A atriz Millie Bobby Brown e os diretores e produtores Joe e Anthony Russo estão no Brasil para o lançamento do filme “The Electric State”, que estreia no catálogo da Netflix em todo o mundo nesta sexta-feira (14). Em "The Electric State", os irmãos Russo (“Vingadores: Guerra Infinita, “Vingadores: Ultimato” e “O Agente Oculto”) adaptam uma graphic novel sueca de 2018, de Simon Stålenhag - que também aparece nos créditos da Netflix como um dos produtores executivos do filme.

O filme reimagina os Estados Unidos da era Clinton e cria uma visão retrofuturista dos anos 90. Telefones fixos e computadores toscos nos primórdios do e-mail convivem anacronicamente com robôs e projetores neurais que permitem ao usuário sentar-se calmamente no ar-condicionado enquanto controla um drone de combate a quilômetros de distância. "Nós estamos meio que olhando para um passado que nunca aconteceu e imaginando um futuro no qual ainda não chegamos", comentou o diretor Anthony Russo, que concedeu entrevista a O TEMPO em São Paulo, junto com o irmão Joe.

Parte da diversão de "The Electric State", na visão dos irmãos, é juntar essas ideias de passado e  futuro de uma forma incomum. "Nós sentimos que era muito oportuno agora porque, veja, o relacionamento da humanidade com a tecnologia sempre foi complicado, mas acho que talvez esteja mais complicado do que nunca. E as crianças estão na vanguarda dessa questão agora em nossas vidas. E a década de 1990 foi o momento em que nossas vidas digitais começaram", explica.

Em uma produção que consumiu sete anos e orçamento milionário, os irmãos Russo não escondem sua inspiração nos filmes clássicos da Amblin, como “Gremlins”, "Jurassic Park" e "Uma Cilada Para Roger Rabbit". Os robôs, que vêm em todas as cores, formas e tamanhos, poderiam muito bem ter saído de “Tiny Toon Adventures” ou “Animaniacs”.  "'The Electric State' tem um nível extremamente alto de design. É um grande mundo de fantasia cheio de personagens não humanos que precisam ser criados digitalmente. Então não é um filme barato de fazer, e parece fotorrealista acima de tudo. Muitas pessoas nos disseram que sentem que os robôs no filme são reais e é difícil chegar a esse ponto visualmente", afirma Joe Russo, que exalta a parceria da Netflix "tanto criativamente quanto financeiramente".

Embora a dupla tenha mudado um pouco o tom do livro original, que é mais adulto, isso não faz de  "The Electric State" um filme exclusivamente infantil. "É realmente valioso quando pais e filhos ou avós ou quem quer que seja, multigerações, podem assistir filmes e compartilhar uma história juntos, ter essas experiências em comum. Essa era uma grande esperança nossa (para 'The Electric State') que tivemos com nossos filmes da Marvel também", comentou Joe Russo.

O filme

Em 'The Electric State", robôs foram criados nos anos 50 por Walt Disney para promover seus parques, evoluíram e se tornaram uma grande força de trabalho, basicamente em funções que os humanos não queriam. Até que o movimento pelos direitos dos robôs ganhou forca e eles se rebelaram.

A guerra durou dois anos, os humanos venceram graças à invenção dos projetores neurais, e os robôs sobreviventes foram banidos da sociedade. É neste pós-guerra que a personagem Michelle, de Millie Bobby Brown (“Stranger Things", “Donzela”), atravessa o país em busca do irmão que ela julgava morto, mas que ressurge controlando o robô Cosmo. 

Ela se junta a Keats (Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia) e ao robô Herman, numa cruzada contra o inimigo comum: Ethan Skate (Stanley Tucci), o poderoso chefão da tecnologia que inventou os projetores neurais que estão alienando a humanidade e articulou o fim da era dos robôs.

Poderosa Millie

O início do filme faz pensar que as duas horas seguintes serão de pura ficção científica, mas, ao estilo dos “velhos” filmes da Amblin, os irmãos Russo entregam um conto de amizade, família e lealdade.  E de empoderamento feminino. "Eu acho que nunca tinha interpretado um personagem como essa. "Eu estava realmente interessada em dar vida a alguém que tinha lidado com uma imensa quantidade de tristeza e perda. E ela tem um arco de personagem incrível em termos de onde você a vê no começo até onde você a vê no final", opina a estrela do filme, Millie Bobby Brown.

Ela conta que, além do fato de poder trabalhar com os irmãos Russo, o que a fez aceitar o protagonismo em "The Electric State" foi exatamente a chance de colocar, mais uma vez, uma mulher em destaque. "Adoro colocar heroínas no centro das atenções na tela para que meninas do mundo todo se sintam inspiradas e motivadas a serem heroínas em suas próprias vidas e em suas próprias histórias", afirma.

Mal recebido pela crítica norte-americana, “The Electric State” foi "acusado" de ser um filme sem alma. Essas reações, porém, não incomodam. "Tentamos manter o foco em como estamos nos empolgando e nos satisfazendo no processo de fazer o filme porque é isso que podemos controlar", diz Joe Russo. 

"Podemos controlar se estamos empolgados, se estamos felizes, como estamos gastando nossa energia e esforços. Não podemos controlar como outras pessoas respondem a isso. Só temos que fazer algo que gostamos e esperar que outras pessoas gostem também. Então, é assim que lidamos com a pressão", finaliza.

"The Electric State" oferece duas horas de entretenimento para toda a família, mas ao final parte da audiência pode até ficar com uma sensação de que "faltou alguma coisa", um encantamento do qual o filme chega perto, mas esbarra no "quase". Mas, se falta aquela liga que torna uma obra unânime e inesquecível, sobram criatividade, efeitos visuais e elenco estrelado. É caminho certo para o alto do Top 10 da Netflix.

*A jornalista viajou a convite da Netflix