O Memorial Minas Gerais Vale, espaço que integra o Circuito Liberdade, vai passar por obras a partir de agosto deste ano. A expectativa é que, quando reabrir, o museu apresente uma estrutura renovada, incluindo novas atrações temporárias e permanentes, alinhadas a uma proposta museológica atualizada. A previsão inicial é que a reforma se estenda até meados do segundo semestre de 2025, mas a data não é posta como definitiva, uma vez que eventuais surpresas podem atrasar a conclusão dos trabalhos.
“Queremos dar mais visibilidade à edificação, fazendo dela parte do acervo, de forma que, quando a gente retirar o material que atualmente ocupa o equipamento, talvez seja preciso revisar esse processo de restauro”, detalha o gestor do museu, Wagner Tameirão, reconhecendo que o valor investido no projeto, financiado por meio de renúncia fiscal via lei de incentivo à cultura, ainda não foi fechado.
Durante o período em que estiver fechado, o Memorial Minas Gerais Vale continuará em atividade, apresentando exposições e ações culturais e educativas itinerantes, que vão percorrer Belo Horizonte e outras cidades mineiras. Em agosto, uma exposição imersiva dedicada a Leonardo da Vinci, expoente do Alto Renascimento, marca a abertura de tais ações.
Na atual formatação, o prédio segue aberto para visitação até o dia 27 deste mês, quando ocorre a tradicional virada criativa “Boa Noite Memorial”, com 12 horas de programação ininterrupta tanto na Praça da Liberdade quanto no interior do museu, incluindo shows, performances, intervenções, apresentações teatrais e ações culturais e educativas. Além disso, entre os dias 17 a 25 de julho, o equipamento funcionará em horário estendido, das 10h às 21h nas quartas, sextas e sábados e até as 22h nas quintas, permitindo, assim, que o público se despeça das instalações e obras que ocupam as salas e galerias presentemente.
Do conteúdo hoje exibido no museu, Tameirão explica que os acervos das salas Celebrações, Jequitinhonha e Sebastião Salgado serão recolhidos em reservas técnicas, podendo ser usados em novas exposições no futuro. “Parte das peças do Jequitinhonha será doada para outras instituições e os materiais cenográficos serão descartados”, detalha, lembrando que o espaço, em sua forma atual, continuará disponível para visitas virtuais.
Intervenções
A obra de requalificação do Memorial Minas Gerais Vale é assinada pelo escritório MaCh Arquitetos, nome por trás de projetos como a Galeria Yayoi Kusama, inaugurada no ano passado no Inhotim. Por se tratar de uma edificação tombada a nível estadual e municipal, todas as intervenções serão acompanhadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e pela Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público de Belo Horizonte (DIPC), ligada à Secretaria Municipal de Cultura.
Sobre a nova empreitada, o arquiteto Fernando Maculan antecipa que, com as mudanças, os dois primeiros pavimentos do prédio serão destinados às salas de exposições permanentes. Nelas, o prédio em si deve ser parte do acervo e da experiência de visitação, recuperando a edificação em seus espaços, proporções e materialidades.
“As salas de exposições temporárias serão instaladas no último pavimento do prédio, permitindo maior integração na montagem das exposições e infraestruturas. O auditório será completamente reformulado para receber espetáculos e eventos de forma mais eficiente”, complementa o profissional, premiado, em 2023, pelo projeto “A Casa no Pomar do Cafezal”.
Pesquisa e expografia
O novo conceito expositivo do museu foi construído a partir da pesquisa desenvolvida pelas escritoras e pesquisadoras Heloisa Starling, professora titular do departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Lilia Schwarcz, eleita, neste ano, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Juntas, elas ganharam o 61º Prêmio Jabuti na categoria Livro do Ano com a obra “Brasil: uma biografia”.
