Com o tema “É moderno envelhecer”, o Festival Sabiá chega a sua quarta edição em Belo Horizonte, a partir desta terça-feira (22), se firmando não só como um espaço para o protagonismo de artistas com mais de 50 anos da cena cultural da cidade, mas também como um lugar confortável, seguro e prazeroso, que pensa e respeita as necessidades e interesses do público maduro.

A nova edição do evento, cuja programação se estende até domingo (27), com atividades na praça Floriano Peixoto e na Casa Floreana, no bairro Santa Efigênia, região Leste de BH, inclui apresentações musicais, teatrais, uma exposição fotográfica e duas novidades.

“Estamos propondo, pela primeira vez, uma série de mesas de debate sobre o etarismo, a fim de fortalecer ainda mais essa importante pauta. Além disso, outra inovação deste ano é o lançamento do catálogo de artistas e fornecedores das artes e cultura 50+ de Belo Horizonte, que será compartilhado com produtores e casas de shows para que esses profissionais possam continuar tendo oportunidades”, assinala Samir Caetano, um dos idealizadores do festival.

Peça do Grupo Maria Cutia se inspirou nos musicais do teatro de revista | Crédito: Tati Motta /Divulgação
Peça do Grupo Maria Cutia se inspirou nos musicais do teatro de revista | Crédito: Tati Motta /Divulgação

Entre os destaques da edição 2025, que teve curadoria do ator e diretor teatral Fábio Furtado e do fotógrafo e cineasta Nélio Costa, o produtor destaca os shows da cantora e compositora Amelinha, dedicado a seu segundo álbum “Frevo Mulher”, gravado em 1978 e lançado em 1979, e do instrumentista, cantor e compositor Mauricio Tizumba, o “Tizumba Áfica 50”, em que ele celebra seus 50 anos de trajetória artística. Nas artes cênicas, o grupo Maria Cutia apresenta o premiado “Ópera do Sabão”, espetáculo dirigido por Eduardo Moreira que narra a história de uma rádio que está prestes a fechar com o avanço da teledramaturgia e apresenta sua última radionovela.

“Há também uma exposição fotográfica que reúne trabalhos de 15 fotógrafos 50+ de Minas Gerais, além de rodas de conversa e debates sobre etarismo que envolvem nomes importantes, como o Tio Flávio, o Elias Santos, a Nathalia Dornellas e a maestro Ligia Amadio (regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais)”, complementa Caetano, reforçando que o Festival Sabiá, mais que propor reflexões sobre o envelhecimento, objetiva valorizar toda a potência da vida na maturidade. Daí o lema, que encara a velhice como moderna: “A ideia é chamar atenção para o fato de que o envelhecimento também pode trazer olhares que podem ajudar a humanidade a caminhar rumo ao progresso”.

50 anos de carreira

Apresentação que encerra a programação do Festival Sabiá, o show “Tizumba África 50” é descrito por Mauricio Tizumba como “bonito, dançante e alegre”. “É um projeto idealizado pelo (produtor e diretor musical) Lenis Rino, que revestiu músicas minhas com uma linguagem meio Fela Kuti, meio Moacir Santos”, detalha, fazendo menção a características como o afrobeat do multi-instrumentista nigeriano e a harmonia do arranjador brasileiro.

Show de Mauricio Tizumba está entre os destaques do Festival Sabiá | Crédito: Pri Garcia/Divulgação
Show de Mauricio Tizumba está entre os destaques do Festival Sabiá | Crédito: Pri Garcia/Divulgação

“Quando iniciei minha carreira, trabalhava muito com baixo, bateria, guitarra e teclado, mas, com o tempo, fui priorizando os tambores. Agora, então, combino todos esses instrumentos, usando os tambores e os metais”, expõe.

Sobre a expectativa para o evento, o músico diz já estar pronto para cantar, pular, dançar. “Já tive oportunidade de participar desse festival, que acontece na cidade desde 2019, em outra edição. Então, já é um evento pelo qual tenho muito carinho”, relembra, defendendo que o projeto seja uma oportunidade para diálogos intergeracionais. “O aprendizado vem justamente da troca entre a meninada nova e os artistas das antigas”, crava ele, que elogia e reforça a necessidade de se discutir o tema do etarismo no meio cultural.

