INFLAÇÃO

Sequência de lockdowns na China atrasa entrega de insumos para indústria mineira

Principal problema diz respeito à oferta de componentes eletrônicos utilizados nos setores automotivos e de maquinários

Por Simon Nascimento
Publicado em 18 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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A política de zerar casos de Covid-19 na China, que paralisa algumas linhas de produção com os lockdowns impostos à população, impacta diretamente os setores da indústria em Minas Gerais que dependem de insumos e componentes que deixam a região do porto de Xangai - principal área portuária chinesa.

O país é o principal parceiro comercial do Brasil e também do estado. Um dos principais problemas apontados, até o momento, diz respeito à demora para o recebimento das mercadorias com destaque para componentes eletrônicos.

O prazo para desembarque no Brasil que antes ficava em torno de 45 dias, agora chega a 120 dias. Com um período maior, crescem também os custos envolvidos nas operações portuárias que vão refletir diretamente no preço final pago pelos consumidores em diversos produtos que dependem de matéria prima chinesa.

Um balanço da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) aponta que em abril, os preços das importações, em dólares, subiram 34,4%. Em contrapartida, houve um recuo de 6,9% no volume de importações feitas.

Secretário executivo do Fórum Minas-China , Pedro Leão explica que o problema afeta todas as cadeias produtivas com os custos adicionais com contêineres que permanecem no porto por mais tempo aguardando a liberação e taxas de importação.

“Um exemplo é de uma loja que importa capas de celulares da China. Ela vai ser sobretaxada e se a mercadoria permanecer parada, ainda tem uma taxa de manutenção em depósito”, detalha. Leão ressalta que a situação também afeta as compras de produtos feitos em e-commerces como Shein, Shopee e AliExpress.

“Impacta justamente por essa demora de enviar os produtos e os produtos que vêm da China vão ter um tempo de espera maior”, acrescenta Leão. Analista de Negócios Internacionais do Centro de Internacional de Negócios da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Priscila Ferreira destaca que o problema afeta principalmente as cadeias mais dependentes de componentes eletrônicos.

Exemplos são a automotiva, energia e de máquinas, que dependem de chips para finalização da linha de produção e entrega ao mercado. No caso dos automóveis, o problema é agravado já que a crise para aquisição de semicondutores é enfrentada desde 2021.

“Não é uma questão específica de setor. É questão de componentes eletrônicos mesmo. Quanto mais tempo fica parado no porto, além do custo de armazenagem que pode ultrapassar o preço da própria mercadoria, causa um desconforto e necessidade das empresas de readaptar a produção”, ressalta. 

Apesar do impacto já observado na economia brasileira, a analista projeta uma melhora a partir do segundo semestre. “Existe a possibilidade de melhora que não sabemos se vai ser convertida em redução de custos aos consumidores. O que vamos ter é uma disponibilização maior de insumos", observa Ferreira. 

Priscila ainda ressalta que apesar do impacto nas importações, as exportações de commodities agrícolas como soja e açúcar, além de carnes, não sofrem impacto para liberação das mercadorias ao país chinês. 

Lockdown pode ter origem política 

O coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China e professor do curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas Evandro Menezes explicou que os lockdowns implementados pelo governo de Xi Jinping têm origem no interesse do atual mandatário chinês em se fortalecer politicamente.

Ao final deste ano haverá uma convenção do Partido Comunista e Jinping trabalha para ser reconduzido ao posto de secretário-geral da sigla. 

“Há uma preocupação do governo chinês em ter uma política bem sucedida de combate à Covid-19 para mostrar a superioridade do modelo de governança chinês em comparação aos países ocidentais”, assinalou. Além disso, a disputa comercial entre China e Estados Unidos também é pano de fundo para a medida.

“O governo chinês estabelece um contraste de como os Estados Unidos lidam com a pandemia. Virou um ponto de honra da política da China de não deixar que ocorra no país, o que aconteceu nos EUA em número de um milhão de mortes. É como se fosse um trunfo”, acrescenta. 

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