Em um ano, o valor da cesta básica aumentou 30% e já se aproxima de R$700 em Belo Horizonte. Desde março de 2021, o custo com insumos primordiais para a alimentação das famílias subiu R$143,09, conforme pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) da UFMG.
Estudo divulgado nesta terça-feira pela entidade aponta que o valor cresceu pelo quarto mês seguido e, ao final de março deste ano, foi de R $695,41 - o maior desde o início da série histórica em 1994 e consumindo 57% do salário mínimo de R$1.212 pago no Brasil. Ao final do primeiro trimestre de 2021, o preço para a compra de itens como arroz, feijão, açúcar, leite e outros ingredientes presentes na alimentação diária estava em R$552,32.
Os principais produtos que têm pesado o orçamento na hora das compras no supermercado e sacolão são o tomate santa cruz, produto que encareceu 29,9% entre fevereiro e março, a banana caturra, com alta de 23% e o pão francês, cujo valor do quilo subiu 5,81% sob impacto do desequilíbrio do trigo no mercado internacional após início da guerra na Ucrânia.
Outro produto que teve a precificação atingida com o conflito no leste europeu foi o óleo de soja. O estudo do Ipead aponta uma inflação de 18% em março. O preço do feijão carioca subiu 6,33%, enquanto o leite saltou cerca de 6,60%.
“Desde dezembro o valor da cesta básica está subindo muito e atingiu esse valor bem elevado em insumos básicos de consumo em termos de alimentação”, ressalta o gerente de pesquisa do Ipead, Eduardo Antunes.
Ele lembrou que a inflação sobre alguns produtos, como o feijão, ocorreu mesmo após o governo federal zerar impostos de importação. “É preocupante ver variações assim em um espaço tão curto de tempo. E aparentemente não há nada que se faça para desacelerar esse ritmo”, acrescenta Antunes.
O pesquisador lembra que a alta observada em frutas e legumes refletem ainda o intenso volume de chuva registrado no final de 2021 e início de 2022. Além da questão climática, que impactou e diminuiu a produção nas lavouras, ainda há consequências econômicas causadas pela pandemia.
“Quem ganha menos está sofrendo bem mais porque fica difícil absorver os impactos de itens mais básicos. É uma perda orçamentária bem significativa para manter o consumo”, complementa. Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) mostra que, com o atual valor da cesta básica, o salário mínimo do trabalhador brasileiro deveria ser R$ 6.012,18.
Compras reduzidas
Com os reajustes de preços nas gôndolas dos supermercados, a doméstica Jandira Silva, de 66 anos, afirma que precisou reduzir o volume de compras. Ela ressalta que os produtos que mais têm pesado no orçamento da família são as verduras, carne e leite.
“De fevereiro para cá eu não fiz a compra que eu estou acostumada. Comprava três caixas de leite e comprei só uma. Conseguia comprar carne para o mês todo, e agora foi para a metade do mês porque não tive condições”, relatou Jandira que mora com a filha, de 28 anos.
A doméstica disse que também reduziu o consumo de legumes. “Batata dá para comprar no máximo uns dois quilos, tomate só três ou quatro. Não dá para comprar muita coisa, o que dá para cortar a gente não corta de tudo, mas pela metade", contabiliza.
Coordenadora institucional do Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais, Solange Medeiros afirma que o cenário atual é semelhante ao vivenciado em meados de 1990, com a hiperinflação vivenciada no Brasil.
“É um aumento absurdo, a gente voltou a fazer práticas de 25, 30 anos atrás de trocar marcas preferidas e deixar de fazer uso de determinados alimentos porque ficaram com preços impossíveis”, lamenta Medeiros.
Solange ainda lembra que com o atual valor a cesta básica consome mais da metade do valor do salário mínimo. “Vamos ter de ir driblando os aumentos até as coisas ficarem mais equânime de acordo com o que as pessoas ganham. Em tempos difíceis assim o consumidor não tem outro instrumento, senão apertar as cordas de todos os lados”, acrescenta.
Gasolina pressiona custo de vida
O levantamento feito pelo Ipead também aponta que o custo de vida, em março, subiu 1,39%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A pesquisa aponta que a gasolina comum foi o insumo que mais pressionou o orçamento familiar em Belo Horizonte com alta de 7,11% em março. Vale lembrar que em 10 de março, a Petrobras anunciou um mega reajuste no valor dos combustíveis no Brasil.
A gasolina subiu 18,7%, enquanto o diesel foi elevado em 24,7%. “Os combustíveis são parte importante da cadeia de produção, são usados na distribuição de alimentos e isso causa um impacto significativo nos custos dos alimentos, e esses valores são repassados”, comenta Eduardo Antunes.
Na pesquisa feita seguindo o IPCA, a inflação foi mais significativa na alimentação em residências, com um arrocho de 2,73%, e no combo transportes, comunicação, energia elétrica, combustíveis, água e IPTU em que o percentual foi 1,91%.
*Colaborou Manuel Marçal