Débora Bloch está “enlouquecida” gravando as cenas da vilã Odete Roitman, no remake de “Vale Tudo”, próxima novela das nove da TV Globo. A outra filha de Jonas Bloch, Deni, mora em São Paulo e provavelmente não conseguirá se deslocar até o Rio de Janeiro para comemorar o aniversário do pai no sábado, quando completará 86 anos. Parte dessa história está ligada a Belo Horizonte, onde nasceu.

Dono de personagens marcantes no teatro, na TV e no cinema, atualmente está em cartaz nas telonas com “Viva a Vida”, comédia com toques dramáticos que, entre outros temas, aborda a terceira idade. Bloch interpreta Ben, um homem que parte para Israel com a namorada (Regina Braga) em busca de aventura. Décadas depois, ao ser procurado pela neta (Thati Lopes), ele é um rotineiro dono de agência de turismo.

“É um dos recados bons que o filme tem. Pelo fato de ser muito engraçado, muito leve, dá impressão de que ele não tem mensagem. Mas tem várias; uma delas é a imagem que as pessoas têm de que, ao chegar à terceira idade, você praticamente estaciona, não vive mais, como se tivesse até morrido para a vida. E é o contrário. O filme mostra que é possível ter dentro de você essa vitalidade, esse ‘viva a vida’”, registra.

“Velhice como carta fora do baralho não é verdade”, afirma Jonas Bloch, que é um grande exemplo disso. “Não paro, não. Esse ano que passou fiz três filmes. Também montei peça, ‘Delírio’, que esteve no Teatro Feluma; fiz exposição... Estou em plena atividade”, avisa Bloch, que, em 2025, deverá participar de um filme mineiro. “Não recebi o roteiro ainda. Só fui consultado. Pela sinopse, achei bem interessante”, revela.

Com “Viva a Vida”, o ator teve a oportunidade de visitar outros temas que mexem muito com ele, como a ascendência judaica. Apesar de ser ateu, Bloch teve contato com essa cultura religiosa a partir dos pais – uma parte da família é da Ucrânia, e a outra, da Áustria. “Claro que mexeu, mexeu muito. Eu sou fruto de uma história. Minha mãe chegou aqui com 5 anos, fugida. Meu pai também, devido a problemas com racismo”, revela o ator.

Sob a batuta da diretora Cris D’Amato, as filmagens aconteceram em diferentes regiões de Israel. “Foi uma emoção muito grande, com toda a sua cultura e a sua força sagrada e histórica, num ambiente completamente diferente do nosso, com sinais de uma civilização avançada. Nós chegamos a ver piano no meio da praça. Imagina, isso aqui não duraria um dia. As pessoas têm uma noção de civilidade muito grande”, comenta.

A mente também não demora a “visitar” a capital mineira, onde tem nome grafado na história do teatro da cidade, como um dos seus pioneiros. Uma das produções mais famosas, “Oh! Oh! Oh! Minas Gerais”, escrita ao lado de Jota Dangelo, percorreu o Brasil inteiro em 1967 e 1968. “Tínhamos um grupo de teatro e fizemos muitas e muitas produções, além de cursos e shows”, recorda Jonas Bloch.

A lembrança é povoada de uma grande mágoa, que o fez sair de BH em busca de trabalho em São Paulo. “Estávamos fazendo uma superprodução baseada em Cervantes, com direção de Amir Haddad, e, no dia da estreia, tivemos um problema técnico e não subimos ao palco. Mesmo assim saiu uma crítica negativa do espetáculo, no jornal ‘Última Hora’, que foi a gota d’água para mim”, explica.

“Apesar de todo o esforço que a gente fazia, botando dinheiro do próprio bolso, numa época que não tinha muito teatro em Belo Horizonte, éramos mal recebidos. Resolvi ir embora, sentindo que estava em condições de enfrentar o profissionalismo pra valer. Na minha biografia, lançada anos depois, pela Coleção Aplauso, incluí um agradecimento a esse crítico. Se não fosse ele, não teria ido embora e feito carreira até hoje”, assinala.

Pouco antes da partida, rememora Bloch, o tal crítico, “que fazia parte de um grupo de caras que se achavam muito inteligentes”, estava na Cantina do Lucas, famoso restaurante localizado no edifício Maletta, no centro de BH, e o ator não pensou duas vezes antes de xingá-lo, mesmo ele estando acompanhado de três amigos. “Fiquei xingando, provocando-o para brigar, tamanha era a raiva que eu tinha. Ofendi ao máximo para ver se reagiam. Não sou de briga, mas o ódio era grande”, detalha.

Em novela, matou a protagonista

A mudança de residência não deixou Jonas Bloch longe de Minas. Estimulado pela esposa, comprou um lote em Lavras Novas. “Era a minha segunda casa. Tivemos ateliê, pousada, re staurante... É uma cidade muito gostosa, tranquila, segura. Começamos uma história lá, mas depois não tínhamos mais condições de administrar. De perto já é difícil, imagine longe então. E na época estava emendando um trabalho no outro”, justifica.

No cinema, Bloch fez mais de 40 longas-metragens, entre eles, produções internacionais ao lado de nomes como o inglês Michael York (em “Sigilo Absoluto”) e a espanhola Penélope Cruz (“Sabor da Paixão”). “Fiz três, quatro cenas com ela. Numa delas, dizia o título do filme. Conversamos pouco, na verdade, mas ela foi muito simpática, muito colega, não me discriminando pelo fato de ser brasileiro”, elogia.

O grande marco, porém, foi brasileiro, como o vilão Isaac de “Amarelo Manga” (2002), dirigido pelo pernambucano Cláudio Assis. “O Cláudio tinha feito um curta muito bom, ‘Texas Hotel’, e, de repente, resolveu criar um longa a partir dele e me convidou para fazer um personagem. No set, falei para ele: ‘Esse não é o mesmo personagem que está no roteiro’. Respondeu para eu fazer como quisesse. E eu fiz”, registra.

O maior vilão da carreira de Bloch foi feito na TV, como Russo da novela “Corpo Santo” (1987), na extinta TV Manchete. “Até hoje, mais de 30 anos depois, as pessoas vêm me falar dele. Ele foi o personagem mais marcante da minha vida. Não sei o que consegui ali, mas ele era muito cruel, chegando a matar a protagonista, Christiane Torloni. Ela tinha brigado com Adolpho Bloch, dono da Manchete, que resolveu matar a personagem".