Nova pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (22) mostra que a população abaixo dos 30 anos no Brasil diminuiu 5,4% entre 2012 e 2021. O recorte evidencia a discussão acerca da Previdência Social, diante de uma população que envelhece cada vez mais e deixa de contribuir para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 

Ao mesmo tempo, o levantamento mostra que a parcela de pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população entre 2012 e 2021. De modo geral, o número de brasileiros aumentou 7,6% no período, chegando a 212,7 milhões, conforme o IBGE.

“Quanto mais as pessoas envelhecem, mais elas vão gozar dos direitos previdenciários, a aposentadoria. Isso, de fato, gera um ônus muito grande para o sistema como um todo. Estamos tendo a inversão da nossa pirâmide demográfica: cada vez mais, vamos ter a base, formada por crianças e jovens, menor com o topo (os adultos e idosos) maior”, diz o analista do IBGE em Minas Gerais, Alexandre Veloso. 

Dito isso, como resolver a questão? Para o professor adjunto do Departamento de Ciências Econômicas da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Face-UFMG), Mário Rodarte, o Brasil precisa aprender com outros países para garantir a aposentadoria para todos no futuro. Ele lembra que esse processo de inversão da pirâmide etária já foi vivido por diferentes países desenvolvidos.

“Quando a gente analisa os dados de mercado de trabalho, o que nós vamos observar é que o trabalho tem se tornado cada vez mais escasso e também tem sido muito subutilizado. Está certo que o desemprego reduziu, principalmente no último mês divulgado, mas ainda assim é uma taxa muito elevada. Os salários estão baixos, e a produtividade do trabalho também está baixa por conta, inclusive, do fechamento de algumas empresas de mais alta tecnologia”, diz o especialista. 

Para ele, a experiência de outros países mostra que o Brasil precisa investir em postos de trabalho de melhor qualidade para aumentar as contribuições para o INSS. “A gente tem que retomar a agenda de políticas industriais e aumentar o investimento público e privado para que se gere bons postos de trabalho. Tendo isso, os jovens poderão voltar às atividades mais interessantes e gerar uma riqueza que possa dar conta das várias necessidades dessa sociedade, inclusive de aumentar os recursos da Previdência”, afirma Mário Rodarte, da UFMG.

Outra sugestão do professor é melhorar os postos de trabalho para as pessoas idosas. Assim, elas ficam mais tempo no mercado, contribuem mais e adiam a aposentadoria. “Com postos de trabalho de alta qualidade e menores jornadas, que exijam menos esforços físicos, eles podem produzir mais e, com isso, contornar esse desafio do processo de envelhecimento”, completa.

Para o economista Vinícius de Castro, o Brasil é um País que se torna "velho antes de ficar rico". "Iniciativas como educação financeira, planejamento familiar, planejamento de carreira, educação continuada... Todas essas palavras devem entrar no nosso cotidiano, tendo em vista que será cada vez um desafio individual garantir os ganhos na aposentadoria", diz o professor de mercado de capitais da PUC Minas.

Dependência dos idosos em alta

A pesquisa do IBGE também apontou a razão de dependência demográfica da população do país, medida que ajuda a compreender o peso do segmento etário considerado economicamente dependente sobre o grupo potencialmente ativo. A razão de dependência pode ser separada em dois grupos etários considerados dependentes economicamente: o de crianças e adolescentes (de 0 a 14 anos) e o das pessoas de 65 anos ou mais de idade.

Com o envelhecimento da população, os resultados desse indicador vêm mudando nos últimos anos. A razão de dependência de jovens passou de 34,4 crianças e adolescentes por 100 pessoas em idade potencialmente ativas, em 2012, para 29,9, em 2021. Já a razão de dependência dos idosos aumentou de 11,2 para 14,7 no mesmo período.

Cresce população preta e parda

O levantamento do IBGE mostra, ainda, que em 10 anos, a população que se declarou preta cresceu 32,4% e a parda, 10,8%, taxas superiores  ao crescimento da população total do país (7,6%). Já a parcela que se declarou branca ficou estável.

Dessa maneira, entre 2012 e 2021, cresceram as participações das pessoas autodeclaradas pretas (de 7,4% para 9,1%) e pardas (de 45,6% para 47,0%) na população do País. Já a participação dos que se declaram brancos caiu de 46,3% para 43%.

"A gente considera isso positivo. Não houve, de fato, um aumento deste contingente. Ele já era mais ou menos esse. Mas, mais gente passou a se declarar como parda ou preta nesse período de 10 anos. Com isso, a gente vê que os movimentos sociais de afirmação fazem com que as pessoas, que antes tinham receio ou vergonha de se autodeclararem, estão perdendo isso", diz o analista do IBGE, Alexandre Veloso.