Outrora apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), para quem fez campanha quatro anos atrás, o presidente do Conselho de Administração da Riachuelo, Flávio Rocha, agora diz que empresários não devem se manifestar sobre política, muito menos declarar voto.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada neste domingo (4), Rocha aconselhou outros empresários a omitirem opiniões públicas sobre a disputa presidencial durante o período eleitoral.

Flávio Rocha, que até então cobrava dos empresários brasileiros o contrário, recomendou que eles ‘fiquem na moita’ com relação ao embate polarizado pelo presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Eu dizia que os empresários tinham que sair da moita. Hoje eu já digo o contrário, para ficar na moita mesmo. É um momento difícil para a liberdade de expressão”, disse Rocha.

Rocha chegou a fazer pré-campanha para presidente da República, em 2018, pelo então PRB (que depois se tornou Republicanos) mas desistiu antes do período eleitoral começar. Na sequência, a legenda fechou apoio ao PSDB e o empresário decidiu apoiar Bolsonaro.

Flávio Rocha chegou a comparar Bolsonaro a um 'iceberg' 

Ainda na condição de pré-candidato à Presidência pelo PRB, Flávio Rocha comparou a candidatura do deputado Jair Bolsonaro, então no PSL, a um 'iceberg' no caminho do Brasil nas eleições de 2018

Em um vídeo gravado para o Colab Gov Summit, evento online com especialistas em gestão pública para discutir a melhoria do Estado brasileiro, o dono da Riachuelo disse que virou candidato por não ver alternativas viáveis no cenário eleitoral deste ano.

“Me senti como se habitasse uma confortável cabine de transatlântico de luxo às vésperas de se chocar com iceberg”, comparou.

“A diferença com o Titanic é que temos dois icebergs, o da extrema-direita e o da extrema-esquerda. O iceberg da direita, que nos ameaça de forma evidente como vemos nas pesquisas, nos remete a um passado nada alvissareiro, sem compromisso com a Democracia”, completou, fazendo uma referência ao Bolsonaro, que àquela altura lidera as pesquisas de intenção de voto quando retirado o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou impedido pela Justiça de disputar a eleição.

Flávio Rocha discutiu com Ciro Gomes há uma semana

Na última segunda-feira (22), o candidato à presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, defendeu uma presença maior do Estado na economia ao discutir com o empresário Flávio Rocha, em encontro com varejistas no Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, em São Paulo.

No evento, Ciro foi questionado pelo dono da Riachuelo, que chamou de “pesadelo” a intervenção do Estado sobre o mercado e defendeu o estado mínimo. O pedetista respondeu dizendo que todos os países desenvolvidos cresceram com forte investimento estatal em infraestrutura.

“Me responda, qual foi a nação do planeta Terra que lançou sua infraestrutura sem investimento do governo? Qual nação atingiu qualquer que seja o nível de maturidade tecnológica sem a presença pioneira do Estado?”, questionou.

Flávio Rocha interrompeu, afirmando que nos Estados Unidos, a participação do Estado foi mínima. Logo depois, Ciro retrucou.

“Você não ouviu o que eu falei? Isso aqui se chama celular, quem criou foi o DARPA, uma agência estatal americana. Quem criou a internet que estamos usando aqui foi o exército americano. Toda a tecnologia, toda a robótica é complexo industrial militar americano. Tudo isso está muito bem difundido pra iniciativa privada, mas nenhum domínio nem na química, nem na biologia, nem na farmácia, nem na mecânica, foi feito pela iniciativa privada.”

Em seguida, o empresário questionou Ciro sobre a vacina da Pfizer para a covid-19. De acordo com o candidato, a pesquisa para desenvolver o imunizante também foi financiada pelo governo americano.

“Tu não sabe não, quem pagou a pesquisa da covid-19 foi o estado americano? Por favor, Flávio, desintoxica. Vamos raciocinar juntos. Você acabou de citar a vacina, a vacina foi feita com inversão poderosa do tesouro americano”, afirmou.

No encontro, Ciro Gomes ainda defendeu uma reforma tributária, com a criação de um imposto sobre grandes fortunas. A ideia é criticada por setores do empresariado e foi classificada por Flávio Rocha como ultrapassada.

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