Se a chave de comicidade fosse um pouco mais voltada para o inusitado, bem ao estilo do cinema independente americano, "Meu Filho, Nosso Mundo" seria um filme muito próximo de "Pequena Miss Sunshine" (2006). Ambos retratam famílias disfuncionais, em que todos os integrantes embarcam num road movie terapêutico pautado por confissões e entendimento das limitações de cada um.
No filme dirigido por Tony Goldwyn (o antagonista de "Ghost - Do Outro Lado da Vida"), em cartaz nos cinemas, essa viagem se efetiva na segunda parte, quando um comediante e o filho autista fogem (literalmente) para Los Angeles, onde o pai deverá ganhar a chance de sua vida num programa de TV. A situação não é muito diferente do que vemos em "Pequena Miss Sunshine", quando um integrante morre pelo caminho.
Nos dois casos, um grande mal-estar (fuga de um lado, morte do outro) acompanha os personagens, mas, ao mesmo tempo, esse elemento acaba os unindo de certa forma, agarrando-se a uma chance remota de algo positivo acontecer em meio ao caos familiar. Max, o pai vivido por Bobby Cannavale, faz o tipo loser, desde o início trocando os pés pelas mãos para defender a sua forma de cuidar do filho Ezra (William A. Fitzgerald).
Max e Jenna (Rose Byrne) estão separados e divergem sobre a melhor maneira de educar o garoto. A primeira parte do filme é dedicada a escancarar esses conflitos, que vão se ampliando até jogar os personagens na estrada.A partir de uma entrada mais efetiva do avô vivido por Robert De Niro é que "Meu Filho, Nosso Mundo " ganha força, quando todos deixam o orgulho de lado e passam a olhar para trás.
A jornada na estrada ganha essa contraposição: eles seguem em frente, mas cada vez mais são levados a repensar as atitudes construídas no passado. É um filme sobre um sentido mais largo em torno da compreensão, em que será preciso sair da tensão gerada na cidade para promover uma revisão forçada, fazendo os familiares abrirem olhos a partir do contato com outros modos de vida.
Esse despertar acontece após o encontro com alguns "anjos" pelo caminho, com a entrada de uma amiga de infância (a puerilidade) e uma freira (a tolerância), o que nos faz pensar como o filme de Goldwyn se fortaleceria se ampliasse essa segunda parte, questionando as rotulagens impostas pela sociedade. Diminuir os longos momentos em que o personagem de Cannavale faz stand-up não faria mal à narrativa.