Uma exposição que investiga 12 arquétipos femininos, construídos a partir de histórias que identificam e valorizam a mulher. É assim que Shalimar Campos Salles define a mostra que, a partir desta sexta-feira (6), ocupa uma galeria e o pátio interno do MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, no entorno da praça da Liberdade, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Intitulada “Mulheres de Aço”, a série de retratos, feita pelo fotógrafo e designer Rodrigo Câmara, apresenta um mosaico de perfis femininos que, diversos entre si, têm em comum a busca pela reconquista da própria identidade. “Sou cirurgiã dentista e a minha especialidade é a parte estética, tanto facial quanto odontológica. Ao longo desses 25 anos (de exercício da profissão), conheci histórias que se repetem, envolvendo as lutas diárias e o resgate (da própria autoimagem e autoestima)”, observa Shalimar, que assina a direção criativa da exposição.

“São histórias, por exemplo, de mulheres negras, que estão na luta, no processo de reconhecer seu lugar na sociedade, com todos os direitos e valores que elas têm; de mulheres grávidas, que muitas vezes abdica da mulher que ela é para se tornar uma nova pessoa, um novo ser, e, depois, precisam resgatar o seu ‘eu’; temos também a mulher trans, a mulher independente, que decidiu não se casar, não ter filhos, quebrar padrões criados pela sociedade”, complementa a diretora, assinalando que todas as modelos são pacientes dela, que, inclusive, se identificam com as histórias contadas, no projeto, a partir da imagem delas. 

“A gente vai até a última mulher, que é aquela que cospe a maçã: a Eva, que, na mostra, agradece, mas devolve a Adão a parte que lhe cabe, entendendo que ela não é, sozinha, a única culpada de todos os males da humanidade, que o Adão não era filho dela, não estava sob a tutela dela, que ele, na verdade, era inclusive mais velho, de forma que, se cabia a alguém defender o outro, talvez este papel coubesse a ele”, reflete Shalimar em relação à releitura da história da criação humana, que é, histórica e culturalmente, interpretada de maneira a imputar culpa ao feminino. “Então, na série, nós trabalhamos essa ideia da mulher que está devolvendo essa culpa que foi colocada nela, mas não é só dela”, acresce.  

Sobre a escolha, o Rodrigo Câmara lembra que a exposição tem caráter de arte, propondo, portanto, elementos provocativos. E as intervenções, prossegue ele, se restringem ao aspecto artístico. “Não realizamos nenhum tipo de manipulação digital nas imagens e o trabalho da maquiadora Fabiana Nardi também foi muito delicado e pontual”, garante, complementando que o objetivo da série nunca foi ceder aos padrões de beleza e homogenização dos traços e corpos. 

“Acompanho o trabalho da Shalimar há bastante tempo e já havia notado que, nos seus procedimentos, ela opta por caminho diferente do que outros profissionais dessa área propõe. Ela pega leve nas intervenções, investindo em uma abordagem que valoriza a beleza da pessoa, sem comprometer a identidade dela”, elogia, dizendo que o foco do projeto foi justamente essa valorização das distintas formas de ser do feminino.

Câmara lembra que, quando a profissional o procurou, a fim de transformar seu trabalho em algo com uma pegada mais artística, pensou logo no formato de uma exposição. “Ao ver os resultados das fotografias técnicas, feitas no consultório, ficou mais óbvio que este seria o caminho”, situa, inteirando que, mergulhado nesse processo, pôde se aproximar das histórias de cada modelo – “quando passei a ver não só a beleza externa, mas também a beleza interna delas”, diz. Mais do que isso, para além das questões estéticas, ele diz ter percebido a satisfação dessas mulheres ao fim desse processo. “O sentimento que fica, me parece, é o de ter se encontrado, ou reencontrado”, aponta, dizendo ter buscado capturar, nas fotografias, a essência da mulher contemporânea.

SERVIÇO:
O quê. Mostra “Mulheres de Aço”
Quando. Abertura para convidados nesta sexta-feira (6), às 19h. Exposição até 27 de outubro. Visitação de terça a domingo, de 10h às 17h; nas quintas, de 10h às 22h
Onde. MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal (praça da Liberdade, 680, Funcionários)
Quanto. Gratuito

*A reportagem foi atualizada às 13h05 com a informação de que a abertura da exposição é exclusivamente para convidados. Nos demais dias, a mostra segue aberta para visitação do público gratuitamente