A arte tem a capacidade de retratar a história de um país. No Brasil, o Dia do Cinema Brasileiro é fundamental para preservar essa memória cultural. Celebrado em 19 de junho, a data foi oficializada em homenagem às primeiras filmagens realizadas em território brasileiro, em 1898.

Elas foram feitas pelo italiano Afonso Segreto, que veio da França a bordo do navio Brésil. Ainda na embarcação, ele capturou cenas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, com seu equipamento trazido da Europa. Desde então, o Brasil tem sido tanto um cenário para produções internacionais quanto um produtor de filmes de renome mundial.

Fazer cinema no Brasil é contribuir para uma história rica e diversa. Por isso, com o apoio dos cineastas Adriano Portela, pernambucano conhecido pela franquia de terror “Recife Assombrado”, e San Marcelo, diretor paraense responsável por “Luz do Mundo”, cinebiografia do músico Manoel Cordeiro, reunimos esta lista de filmes brasileiros que todos os amantes da sétima arte (e todos os brasileiros) deveriam assistir, hoje e sempre que possível. Confira!

1. Baile Perfumado (1996)

Dois homens vestidos com roupas de cangaceiro no meio da mata. Um deles está com uma câmera antiga na mão e o outro com um caderno.
“Baile Perfumado” retrata um Nordeste vibrante e narra a história do mascate libanês que tentou filmar Lampião (Imagem: Reprodução Digital | RioFilme)

Este filme, ao lado de “Carlota Joaquina: Princesa do Brasil” (1995), pode ser considerado como um marco da retomada do cinema nacional. Com direção de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, e com trilha sonora da Nação Zumbi, o longa mostra o Nordeste de uma forma inédita: verde e vibrante.

A obra conta a história de um mascate libanês, o senhor Benjamin Abrahão, que decide filmar Lampião e todo seu bando, pois acredita que vai ficar rico com o filme. Ele conversa diretamente com o famoso cangaceiro, mas o sonho do mascate é prejudicado pela ditadura do Estado Novo.

Onde assistir: Prime Video.

2. Central do Brasil (1998)

Um grupo de pessoas sentados em transporte de caminhão, no centro da imagem está uma mulher já idosa com um menino um olhando para o outro e ela está com o braço sob os ombros do menino
Em “Central do Brasil”, uma professora embarca em uma jornada transformadora com um garoto (Imagem: Reprodução Digital | RioFilme)

O filme não é apenas um marco na história do nosso cinema, mas também uma obra que nos leva a uma reflexão pessoal. Fernanda Montenegro, grande dama da nossa cultura, dá vida a Dora, uma professora que escreve cartas para pessoas analfabetas, mas que não envia nenhuma delas, e acaba ficando com o dinheiro da postagem para si. Uma reviravolta acontece quando ela conhece Josué, um garoto de nove anos que perdeu a mãe em um acidente de ônibus. Os dois embarcam em uma viagem pelo Nordeste do Brasil. A direção é de Walter Salles.

Onde assistir: Netflix e Globoplay.

3. O Fim e o Princípio (2006)

Mulher idosa com um vestido estampado apoiada em um pedaço de madeira apoiando o rosto em uma das mãos
Em “O Fim e o Princípio”, famílias paraibanas compartilham suas histórias de vida em uma conversa autêntica e envolvente (Imagem: Reprodução Digital | Globo Filmes)

Eduardo Coutinho encontra personagens únicos neste documentário produzido sem pesquisa, locações ou roteiro pré-estabelecido. O documentário acompanha uma comunidade de 86 famílias no interior da Paraíba, e busca passar ao público uma sensação conhecida do povo brasileiro: é como uma conversa ao final da tarde, entre pessoas que podem ser consideradas “comuns”, com muita vida para partilhar.

Onde assistir: Globoplay.

4. Que Horas Ela Volta? (2015)

Duas mulheres, uma mais velha com o cabelo preto preso em coque, usando óculos e um uniforme de empregada cinza com detalhes brancos com um relógio prata e uma mangueira nas mãos saindo água e ao lado uma mulher mais jovem usando uma regata cinza e com o cabelo preso
“Que Horas Ela Volta?” conta a jornada de uma empregada doméstica confrontando as complexidades das relações de classe e família (Imagem: Reprodução digital | África Filmes e Globo Filmes)

A obra traz uma forte temática social, com roteiro e direção de Anna Muylaert. A pernambucana Val (Regina Casé) se muda para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha, Jéssica (Camila Márdila). Com muito receio, ela deixa a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho (Michel Joelsas), morando integralmente na casa de seus patrões.

Treze anos depois, quando o menino vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, mas quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente como não deveria, a situação se complica.

Onde assistir: Netflix.

