O apoio do governador reeleito Romeu Zema (Novo) à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2º turno contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está encaminhado. O acordo pode ser firmado nesta terça-feira (4), quando Zema se reunirá com o presidente da República em Brasília. O apoio do governador é tratado como fundamental pela campanha de Bolsonaro para reverter o quadro em Minas Gerais, onde Lula, com 48,29% dos válidos, abriu 563 mil de vantagem no 1º turno.

Embora tenha sido comedido ao se pronunciar logo após ser reeleito, Zema admitiu, nesta segunda (3), que é provável que o apoio seja oficializado nos próximos dias. “Estamos aqui com as conversas bem adiantadas”, admitiu, em entrevista à GloboNews. “As conversas que nós tivemos hoje estão caminhando muito bem e é provável que amanhã (4) ou depois (5) a gente já anuncie um apoio ao presidente. Apoiar o PT, de forma alguma”, reiterou o governador, que já havia rechaçado apoiar Lula durante a campanha.

Ainda alinhado ao tom da campanha, Zema afirmou que haveria o “PT da coincidência”, quando atribuiu a boa avaliação dos governos de Lula ao boom das commodities e à descoberta do pré-sal, e o “PT da realidade”. “Eu lembro que o PT destruiu Minas e destruiu diversas cidades relevantes, como Uberlândia e Pouso Alegre. De certa maneira, o mineiro e certas regiões já estão vacinados contra o PT, porque sabe que a gestão PT é uma gestão que vai trazer problemas seríssimos”, avaliou.

Apesar de ter reconhecido o voto casado em si e em Lula, Zema ponderou que há também eleitores que votaram tanto nele quanto em Bolsonaro. “Infelizmente, essas regiões de Minas menos desenvolvidas ainda há muito esse assistencialismo”, questionou ao se referir ao “Luzema”. “À medida que esse desenvolvimento for avançando e é o que nós estamos fazendo aqui, o assistencialismo, que é necessário em um momento difícil, mas não como algo eterno, vai começar a perder espaço.”

Em entrevista ao Café com Política, da Rádio Super 91,3 FM, o vice-governador eleito Mateus Simões (Novo) foi mais prudente. Simões também rechaçou apoio ao PT, mas pontuou que qualquer decisão deve ser tomada alinhada ao Novo. “Para nós, é muito importante, especialmente por esse acirramento da polarização nacional, que a gente não crie um novo cisma dizendo ‘ah, eu vou sair aqui fazendo o que eu quiser e problema do partido’. Não”, afirmou. O Novo liberou os filiados para que se posicionem no 2º turno.

Há quatro anos, Zema causou desconforto no Novo quando, no último debate antes do 1º turno, na Rede Globo, pediu votos a Bolsonaro ao fazer as considerações finais. À época, o candidato do Novo era João Amoêdo. “Aqueles que querem mudança, com certeza, podem votar aí nos candidatos diferentes, que são o Amoêdo e o Bolsonaro.”

Apoio do PL na ALMG pode ser moeda de troca

O alinhamento do PL ao governo Zema na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) é um dos pontos a serem costurados para selar o apoio. “O governador quer contar com o PL na Casa e deve fechar o apoio (a Bolsonaro) nesta semana. Está havendo uma construção para o apoio. Acredito que possa ser selado amanhã (4), mas não é certo”, disse o deputado estadual Bruno Engler (PL), que confirmou a reunião em Brasília.

Engler, que, ao lado do deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL), se firmou como um dos principais interlocutores de Bolsonaro em Minas, ainda admitiu que se decepcionou quando Zema não anunciou o apoio logo após a apuração. “A gente esperava que, de pronto, ele apoiasse o presidente. Fiquei decepcionado no primeiro momento, mas depois entendi que o governador quer uma parceria nas eleições e o PL ao seu lado na Assembleia”, avaliou.

A coligação encabeçada por Zema, que reuniu, além do Novo, PP, Podemos, Agir, Avante, PMN, Solidariedade, Patriota, Democracia Cristã e MDB, elegeu 22 deputados. O Novo estima que, se somados parlamentares aliados de partidos que não integraram a coalizão durante a campanha, a base de governo pode ultrapassar 40 deputados. Os nove deputados eleitos pelo PL dariam maior sustentação ao bloco.

A contrapartida não seria um problema, já que alguns dos deputados liberais já apoiam Zema. Um deles é Gustavo Santana (PL), filho do presidente estadual do PL, José Santana, que, durante a campanha à reeleição, esteve ao lado do governador em determinadas agendas. Outro é o vice-presidente da ALMG, Antônio Carlos Arantes. 

Candidatura de Zema à presidência pode ser colocada na mesa

Conforme apurou O TEMPO, há a hipótese de que um eventual apoio de Bolsonaro a uma possível candidatura de Zema à presidência em 2026 possa ser colocado sobre a mesa. Questionado, Engler afirmou que, até o momento, não escutou nada a respeito. “2026 está bem longe”, lembrou. “Uma candidatura dependeria ainda de um bom segundo mandato. Ele é governador de Minas. Se fizer dois bons mandatos, naturalmente se apresenta como candidato”, considerou. 

Durante a comemoração do resultado das urnas no comitê central de campanha, Zema foi saudado com gritos de “Zema presidente” por apoiadores. Ao responder, Zema agradeceu. "Se nós tivermos esse segundo governo muito bom, quem sabe?", brincou, sendo acompanhado pelo coro "Brasil, pra frente com Zema presidente".

Ao ser questionado nesta segunda, Zema apontou que o foco é “continuar ajustando” Minas Gerais. “O meu foco é continuar ajustando Minas Gerais. Eu, que venho do setor privado, até cinco anos atrás, sequer tinha passado pela minha ideia ser político e governador. Temos muito ainda o que fazer apesar dos avanços. Temos que aguardar. Não sei se vou estar vivo lá na frente”, se esquivou.