Quem vê as cadeiras antigas e desbotadas completando o cenário meio industrial da Estação Camargos, espaço gastronômico que ocupa a região Noroeste de Belo Horizonte, não imagina quanta história elas têm para contar. É que esses assentos são resquícios das arquibancadas do antigo Mineirão, aquele antes da reforma para a Copa de 2014 no Brasil. Porém, eles não são as únicas relíquias do espaço. Por lá, há um festival de achados, que vão desde enormes peças industriais que formam mesas, balcões e decorações, até bicicletas antigas, um carro, um ônibus e um vagão com carteiras escolares, numa espécie de restaurante aconchegante e estilizado. Mas, mesmo que exista muita coisa para ser observada no local – e fotografada pelos frequentadores – o que chama mesmo a atenção é uma figura verde vestida como Papai Noel.
É que, além dos vários objetos – todos escolhidos a dedo –, o espaço também é decorado de forma temática a cada dois ou três meses. E, desta vez, a decoração é natalina e conta com a presença e apresentações do Grinch e Cindy Lou Who, personagens do clássico filme que leva o nome do protagonista, eternizado por Jim Carrey. “A ideia para o espaço surgiu porque a gente queria fazer um lugar diferente, que proporcionasse uma experiência única para as pessoas. E as temáticas vieram também por isso e porque é um ambiente para toda a família. Então buscamos trazer esses temas que, na maioria das vezes, têm uma referência mais infantil”, diz a gerente Diana Isaías Rocha dos Reis, citando como exemplo o universo dos games, que também já foi explorado no espaço, e que agradou a criançada.
O chamariz infantil é tão forte – além do caráter mais “diferentão” – que fez com que o analista financeiro Flávio Medeiros, 34, escolhesse a Estação Camargos como local para apresentar à irmã, que tinha vindo do Maranhão para visitá-lo na capital mineira. “Aqui é um lugar diferente, temático, que atrai muitas crianças. Minha sobrinha, então, está superfeliz, não sabe para onde olhar”, conta ele, pontuando que a mudança nos temas também faz com que as pessoas queiram voltar mais. Irmã de Flávio, Cristiane Sousa Medeiros, 33, afirmou que a escolha do irmão valeu a pena. “Eu amei o lugar. É como eu estava falando, aqui tem muitos detalhes, a impressão é que a gente nunca termina de olhar tudo”.
Com lotação para 567 pessoas, a Estação Camargos possui diferentes ambientes e um cardápio variado, que inclui petiscos, porções com apresentações inventivas – como uma roda gigante de coxinha e um ônibus de batata frita, queijo e cupim desfiado –, chope, drinks temáticos, sobremesas e sorvetes. Aliás, foi como uma sorveteria que o espaço surgiu, ainda em 2020, pouco antes da pandemia. “Depois inauguramos o espaço da hamburgueria e continuamos trabalhando com delivery até a liberação em 2021”. O empreendimento foi se expandindo até chegar ao que é o hoje. Funcionando como uma espécie de praça de alimentação, com opções e ambientes variados, o empreendimento ainda pretende incluir mais variedade no cardápio em breve, incluindo um restaurante de comida japonesa.
Receitas de família e inspiração fantástica
Como seria a saga de "Harry Potter" tivesse como cenário Belo Horizonte? A resposta para essa pergunta pode estar, pelo menos um pouquinho, no Cachorro Sinistro. A cafeteria, aconchegante como a sala de uma casa, está localizada no Funcionários e imagina como seria um estabelecimento voltado para os bruxos - o que inclui também referências a filmes como “Hocus Pocus” e o musical “Wicked”, além de referências a figuras do folclore brasileiro como Iara, o Saci e a Mula Sem-Cabeça. Mas a inspiração principal é mesmo o bruxinho criado por J.K. Rowling. “Gosto de Harry Potter desde que eu era muito novo e sempre imaginei como seria esse universo no Brasil, um país que faz calor. Isso sempre ficou na minha cabeça”, conta o artista plástico Felipe Volponi, idealizador da casa e responsável por todo o projeto. Ele conta que embora existam referências ao Brasil nas obras da autora britânica, principalmente à Amazônia, ele quis trazer o universo para a capital mineira. “Quando a ideia surgiu, comecei a fazer todas as coisas, tudo superautoral. Criei uma identidade para o lugar, tanto para os personagens quanto para o jeito de atender, para as comidas. Aqui é um lugar que se for inserido em qualquer universo bruxo, ele se encaixa”, diz.