5. Recife Assombrado (2019)

Imagem de dois homens em um local escuro, ambos com o cabelo curto e barba, um está usando uma camisa marrom e tem um ferimento na cabeça e o outro está usando uma camisa laranja
“Recife Assombrado” é um filme de terror em que Hermano investiga o desaparecimento de seu irmão (Imagem: Reprodução Digital | ELO STUDIOS)

“Recife Assombrado” é o primeiro filme de terror do Nordeste. Em Pernambuco, foi o segundo lugar de bilheteria no ano da sua estreia, e foi exibido no Los Angeles Brazilian Festival. No longa, acompanhamos Hermano (Daniel Rocha) que, após o desaparecimento de seu irmão Vinicius (Pedro Malta), retorna para Recife, capital pernambucana, depois de 20 anos. Durante esta jornada, o rapaz descobre uma cidade sobrenatural e ameaçadora, assombrada por seres de lendas populares quando a noite cai.

6. Bacurau (2019)

Grupo de pessoas com roupas simples, e no centro uma mulher com um jaleco branco sujo de sangue
No filme “Bacurau”, os moradores do vilarejo precisam encontrar uma forma de defender sua sobrevivência (Imagem: Reprodução digital | Globoplay)

Dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o filme conta a história de um vilarejo fictício no sertão nordestino do Brasil. Após a morte de Dona Carmelita, os habitantes de Bacurau descobrem que a comunidade não aparece mais em qualquer mapa e que coisas estranhas estão acontecendo, como drones sobrevoando o local e a chegada de um casal estrangeiro.

À medida que pessoas começam a desaparecer, os moradores precisam lutar para garantir a sobrevivência de Bacurau. O filme combina ficção científica com crítica social, explorando temas como resistência cultural, desigualdade social e poder político.

Onde assistir: Globoplay.

7. O Reflexo do Lago (2020)

Imagem em preto e branco de um homem isdoso sem camisa no meio da mata
Em “O Reflexo do Lago”, um cineasta paraense aborda de forma leve e potente a desigualdade em torno de uma hidrelétrica no Pará (Imagem: Reprodução Digital | ELO STUDIOS)

Este é um filme feito no Pará, por um cineasta paraense, Fernando Segtowick, que levanta temas pertinentes com um tom leve, porém potente. O longa visita a região no entorno de uma das maiores hidrelétricas do país, onde a população, mesmo que próxima do local, não se beneficia igualmente da energia elétrica. O filme é um dos muitos capazes de mostrar ao público que o cinema brasileiro não se limita às produções do eixo Rio-São Paulo.

Onde assistir: Apple TV.

8. Medida provisória (2020)

Casal abraçado sentado em mesa de bar, conversando com outro homem que está de pé. Há copos de bebidas e pratos com comida na mesa
Em “Medida Provisória”, Capitú, Antonio e André precisam lutar por seus direitos (Imagem: Reprodução digital | ELO STUDIOS)

Baseado na peça “Namíbia, Não!”, de Aldri Anunciação, e dirigido por Lázaro Ramos, o filme retrata um Brasil distópico onde o governo aprova uma medida que obriga cidadãos negros a migrarem para a África, sob o pretexto de retornar às suas origens. Essa medida impacta diretamente a vida de Capitú (Taís Araújo), uma médica, seu marido advogado Antonio (Alfred Enoch), e seu primo jornalista André (Seu Jorge), que moram juntos e se veem no meio do conflito.

Conforme a situação se desenrola, a tensão e a resistência crescem, com os personagens principais lutando para preservar sua dignidade e direitos. A narrativa expõe as profundas desigualdades raciais e sociais existentes na sociedade, enquanto destaca a luta por justiça e igualdade.

Onde assistir: Globoplay.

9. Paloma (2022)

Imagem de um casal, o homem tem o cabelo curto e barba e está usando terno, e a mulher tem o cabelo cacheado e preso em véu e está usando um vestido de noiva
“Paloma” acompanha uma agricultora transexual que enfrenta preconceitos enquanto sonha em se casar na igreja (Imagem: Reprodução Digital | Pandora Filmes)

Paloma, interpretada por Kika Sena, protagoniza um enredo sensível e verdadeiro. No filme, ela é uma agricultora de mamão, negra, nordestina, analfabeta e transexual, cujo maior sonho é se casar na igreja com seu namorado. Muitas são as violências e preconceitos enfrentados pela personagem, mas o longa não deixa de convidar o espectador a sonhar com Paloma.

Onde assistir: Globoplay.

10. Ainda estou aqui (2024)

Uma mulher com cabelo curto usando uma regata azul e uma calça bege e sapato preto, ao lado de três crianças e duas jovens
Em “Ainda estou aqui”, Eunice vive os desafios de criar seus filhos após o desaparecimento de seu marido durante a Ditadura Militar (Imagem: Reprodução digital | Globoplay)

O longa “Ainda Estou Aqui” é uma adaptação do livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva. Após a prisão e o desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, Eunice enfrenta perseguições, pressões políticas e o desafio de criar sozinha seus cinco filhos. O filme também acompanha sua luta anos mais tarde, ao enfrentar o avanço do Alzheimer, compondo um retrato sensível de força, resistência e memória. Dirigido por Walter Salles, o longa conquistou o Oscar de Melhor FilmeInternacional em 2025, tornando-se um marco do cinema brasileiro.

Onde assistir: Globoplay.