A declaração do candidato a governador Alexandre Kalil (PSD) de que o governo de Fernando Pimentel (PT) é "indefensável" causou uma crise entre a campanha dele e o PT.

A sigla é a principal aliada do ex-prefeito de Belo Horizonte, que aposta principalmente no apoio do ex-presidente Lula (PT) para vencer a eleição.

Além disso, Kalil tem se apoiado principalmente em palanques petistas para fazer campanha no interior do Estado. Ele não tem o apoio da bancada federal do PSD, que apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL) e não quer subir no palanque do candidato de Lula.

Internamente no PT, a avaliação é que os mais incomodados com a fala de Kalil são os petistas mais próximos de Pimentel. No entanto, mesmo nas demais alas da sigla o entendimento é que o candidato a governador pelo PSD passou do ponto.

De certa forma, a crise tem origem na estratégia adotada pelo governador Romeu Zema (Novo) de criticar a gestão Pimentel e associá-la a Kalil, que se aliou ao PT.

As frequentes declarações de Zema obrigaram o ex-prefeito de Belo Horizonte a também criticar abertamente o governo Pimentel para se distanciar dele e evitar que a rejeição do ex-governador respingue na sua campanha. Em 2018, Pimentel, mesmo concorrendo à reeleição, sequer foi ao segundo turno.

O deputado federal Odair Cunha (PT), que foi secretário do governo Pimentel, classificou a fala de Kalil como "lamentável" e afirmou que ela revela "total desconhecimento" sobre a realidade do governo de Minas e as “circunstâncias históricas” em que o PT governou Minas Gerais.

Segundo o parlamentar, Kalil omitiu que Zema só regularizou o fluxo de caixa do governo estadual porque se beneficiou da suspensão do pagamento da dívida com a União, que foi possível graças a uma decisão judicial conseguida no final do governo do PT.

"Antes de falar bobagem, o nosso candidato deveria se informar com o seu companheiro de chapa, do PT, que colaborou ativamente para superação daqueles anos difíceis; Ao invés de atacar aliados, ele deveria demonstrar as mentiras do atual governo, que são muitas!", escreveu Odair Cunha em uma rede social. O vice na chapa de Kalil é o deputado estadual André Quintão (PT), que também foi secretário durante o governo Pimentel. 

 

A expectativa é que o presidente do PT em Minas Gerais, Cristiano Silveira (PT), e o coordenador do palanque Lula-Kalil, deputado federal Reginaldo Lopes (PT), atuem como “bombeiros” para colocar um ponto final na crise e evitar que ela se alastre nos próximos dias.

Questionado, Silveira disse a O TEMPO que qualquer questão relacionada à campanha e aos candidatos será tratada dentro da coordenação da campanha. “Reafirmo nosso alinhamento para a eleição de Lula e a derrota de Bolsonaro e de Zema em Minas Gerais”, declarou o líder petista.

Já Lopes considera que o desentendimento não vai atrapalhar a campanha porque a população quer saber o que os candidatos vão fazer se forem eleitos e não analisar um governo que terminou há quatro anos.

“Nós estamos em uma aliança. E a aliança se faz com quem pensa diferente. Então, nessa aliança o que nós priorizamos é o alinhamento do presidente Lula com o Kalil, na perspectiva da gente somar perfis diferentes para reconstruir o Brasil e Minas”, afirmou o parlamentar.

“O que o Zema faz é negar que ele é governo há quatros anos e que ele não deu nenhuma resposta aos problemas do Estado. Uma aliança se faz com pessoas diferentes. É evidente que há diferença entre o que pensa o Kalil e o que pensa o PT”, concluiu Reginaldo Lopes.

Após Kalil dizer na quarta-feira (24) que não iria "defender o indefensável", em referência à administração do ex-governador petista, Pimentel divulgou uma nota nesta quinta (25) na qual afirma que o comentário foi infeliz. 

"Ao longo de mais de 50 anos na militância política, aprendi que campanha eleitoral não é a melhor hora para criticar os aliados. Como estamos em busca de um mesmo objetivo, que é a eleição do Presidente Lula, vou permanecer em silêncio até um momento mais adequado", disse o ex-governador. 

Kalil volta a criticar governo Pimentel

Kalil cumpriu agenda de campanha na manhã desta terça-feira (25) na Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis). Nos momentos iniciais da reunião, ele voltou a tecer críticas à administração de Pimentel. "Não foi um bom governo? Não foi um bom governo", declarou aos integrantes da associação, com Quintão ao lado dele. 

Antes do início do encontro, Kalil falou com a imprensa e reconheceu que a fala dele “pode ter sido infeliz”. “Mas eu não estou afim de defender governo que não é o meu. Sabe por que o governador (Zema) está falando do governo passado (Pimentel)? Porque ele não tem o que falar do governo da prefeitura de Belo Horizonte”, disse o ex-prefeito e agora candidato.

“Nós temos que avisar ao governador do Estado para ele falar de saúde com o Kalil. De educação, com o Kalil. De infraestrutura, com o Kalil”, continuou. “É por isso que ele não vai no debate. Porque sabe que quem vai estar sentado no debate é o Alexandre Kalil. Não é o Fernando Pimentel”, afirmou Kalil.

De acordo com ele, o clima com o PT é excelente e  ele respeita a todos. “Se eu fiz o comentário, fiz porque o próprio presidente Lula disse que cabe ao PT defender o PT. Então não é o PSD que vai defender o PT. Respeito a nota do Pimentel. Ele tem direito da nota”, concluiu o candidato a governador.

Amagis

A Amagis tem feito uma série de encontros com os candidatos a governador de Minas. "A magistratura, neste momento, quer receber os candidatos, ouvir deles suas propostas, discutir e debater com eles. Absolutamente nada específico à carreira dos magistrados. Estamos muito mais preocupados com os rumos da democracia brasileira e que a cidadania seja plena. (Isso) É um papel dos juízes, ao lado do Poder Executivo", disse o presidente da associação, Luiz Carlos Rezende e Santos.

Já Kalil destacou a importância do Poder Judiciário. "A magistratura tem sido o baluarte da democracia. Nós vamos conversar sobre o risco que esse pessoal tá correndo porque tudo que se faz politicamente, todo tipo de covardia, são eles que resolvem. País sem Justiça forte não existe", afirmou o candidato.