Mas, mesmo que a inspiração na magia transborde em detalhes que vão desde as imagens que decoram as paredes aos objetos que remetem à cultura ocultista da América Latina, a comida vem de receitas da família de Volponi. “Não temos salgados, mas oferecemos sete sanduíches que levam nomes de bruxos como Onilda, Morgana e Elvira. E cada um tem um recheio diferente, com receitas da minha família, que é italiana. Então há essa pegada, com pães de fermentação natural, sanduíches com ingredientes como pesto, presunto parma, frango reduzido”, explica. A relação com a família também fica presente no ambiente, que estampa algumas fotos dos antepassados de Volponi, além de emular uma espécie de sala de uma casa de bruxos, reforçando o desejo por um ambiente mais aconchegante.
Os doces trazem, porém, referências mais diretas ao mundo mais fantástico. Entre as opções há o dedo de fada e o famoso sapo de chocolate. Mas o grande destaque mesmo fica para a Frappeja Amanteigada, bebida que faz uma referência à cerveja amanteigada famosa na saga "Harry Potter". A receita, Volponi conta, foi buscada em Londres e adaptada para o clima brasileiro, tornando-se gelada e tendo a cevada substituída pelo café.
Inspirados em séries, espaços reconstroem famosos cenários da TV
Foi numa conversa enquanto jogava futebol com um amigo, que Rômulo Neto contou que tinha o sonho de abrir um bar temático em Belo Horizonte. No bate-papo, que tinha começado com comentários sobre o fechamento de bares e restaurantes na cidade por conta da pandemia, Rômulo contou que queria criar um bar que tivesse a vila do Chaves como tema. E, algum tempo depois, nasceu o Sô Madruga. O bar, que tem unidades na Pampulha e em Contagem, transporta o público diretamente para o seriado mexicano, sucesso na televisão brasileira.
Por lá, a vila é reproduzida de forma fiel – o que vai muito além do barril do Chaves. Há a escada para o segundo andar, as portas de Dona Florinda e da Bruxa do 71 e até mesmo um dos cenários da casa do Seu Madruga: a sala. O outro pátio, que compõe a vila e abriga o poço, também marca presença no estabelecimento.
“O pessoal entra aqui e se emociona”, conta Rômulo Neto, um dos sócios do Sô Madruga. “Teve uma pessoa cega que veio nos visitar e que gostava muito do Chaves. Ela contou que imaginava o cenário e que estava feliz por poder tocar e sentir como eram as coisas”, recorda ele, destacando o episódio como um dos mais marcantes entre as visitas ao estabelecimento.
Rômulo explica que a temática não fica restrita apenas ao cenário. Os pratos e drinks servidos no local também trazem como inspiração a produção da Televisa. “Temos a linguiça do Professor Linguiça, a Pança do Seu Barriga, além de hambúrgueres com os nomes dos personagens como Sô Madruga, Nhonho, e drinks como o Tapa da Dona Florinda e o Piripaque do Chaves, que é o mais pedido”, conta. Este último, inclusive, leva um ingrediente clássico da série: o suco de tamarindo.
Outro lugar que transporta o público para uma produção da TV estrangeira é o gastropub The Chris. Inspirada na série norte-americana “Todo Mundo Odeia o Chris”, o espaço, que tem duas unidades em Betim e uma em Contagem, reproduz cenários icônicos da série, como a sala de estar e de jantar da casa de Chris – com destaque para a poltrona do Julius –, e uma parte da Escola Corleone, onde o protagonista estuda.
Um dos sócios do empreendimento, Wênder Silva conta que a ideia para a casa surgiu quando ele precisava diversificar a renda. Com outro sócio, eles abriram a primeira unidade da The Chris, uma hamburgueria, em Betim. “A gente pensava que além da comida, a casa precisa ter um diferencial. E ‘Todo Mundo Odeia o Chris’ é uma série que tem muita identificação com o público brasileiro. Mesmo não sendo daqui, ela traz muitas similaridades com as famílias do Brasil. Então focamos na série por causa disso, por ela ter a capacidade de atingir todos os públicos. Todo mundo gosta, desde crianças a idosos”, fala.
Assim como a decoração do espaço, o cardápio também busca trazer referências à série. E é um sanduíche que ganha o nome da mãe de Chris, Rochelle, que fica entre os mais pedidos pelos clientes. “Ele é feito com brioche, blend bovino, cream cheese, maionese especial, bacon, cebola crispy e geleia de pimenta agridoce, que pega um pouco da própria personalidade dela, que apesar de ser um pouco apimentada, também é doce”, explica Wênder.
Além dos hambúrgueres, a casa também oferece outros tipos de pratos, há buffet, rodízios, petiscos, comida mineira, churrasco e porções.
Endereços
Estação Camargos (Rua Estér Augusta Ribeiro, 235 - Camargos)
O Cachorro Sinistro (Rua Alagoas, 601 - Loja 31 - Funcionários)
Sô Madruga - Unidade BH (Av. Fleming, 211 - Ouro Preto, Belo Horizonte)
The Chris - Unidade Contagem (Av. Babita Camargos, 1.295 - 3º Andar - Cidade Industrial, Contagem)