Pesquisa de preço

Volta às aulas: papelarias tentam recuperar prejuízos após ensino remoto

Material ficou mais caro em BH e, com aumento do uso de apostilas de sistemas educacionais nas escolas particulares, comprar livros usados se tornou mais difícil

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 24 de janeiro de 2022 | 15:28
 
 
 
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Com a iminência da volta às aulas presenciais, programada na rede pública e privada para o início de fevereiro em Belo Horizonte, papelarias ensaiam uma recuperação do prejuízo acumulado durante a pandemia e o período de aulas predominantemente remotas. Ainda assim, relatam que o lucro precisou ser achatado para comportar o aumento de preços dos fornecedores e preveem um janeiro ainda aquém da movimentação de antes da pandemia. 

João Paulo Azevedo, proprietário da livraria João Paulo II, na região da Savassi, estima que as vendas neste ano superem em 20% as de 2021, quando ainda não havia aulas presenciais previstas. “Conseguimos manter mochilas e lancheiras no mesmo preço para não repassar o aumento ao cliente, por exemplo. Tivemos estoque sobrando no último ano, mas precisamos renovar, porque é um segmento em que as pessoas buscam novidades”, diz. 

Uma das proprietárias da papelaria Crepom, no bairro Serra, Soraia Duarte, também diz esperar um lucro maior neste período de volta às aulas, porém abaixo do registrado no início de 2020. “Faz alguns anos que janeiro não é mais nosso melhor mês, e sim dezembro, com o Natal. Já é a última semana do mês e vendi metade do que costumo vender em janeiro. Acho que os pais estão deixando para a última hora por receio de o governo dizer que as crianças vão ficar em casa”, comenta a empresária. 

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG), Winder de Souza, diz que as escolas tentam reduzir ao máximo a lista de materiais, frente à inflação. “Sabemos que, presencialmente, o estudante precisa de mais material. Com o ensino virtual, eles não anotavam, só tiravam um print da tela, e o material era mínimo”, pontua. Não há impeditivo para o retorno às aulas presenciais do ensino básico em Belo Horizonte e, inclusive nas rede estadual e municipal elas estão previstas para o início de fevereiro.

Para economizar, a microempreendedora Mayra Oliveira, 33, compra os cadernos do filho, de 12 anos, no atacado com a irmã. “São modelos mais simples, nada de personagem. O restante do material devo ir comprando aos poucos quando vir promoções. No período de ensino remoto não precisamos comprar tanta coisa, porque não demandava muita escrita”, conta.  

Nesta segunda-feira, levantamento do site de pesquisa Mercado Mineiro aferiu o aumento de preços de praticamente todos os materiais escolares em relação ao início de 2020 — cadernos de 200 folhas chegam a custar 74% mais, de acordo com a lista. O levantamento mapeou dez lojas, a maioria delas de grande porte, como a livraria Leitura, enquanto papelarias menores, consultadas pela reportagem, estimam aumentos mais discretos.  

Escolas particulares aderem a apostilas e economia com livros usados diminui 

Com a crescente adesão das escolas às apostilas de sistemas de ensino, em vez de livros didáticos tradicionias, o mercado de livros usados tem minguado, na perspectiva de papelarias e livrarias. Uma livraria com três décadas de tradição no bairro Padre Eustáquio, por exemplo, fechou as portas devido a dificuldades na pandemia e ao gradual abandono dos livros didáticos pelas escolas. “Elas passaram a utilizar apostilas e a venda de livros caiu muito”, relata a empresária que assumiu o estoque do comércio.

Em outra papelaria, no bairro Nova Suíça, uma vendedora também atestou a progressiva queda da venda de livros. “As escolas ‘apostilaram’. Mas a venda de outros materiais escolares deve ser melhor que o ano passado, esperamos que a semana que vem tenha mais movimento", diz.  

O presidente do Sinep/MG, Winder de Souza, avalia que a pandemia impulsionou ainda mais a adesão das escolas às apostilas, no lugar de livros didáticos tradicionais, e que esse é um “caminho sem volta”. “Grande parte do material utilizado agora é descartável e faz parte de um sistema de ensino”, pontua. Como os estudantes anotam nas próprias apostilas, repassá-las é impraticável. 

A dona de casa Viviane Oliveira, 42, conta que havia conseguido economizar comprado livros usados para a filha de 12 anos em 2021, porém, agora, a escola aderiu às apostilas. “Fica o preço de comprar os livros novos Com os usados, a gente economiza 50%. Mas neste ano comprei bem menos material, porque vai dar para reaproveitar o do ano passado, que teve aulas remotas”, pontua. 

No sentido oposto da tendência de "apostilização", a livraria João Paulo II tem assistido ao aumento da demanda por livros usados, segundo o proprietário, João Paulo Azevedo. "Os livros usados estão chegando com aspecto de novo, já que os estudantes não os levaram para a escola durante o ensino remoto. Os usados permitem uma economia de 35%, 50% e ela se converte na compra uma mochila mais cara, em um caderno com capa de personagem, por exemplo”, conclui.

O Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) indica que os pais cobrem a realização de “feiras de livros didáticos usados” nas escolas que não  utilizam apenas apostilas de sistemas educacionais. “Em nome da economia para os pais e da preservação do meio ambiente, reforçamos a importância de conscientizar as escolas para que elas não exijam a aquisição da mais recente edição dos livros de disciplinas como matemática, sociologia, química e outras cujo conteúdo praticamente não muda  de um ano para o outro”, elabora Marcelo Barbosa, coordenador do Procon.

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