Falência múltipla

Rastro de demissão e incerteza  

Juiz de Fora lamenta mais desemprego; Petrobras frustra Triângulo Mineiro

Por Queila ariadne / ludmila pizarro
Publicado em 03 de abril de 2016 | 03:00
 
 
 
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Juiz de Fora, Montes Claros e Uberaba. Os impactos negativos não acontecem apenas quando uma indústria fecha, mas também quando ela diminui a produção ou nem chega a abrir. Na região da Zona da Mata mineira, Juiz de Fora se prepara para a demissão de cerca de 900 funcionários em junho deste ano. “A Mercedes-Benz vai parar de fabricar caminhão. Já fizemos de tudo para salvar os empregos: férias, lay-off. Mas em junho acaba, e serão todos demitidos”, diz o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) Regional Zona da Mata, Francisco Campolina. A fábrica não vai fechar, mas vai resumir sua produção à lataria dos veículos.

Na região do Triângulo Mineiro, Uberaba lamenta a decisão da Petrobras de desistir da planta de amônia que estava sendo construída no distrito industrial da cidade. “Ela se mostrou um fiasco e foi terrível para a economia. Nossa expectativa era termos 4.000 pessoas no canteiro de obras neste momento”, afirma o presidente da Fiemg Regional Vale do Rio Grande, Nagib Facury. “A fábrica de amônia é uma vergonha para o país, R$ 1 bilhão em investimentos jogados no lixo”, declara o prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB).

Guerra fiscal. As diferenças de cobrança de ICMS entre os Estados afugentam fábricas de Minas e postos de trabalho. “Em Rio Novo (RJ) até o ano passado, 196 novas indústrias abriram. Em Juiz de Fora foram só quatro no mesmo período”, conta Campolina. A distância entre as duas cidades é de cerca de 50 km. O ICMS no Rio de Janeiro para a maioria das indústrias é de 2%. Em Minas, a alíquota para os mesmos setores chega a 18%. E, em tempos de crise, esse alívio tributário faz a diferença. O industrial Heitor Vilella, da Sudeste Embabalagens, está há 50 anos em Juiz Fora, mas levou um dos seus galpões para o Rio de Janeiro. “Levamos porque os impostos são diferentes”, afirma. Em Minas, Vilella emprega 300 pessoas, mas 350 empregos foram transferidos para o outro Estado.

O empresário Anderson Cardoso Guimarães, da Agplast, indústria de frascos de plástico de Juiz de Fora, engavetou um projeto de uma nova fábrica no valor de R$ 40 milhões. “Estamos aguardando uma situação melhor. Em 2016, o ICMS passou de 12% para 18%, e esses 6% viraram custo para mim, porque não consigo repassar para os clientes. Estou estudando a possibilidade de abrir no Rio”, diz Guimarães.

Já o governo de Minas afirma, via nota, que a sua prioridade é a “padronização e democratização desses tratamentos (tributários) para tornar as empresas mineiras mais competitivas, diminuindo as desigualdades provocadas pela guerra fiscal”.

O presidente da Fiemg Regional Norte, Ézio Darioli, destaca que o custo é extremamente importante. “Como a indústria pode investir com os juros tão altos? Não dá para repassar, pois o consumidor também não tem recursos para pagar”, disse.

Já o presidente da Associação Comercial, Industrial de Montes Claros (ACI), Edilson Torquato, afirma que há três anos os juros em banco de fomento eram de 3% a 4% ao ano. Hoje são 15%. “Isso desestimula qualquer empreendedorismo. Basta andar pela cidade para ver a quantidade de placas de passa-se o ponto”, diz. Sérgio Peres é dono de uma loja no centro da cidade-polo do Norte. “É no melhor ponto comercial da cidade. Antes, tinha fila para alugar. Agora, já está fechada há dois meses.”

Fechamento

Em Minas. Segundo a Junta Comercial de Minas Gerais, nos primeiros 60 dias de 2016, foram fechadas 817 indústrias. No mesmo período de 2015, fecharam-se 349 organizações industriais. 

Falta planejamento do governo

Juiz de Fora, Uberaba. Falta planejamento estratégico por parte do poder público na avaliação dos industriais. “Temos um secretário de Estado da Fazenda que não é desenvolvimentista, ele é tributarista, só pensa em aumentar alíquota”, dispara o presidente da Fiemg Zona da Mata, Francisco Campolina.

Ele afirma que falta investimento em estrutura. “Fizemos uma solicitação ao governo para fazer uma alça, interligando a BR–040 e a BR–267. O secretário de Transporte, Murilo Valadares, disse que não tinha projeto. Ele que faça o projeto. Foi uma solicitação da Fiemg e de 32 prefeitos”.

Procurado, o governo de Minas disse que 52 obras estão sendo retomadas no Estado e que esses pleitos devem ser encaminhados para os Fóruns Regionais.

O prefeito de Uberaba, Paulo Piau, endossa que faltam políticas públicas para esses casos de atração de investimentos. Segundo ele, a falta de acordos tributários impede que o impasse da planta de amônia seja resolvido. Ele explica que a produção de fertilizante no Brasil sofre com a carga tributária, que faz o preço do produto nacional ser maior do que o do importado. Hoje, 74% do fertilizante utilizado no Brasil é importado. “O setor de adubos deveria ser considerado estratégico”, afirma o presidente da Fiemg Uberaba, Nagbi Facury.

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