O músico carioca Rodrigo Drade cresceu em uma família em que era comum que se cantasse samba e pagode com bastante frequência. Logo, os ritmos do pandeiro e da cuíca fizeram parte da formação de vida e musical dele. No entanto, à medida em que cresceu, percebeu que aquele ambiente de alegria também era fechado.
“Não só para homens gays, mas também para mulheres”, recorda. Fazendo parte da comunidade LGBTQIAPN+ e encontrando muitas portas fechadas, “naturalmente” ele percebeu que poderia criar algo voltado para este público. Assim nasceu o Sambay, primeira roda de samba LGBTQIAPN+, que chega a Belo Horizone neste sábado (12).
“Entendemos que era necessário criar um espaço que pudéssemos não só se apresentar artisticamente, mas que o público se sentisse seguro de se expressar livremente em um ambiente que fosse acolhedor para nossa comunidade”, comenta Drande. Na avaliação dele, o fato de as rodas de samba frequentemente estarem associadas a ambientes de homens héteros, muito artistas LGBTQIAPN+ acabam não se atrelando ao samba e cantando outros ritmos porque não se sentem representados. É muito difícil olhar para essas mesas, que são totalmente heteronormativas e geralmente dominadas por homens, e se reconhecer ali. Em todas as posições, principalmente como cantores, ritmistas, musicistas, violonistas e percussionistas, vemos majoritariamente homens héteros”, observa.
Por isso, criar o Sambay foi como furar uma bolha. Ou melhor, transportar um muro, tamanha a quantidade de desafios encontrados.
“É realmente difícil desenvolver um mercado para a nossa comunidade LGBTQIAPN+, porque, de fato, não nos sentimos representados. Também não tivemos formação, porque nunca tivemos oportunidade de fazer parte desse meio. Não vemos puxadores de samba-enredo nas escolas de samba que sejam LGBTQIAPN+, que pertençam à nossa comunidade. Estamos acostumados a ver a comunidade ocupando sempre os mesmos espaços, que são limitados dentro do samba e do carnaval. Então, romper essa bolha ainda é muito difícil, é um desafio real”, destaca.
O Sambay toca músicas de artistas como Almir Guineto, Liniker, Beth Carvalho, Molejo, Fundo de Quintal e Só Pra Contrariar. “O repertório é bem diverso porque a gente lida com um público que, em sua maioria, não teve muita oportunidade de participar de rodas de samba, justamente pelo afastamento da nossa comunidade, causado pela falta de representação. Então, a gente tenta trazer raízes históricas, sambistas consagrados, para que possamos contar um pouco da história para quem ainda não conhece. É muito importante para mim sempre cantar as mulheres do samba, saudar Dona Ivone Lara. Eu sempre tento contar a história dela, explicar que ela não podia assinar as músicas com o próprio nome porque era mulher, e as pessoas não gravavam suas composições. Por isso, ela assinava com o nome do primo. Sempre procuro, nos shows, resgatar essas raízes”, indica Drade.
Além dele, a Sambay conta com Daniel Cahon (baixo), Roberta Nistra (cavaquinho), Lucas Marques (violão sete cordas), Gabriel (teclado), André Manhães (bateria) e Pedro Batuq e Márcia Viegas (percussão), além dos bailarinos Wend Caster, Davi Araújo, Luis Otávio e Anna Callado. Já passaram nomes importantes pela roda da Sambay, como Thiago Pantaleão, Silvero Pereira e Preta Gil, e a vontade do cantor é que as participações se ampliem ainda mais.
“Toda noite eu canto os clássicos da Marrom, da Alcione. E sempre peço para o público mandar uma mensagem no Instagram dela, convidando-a para cantar comigo no Sambay. Eu sempre digo que, quando isso acontecer, será a realização de um sonho coletivo. Alcione é o grande sonho, mas há muitas outras pessoas que a gente gostaria de receber. O Pericão, por exemplo, seria incrível. E o Jorge Aragão... nossa, seria muito emocionante tê-lo com a gente. Assim como a Leci Brandão: se não fosse poe ela, nem estaríamos aqui. Ela foi a primeira cantora a se assumir LGBTQIAPN+ no meio da música, ainda nos anos 60, no meio do samba. Ela é extremamente importante para nós, e recebê-la seria um momento histórico para o nosso movimento”, espera.
SERVIÇO
O quê. Roda Sambay
Quando. 12 de abril (sábado), a partir das 18h
Onde. LAB Cluv (avenida do contorno, 6.342, Savassi)
Quanto. A partir de R$ 57, no link ingresse.com/sambay-bh