fluxo é alto nos destinos históricos
Apesar da baixa temporada, o número de turistas cresceu em Tiradentes, no Campo das Vertentes, nos últimos dias. Mas o secretário municipal de Turismo e Cultura, Henrique Rohrmann, não relaciona a alta ao óleo no litoral.
“Atribuo mais ao trabalho de divulgação do nosso destino, feito com a parceria privada, com o lançamento do Natal Iluminado”, diz, citando também a alta do dólar, que reduz viagens para fora do país.
Em Ouro Preto, na região Central, uma pesquisa vai apontar se o desastre provocou impactos. Segundo o secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Felipe Guerra, a cidade tem “ficado muito cheia” desde antes do vazamento.
“Com muita tristeza vivemos essa mancha de óleo no litoral. Para fora, é um marketing muito negativo para o turismo no Brasil”, pontua.
Saiba mais
Segundo o Procon-SP, o consumidor tem direito de cancelar ou remarcar, sem multa, pacotes de viagens e serviços de hospedagem nas praias atingidas pelo óleo
Outro lado
Já o Fórum de Procons do Nordeste diz que qualquer cancelamento sem incidência de multa só é possível “nos casos em que exista nexo de causalidade entre os serviços contratados e o pedido de cancelamento”