Um oásis na programação

Ao privilegiar artistas com mais de 50 anos e investir em uma estrutura convidativa para um público maduro, o Festival Sabiá surge como um oásis para um grupo que se sente, na maioria das vezes, desassistido quando o assunto são os eventos culturais.

Um sintoma dessa falta de acolhimento foi registrada na pesquisa Cultura nas Capitais, desenvolvida pela JLeiva Cultura & Esporte, que voltou a medir os hábitos culturais das populações de todas as capitais brasileiras e do Distrito Federal. O estudo identificou que, em todo o território nacional, ocorre uma queda significativa de acesso à cultura a partir da faixa etária dos 45 anos. “É algo que identificamos em todas as atividades, exceto música clássica”, situa o consultor João Leiva, lembrando que, em países do Norte global, essa contração acontece mais tarde, a partir dos 65 anos ou mais. 

Grupo Meninas de Sinhá, referência em transformação social por meio da cultura e da união comunitária feminina, se apresenta no Festival Sabiá no fim de semana | Crédito: Beto Eterovick/Divulgação
Grupo Meninas de Sinhá, referência em transformação social por meio da cultura e da união comunitária feminina, se apresenta no Festival Sabiá no fim de semana | Crédito: Beto Eterovick/Divulgação

“A maior parte das políticas públicas são desenvolvidas para os jovens, que são os consumidores do futuro e, no presente, são muito ativos na sociedade e alcançados com facilidade – eles estão agrupados em espaços como as escolas e universidades. Já os adultos e, principalmente, os idosos são mais desassistidos e é mais difícil chegar a esse grupo em grande volume – sua presença está mais pulverizada nos espaços”, compara Leiva, acrescentando que questões como falta de tempo, não se enxergar como público das atividades, problemas de saúde, falta de companhia e até dificuldade de acessar informações, atualmente disponíveis mais digitalmente, tendem a afastar essas pessoas do universo cultural urbano.

Para Samir Caetano, o formato dos eventos culturais também pesa e ajuda a explicar essa “barreira etária”. “A maturidade é ávida por convivência, pela apreciação à cultura, por usufruir o espaço público. O problema é que o setor cultural insiste em pensar e produzir ações focadas apenas no público jovem, se limitando a fazer algumas adequações no sentido de preencher requisitos de acessibilidade”, critica, assinalando que questões como horário, estrutura, programação e até apelo visual tendem a não ser convidativos para pessoas mais velhas. “Faltam atividades para esse público, um vácuo que o Sabiá quer preencher”, garante.

SERVIÇO:
O quê. Festival Sabiá na Praça:
Quando. A partir desta terça-feira (22). Até domingo (27).
Onde. Praça Floriano Peixoto e Casa Floreana (Avenida do Contorno, 3.293)
Quanto. Gratuito 

PROGRAMAÇÃO:

Festival Sabiá Encontros - Casa Floreana

De 22 a 24 de abril 

  • 17h – exibição de curta-metragem
  • 18h às 20h – roda de conversa do tema do dia
  • 20h às 20h30 – cena curta de teatro
  • 20h40 às 22h – apresentação musical

Festival Sabiá na Praça - Praça Floriano Peixoto

Sábado, 26 de abril

  • 10h - Oficina Dança Sênior 
  • 11h - Show Saberes e Tradições (Meninas de Sinhá)
  • 12h - Vozes de Antes, de Hoje (Roda de Mulheres - ZAP 18)
  • 14h30 - Espetaclim (Grupo Cine Teatro Vagalume)
  • 15h30 - O Guarda-Chuvista (Núcleo de Atuação e Pesquisa)
  • 16h15 - Quase Árvore (Grupo Teatro Atrás do Pano)
  • 17h15 às 18h - Oficina Dança Livre
  • 18h - Show 45 anos de Sucessos - Amelinha

Domingo, 27 de abril

  • 10h - Oficina Tai Chi Chuan 
  • 11h - Show Meninas das Gerais
  • 12h - Seu Geraldo (Grupo Pigmalião)
  • 15h - Rosa dos Ventos (Grupo Teatro Entre Elas)
  • 15h30 - Ópera de Sabão (Grupo Maria Cutia)
  • 16h45 - Oficina Teatro
  • 17h - Corpo Preto Surdo: Nós Estamos Aqui (Cia de Teatro BH em Libras)
  • 18h - Show Tizumba África 50