Prestes a se enfrentarem no segundo turno das eleições para prefeito de Belo Horizonte, o deputado estadual Bruno Engler (PL) e o atual chefe do Executivo, Fuad Noman (PSD), ainda trabalham nos bastidores para atrair o apoio de candidatos que saíram derrotados na primeira etapa do pleito municipal. 

Até agora, dos oito postulantes que ficaram fora da disputa, dois anunciaram que vão caminhar com Fuad, enquanto outros dois declararam que vão permanecer neutros. A campanha de Engler, por outro lado, já confirmou que dialoga com lideranças dos partidos de Mauro Tramonte (Republicanos) e de Luisa Barreto (Novo), cuja chapa terminou a eleição em terceiro lugar, com 15,2% dos votos. No entanto, até o momento, eventuais acordos entre eles permaneciam em aberto.

Os primeiros a se posicionarem sobre o segundo turno das eleições em BH foram os partidos dos deputados federais Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT), que terminaram o primeiro turno em quinto e sexto lugar, com 7,68% e 4,37% dos votos, respectivamente, e decidiram apoiar a reeleição de Fuad. 

As decisões das duas legendas foram anunciadas ainda na semana passada e ocorreram na esteira de um movimento do campo progressista para tentar frear a candidatura de Engler, que é apadrinhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, interlocutores apontam que Duda deve se manter distante da campanha e não fará aparições ao lado do atual chefe do Executivo municipal. Procurada, a campanha de Fuad não comentou sobre articulações com outras legendas.

O candidato do PL, por outro lado, afirmou, nesta segunda-feira (14), que “as formas de apoio estão sendo costuradas e em breve serão anunciadas”. Ele confirmou que está em negociação com o Republicanos, de Tramonte, desde a semana passada, mas o martelo ainda não foi batido. Segundo interlocutores, as articulações passam por acordos nacionais entre as legendas. “Se eles se somarem ao nosso projeto será de grande valia”, disse o candidato. 

O Partido Novo, por sua vez, também já sinalizou a intenção de caminhar com Engler no segundo turno, mas ainda estaria aguardando a confirmação de interesse por parte do candidato. “O Bruno ficou de entrar em contato para passar como podemos contribuir, mas essa ligação ainda não aconteceu”, informou o presidente municipal da legenda, Frederico Papatella.

Quarto colocado na disputa pela prefeitura de BH, com 10,55% dos votos, o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB) ainda não definiu apoio a nenhum dos candidatos, mas afirmou que mantém diálogo com as campanhas dos dois postulantes que permanecem na disputa. ““Estou dialogando. Em política não existe 'eu'. Existe 'nós'. E depois de uma votação dessas, sei que todo processo precisa ser muito conversado”, afirmou. O senador Carlos Viana (Podemos), que terminou em sétimo lugar, com 1% dos votos, também afirmou que está analisando a possibilidade de apoiar alguém. 

Especialista em comunicação e política, o professor da UFMG Camilo Aggio avalia que a formação de uma base ampla de apoio para o segundo turno pode ser fundamental na definição do pleito, mas esclarece que “atrair o maior número de apoiadores não é garantia de vitória”. “Apoios são importantes, mas a mera declaração de voto não resolve muita coisa. O engajamento na campanha, sim, pode ser determinante (para a transferência de votos)”, analisa. 


Fuad pode atrair maior parte dos eleitores de derrotados

No cenário de embate direto contra o deputado estadual Bruno Engler (PL), o atual prefeito de BH, Fuad Noman (PSD), pode conquistar a maior parte dos eleitores de cinco dos oito candidatos derrotados na primeira etapa da eleição municipal. Foi o que mostrou a sexta rodada da pesquisa DATATEMPO (TRE-MG: 08738/2024) 

O levantamento, realizado entre 23 e 27 de setembro (portanto, antes do primeiro turno), simulou cenários de confrontos diretos entre todos os candidatos que disputavam a Prefeitura de BH. Naquela ocasião, a pesquisa mostrava que, no embate entre o atual prefeito e o deputado estadual, Fuad teria 35,7% dos votos, contra 34,1% de Engler. Eles empatariam na margem de erro, que é de 2,83 pontos percentuais para mais ou para menos. 

O cenário de migração de votos mostrou que Engler só atrairia a maior parte dos votos de eleitores do senador licenciado Carlos Viana, que teve 12.712 votos no primeiro turno. Desse total, 35,1% iriam para o candidato do PL e 24,3% para o atual prefeito. 

Ainda nesse contexto, 53,7% dos que declaravam intenção de votar em Duda Salabert (PDT) migrariam para Fuad e 13,4% para Engler. No caso dos eleitores de Rogério Correia (PT), 52,8% iriam para o atual prefeito e 17% escolheriam o candidato do PL. Entre o eleitorado que preferia Gabriel Azevedo (MDB) no primeiro turno, 47,1% transferiria os votos para Fuad, enquanto 27,5% optariam por Engler. No caso dos que preferiam Mauro Tramonte (Republicanos), 33,3% votariam pela reeleição do prefeito e outros 24,5% ficariam com o deputado estadual. No caso de Indira Xavier (UP), 100% iriam para o atual chefe do Executivo.

A cientista política e analista de pesquisa da DATATEMPO Mariela Rocha esclarece que, apesar da vantagem de Fuad no cenário de migração de votos, “ a volatilidade do cenário eleitoral de segundo turno não pode ser subestimada”. O segundo turno não é uma mera continuidade do primeiro; trata-se de uma nova eleição, com novas dinâmicas de campanha e oportunidades de mudança no comportamento dos eleitores”, avalia.