A expografia, como é chamado o conjunto de técnicas para o desenvolvimento de uma exposição, é de responsabilidade de Isa Ferraz e Marcelo Macca – que assinam, entre outros projetos, o eixo curatorial do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A nova proposta, explica o Memorial Minas Gerais Vale por meio de nota, coloca o visitante como protagonista, trazendo um diálogo entre o ontem, o hoje e o amanhã a partir de uma mistura de obras de arte, objetos históricos e peças audiovisuais criadas especialmente para o espaço.
“O objetivo é desenvolver um museu como laboratório de experiências históricas, culturais, étnicas, raciais, de gênero e sexo, de classe, de religião. Um museu transversal que permita cruzar diferentes marcadores sociais e debater suas tensões. Um museu que seja uma convocação à reflexão”, reflete Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale.
Escuta
Lembrando que o projeto de requalificação vem sendo discutido há quase três anos, Wagner Tameirão assinala que o processo envolveu constante diálogo das equipes à frente de diferentes setores do equipamento. “Geralmente, os museus são feitos por partes. Vem alguém, faz a pesquisa. Depois, é feita a curadoria”, cita, indicando que a opção, neste caso, foi ir por outro caminho, reunindo o pessoal da museologia, pesquisa, curadoria, expografia, arquitetura, acessibilidade, design e tecnologia. “Isso gerou discussões, que levaram ao amadurecendo da ideia que tínhamos do projeto”, garante.
Para citar um exemplo de como se deu essa dinâmica, o gestor menciona que as historiadoras Heloísa Starling e Lilia Schwarcz imaginaram, a partir da pesquisa que desenvolveram, os eixos temáticos que seriam apresentadas nessa nova fase do museu. “O papel da Isa (Ferraz) e do Marcelo (Macca), então, foi extrair desse trabalho o que viraria conteúdo”, sinaliza.
“Queremos, com o projeto, trazer uma história de Minas para além do óbvio. Trazer também o Gerais, explorar mais a edificação, recuperando suas características originais, e ser um museu mais participativo, pensando uma programação que trouxesse um viés mais contemporâneo – o que reflete essa nossa vivência de 14 anos em atividade, em que dialogamos com as mais diversas linguagens artísticas”, resume Tameirão, para quem a nova proposta vai dialogar melhor com a vocação caleidoscópica do equipamento.
Itinerância
Enquanto o edifício-sede estiver fechado, o Memorial Minas Gerais Vale prevê uma série de atividades itinerantes. A primeira delas está marcada para agosto, quando será aberta a mostra imersiva “O extraordinário universo de Leonardo Da Vinci”, que já foi montada em Vitória, no Espírito Santo, e em São Paulo, no Museu da Imagem e do Som (MIS).
Em BH, a atração gratuita, que apresenta invenções, experimentos e criações artísticas do polímata, além de usar recursos de realidade aumentada, vai ocupar cerca de mil metros quadrados em oito áreas expositivas do Espaço 356, um complexo de entretenimento localizado na BR-356, próximo ao BH Shopping, em frente aos paredões da Serra do Rola Moça, que foi inaugurado neste ano com a mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo CasaCor Minas 2024.
Números
- Público. Inaugurado em 2010, o espaço já recebeu mais de 1,4 milhão de pessoas, de todos os Estados do Brasil e de outras nacionalidades;
- Atrações. Nesses 14 anos, foram realizados mais de 3.000 eventos e 106 exposições;
- Formação. No total, quase 9.000 escolas e grupos foram recebidos no equipamento, que atendeu cerca de 240 mil pessoas em visitas mediadas;
- Investimento. Por meio de 16 editais de promoção à cultura e a novos artistas, o Memorial Minas Gerais Vale distribuiu cerca de R$ 1,3 milhão desde sua abertura.
SERVIÇO:
O quê. Memorial Minas Gerais Vale
Onde. Praça da Liberdade, 640, esquina com Rua Gonçalves Dias, Funcionários
Quando. Quarta, sexta e sábado, das 10h às 17h30, com permanência até as 18h; quinta, das 10h às 21h30, com permanência até as 22h; domingo, das 10h às 15h30, com permanência até as 16h
Quanto. Entrada gratuita