Milton Nascimento ainda não sabe da morte de Lô Borges, seu parceiro de Clube da Esquina e amigo de uma vida toda. É o que conta Augusto Nascimento, filho do músico, que foi diagnosticado com um quadro de demência. “Por uma instrução médica, a gente vai contar durante uma consulta de rotina, no sábado. Vamos contar juntos, eu e o médico”, relata ele em breve conversa com a imprensa no foyer do Palácio das Artes, no centro de Belo Horizonte, onde o corpo de Lô Borges é velado nesta terça-feira (4/11)

A cerimônia, aberta ao público desde 9h, reúne fãs, músicos e amigos que passam para prestar suas últimas homenagens ao artista, um dos fundadores do Clube da Esquina.

“De todas as vezes que tive que ter um diálogo difícil com meu pai, essa é a pior”, descreve, inteirando que Lô era como um irmão caçula para Bituca. “Então decidimos, eu e o médico, contarmos juntos para que ele esteja assistido e seguro”, reforça.

Entre os muitos laços de afeto e história que se cruzam nesta despedida, o de Milton e Lô ocupa um lugar mais íntimo. Augusto conta que, para seu pai, o parceiro de composição e de vida era “parte da família”. “A gente se falava de forma muito carinhosa. Ele sempre me acolheu muito. Era parte da família. O Lô tinha um respeito com meu pai, um carinho, uma fidelidade que poucos amigos tiveram com ele na vida. Eles foram fiéis um ao outro ao longo de todas essas décadas. Nunca tiveram altos e baixos. Sempre tiveram um amor pleno”, recorda.

Augusto também lembra das visitas mais recentes do “tio”. “O Lô esteve lá em casa em março. Ele passou uma tarde com meu pai. Os dois tinham uma característica engraçada: juntos, pareciam dois garotos relembrando a vida. E aí o Lô me chamou, queria que eu gravasse uma história que ele queria contar – que o primeiro violão que ele teve foi um violão que meu pai deu para ele, o próprio violão do meu pai. Então, meu pai se despiu do seu instrumento para que o Lô tivesse um violão”, narra.

Para ele, essa lembrança registrada no vídeo, que, publicado por Augusto, repercutiu nas redes, “mostrava essa amizade singela, esse lugar de afeto puro”.

As lembranças se estendem a outras ocasiões emblemáticas, como o show de Paul McCartney em Belo Horizonte, em 2023. “Levar meu pai com o melhor amigo dele para ver um Beatle foi a minha máxima memória”, orgulha-se.

Ao refletir sobre o legado do músico, o filho do Bituca é categórico: “Particularmente, acho que ele merecia muito mais reconhecimento do que teve. Ele tinha que lotar estádio, fazer turnê gigante, tal qual outros artistas do quilate dele”, lamenta. “Lô é um artista gigantesco, estudado no mundo inteiro, um gênio. Então acho que qualquer homenagem ainda é pouca”, conclui.