BRASÍLIA - O segundo turno das eleições à Prefeitura de São Paulo termina neste domingo (27) com um cenário cômodo para o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição e tem uma boa vantagem sobre o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), segundo a última pesquisa do Datafolha.

Na véspera do segundo turno das eleições municipais, a mais recente pesquisa do instituo, divulgada neste sábado (26), mostrou que o atual prefeito está à frente com 57% dos votos válidos, em comparação a 43% do deputado federal.*

Os números dos levantamentos guiaram as estratégias de cada um: enquanto Boulos buscou, a todo momento, partir para o ataque e desconstruir uma imagem de “moderado” do adversário, Nunes adotou postura reativa.

Na largada, os dois divergiram sobre a realização de debates televisivos. O candidato do Psol chamou o rival de “fujão” e “covarde” por querer reduzir o número de confrontos diretos. Nunes argumentou que, historicamente, não se realiza mais do que três debates em segundos turnos na capital paulista.

O apagão rouba a cena

Já no fim da primeira semana de segundo turno, no dia 11 de outubro, um temporal na cidade provocou um apagão que atingiu mais de 3,1 milhões de pessoas na Grande São Paulo. O fornecimento de energia só foi totalmente restabelecido uma semana depois.

Guilherme Boulos explorou o fato para atacar Ricardo Nunes. Segundo o candidato, o prefeito foi o “pai” do apagão e a concessionária Enel, a “mãe”. Ele insistiu na responsabilidade da Prefeitura de realizar a poda das árvores e acusou o adversário de não ter feito esse serviço, fazendo com que milhares de árvores caíssem sobre fios elétricos.

Por outro lado, Nunes apontou a culpa para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, pois cabe à União reger o contrato de concessão da Enel. Ele acusou a atual gestão federal de ter sido conivente com a empresa e de ter atuado para renovar o contrato. Ambos os candidatos prometeram agir para “expulsar” a companhia de São Paulo.

Estagnado, Boulos recalcula rota

Percebendo que o apagão surtiu pouco efeito sobre o humor do eleitorado, que impunha a ele uma taxa de rejeição acima de 50%, Guilherme Boulos adotou diversas estratégias na reta final da campanha.

Na tentativa de conquistar eleitores que no primeiro turno votaram em Pablo Marçal (PRTB) e têm uma afinidade ideológica maior com Nunes, o político do Psol direcionou parte de seu discurso para microempreendedores. Incorporou uma proposta de Tabata Amaral (PSB) que era voltada para esse público e fez um “mea culpa”: admitiu que, por muito tempo, o campo da esquerda deu pouca atenção a essa fatia do eleitorado.

O empreendedorismo também ganhou destaque na “Carta ao Povo Paulistano”, publicada pelo deputado do Psol para tentar reduzir sua rejeição. Foi uma reedição de uma estratégia utilizada por Lula na campanha presidencial de 2002, do qual saiu vitorioso.

A ausência de Nunes em alguns debates fez Boulos realizar “debates na rua” - porém, na maioria das vezes, as perguntas vinham de seus próprios apoiadores. Frustrado pela ausência física de Lula, devido ao acidente doméstico sofrido pelo presidente, o candidato ainda buscou passar a noite na casa de eleitores e aceitou até mesmo ser “sabatinado” por Pablo Marçal após ter sido alvo de fake news do empresário no primeiro turno.

Enquanto isso, Ricardo Nunes contou com uma presença protocolar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha, na última terça-feira (22). O protagonismo da campanha seguiu com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que o acompanhou em diversas agendas.

Nos últimos dias, o prefeito tem tentado evitar o clima de “já ganhou” e convocado seus eleitores a comparecerem às urnas, para evitar um aumento da abstenção. 

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*Pesquisa Datafolha: A pesquisa foi realizada nos dias 25 e 26 de outubro e inclui 2.052 entrevistados. Registrada na Justiça Eleitoral sob o código SP-01690/2024, apresenta uma margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e um nível de confiança de 95%. O levantamento foi encomendado pela Folha de S.Paulo e pela TV Globo.