Geralmente a parte que o espectador mais detesta naqueles filmes sobre doenças terminais - e que interrompem a felicidade de um casal no auge de sua paixão - é a representação da dor, manifestada, principalmente, em cenas muito dramáticas, cheias de choro e comiseração.

O truque que "Todo Tempo que Temos" usa para evitar cair neste estigma é justamente a subtração. Não vamos ver Florence Pugh e Andrew Garfield chorando aos borbotões após ela descobrir estar com um câncer em nível avançado (algo que já ficamos sabendo com menos de 5 minutos de filme).

A forma como o diretor John Crowley se desvia desse chororô é muito inventiva, a partir de uma narrativa não-linear, indo e voltando no tempo de maneira aparentemente aleatória. É possível perceber três linhas temporais: de quando se conhecem, da notícia do câncer e, por último, da recidiva.

Com essa opção, o filme contorna aquela descida irrefreável das narrativas convencionais, quando o fato já está consumado e a história se detém em doces lembranças do passado conjunto. Esse momento de amargura, também para quem vê, é totalmente suprimido em Todo Tempo que Temos".

O que Crowley oferece é algo mais próximo do multiverso dos tempos atuais, com várias situações opostas acontecendo simultaneamente, em que as emoções podem mudar rapidamente de estado. No momento seguinte a uma notícia ruim, o casal surge rindo em algum instante do passado ou do futuro.


Desta forma, temos a subtração, em que as partes realmente chatas ou mortas, são descartadas em função desse vaivém temporal. O público demora um tempo para começar a entrar neste jogo e se sente partícipe da história, ao preencher mentalmente essa grande linha histórica da relação do casal.

A verdade, se olharmos mais detidamente, sem nos deixar envolver totalmente pela rápida sucessão dos acontecimentos, é que "Todo Tempo que Temos" é um sub-"Love Story" (1972), clássico dos filmes que misturam romance e doença na juventude. 

O custo dessa experiência "multiverso" é que os instantes de maior profundidade sobre os personagens são escassos. Garfield passa o filme inteiro fazendo caretas, enquanto Florence parece aceitar de forma artificial o fim da existência. Nessa subtração de Crowley, a família desaparece.

Não há rede de apoio, conversas jogadas fora, desabafos. Mesmo quando o par briga, tudo é muito calculado para não se criar tempos "mortos" para se refletir. Ao final, entre tantas dimensões, o filme parece nos sinalizar que a vida é igual para todos, sem qualquer particularidade que a distinga.