Uma das formas de redenção do personagem de Jason Patric, um ex-policial que agora trabalha como vigilante de carro-forte, é usar a bebida alcoólica que ingere cotidianamente para salvar a vida do filho. Ele é um dos protagonistas de "Blindado", filme de ação, em cartaz nos cinemas, que faz o gênero "azar dos bandidos que foram esbarrar, casualmente, com um homem durão".

Quando bem realizado, amarrado por uma história de grande roubo, costuma render boa coisa. Muitas carreiras se firmaram em Hollywood com esse tipo de filme. A de Bruce Willis é um exemplo. Quando fez "Duro de Matar", em 1988, ele viveu um típico policial no meio de um divórcio que, sem querer, se torna a única pessoa capaz de enfrentar um grupo terrorista que invadiu um arranha-céu high-tech.

O próprio Sylvester Stallone, que, em 'Blindado" faz um raro antagonista, se aproveitou bem do gênero, em obras como "Risco Total" e  "Daylight", presente nos momentos mais difíceis para mostrar que ser cascudo tem lá suas vantagens. Geralmente esses personagens não possuem muitas ambições, são autodestrutivos e se corroem por dentro por conta de um ato equivocado cometido no passado.

O James Brody de Patric tem essas características: cumpre diligentemente seu trabalho como segurança como se contasse as horas para chegar ao fim da vida, carregando o remorso de ter matado a esposa num acidente de carro. Mas até esse aspecto ganha uma justificativa,  já que, em sua origem, o acidente está relacionado ao fato de ele cumprir a lei mesmo estando de folga com a família. 

São muitas concessões que a trama faz para dar ares heróicos para Brody, sem muita necessidade, já que o que importa mesmo no gênero é ver a cara de surpresa dos bandidos ao se deparar com um homem duro na queda. Quem logo enxerga isso é Rook (Stallone), um vilão das antigas que mantém uma certa conduta ética, valorizando o oponente quando encontra alguém tão inteligente quanto ele.

"Blindado" parece querer adensar essa relação de admiração mútua, como nos filmes de Michael Mann e John Woo, mas não concretiza esse mote porque mira em outro plot - um plano oculto por trás do assalto ao carro-forte. Há um mistério que a narrativa empurra até o desfecho, mas como uma evolução que tira a força de seu impacto, sem nos envolver com aquela sensação de que fomos também pegos de surpresa.

O que está longe de dizer que o filme não entretém. O diretor Justin Routt elabora bem a tensão e a luta para pai e filho se manterem vivos dentro de um carro-forte parado no meio de uma ponte, com uma gangue armada até os dentes para acessar os malotes. Faltou mesmo equilibrar melhor com o que se desenrola fora desse ambiente, entre gente graúda que tem vários interesses no ataque.