Há alguns bons anos, a atriz e cantora Alessandra Maestrini sentiu algo repentino. Entre um papo e outro com amigos estrangeiros de sua mãe, percebeu que eles estavam encantados com um disco de Marília Gabriela cantando bossa nova que tocava no volume médio do som. “Pena que não estão entendendo a poesia. Se já adoraram a música em português, imagina se soubessem o que a letra diz”, pensou. Ali, naquele instante, Maestrini se impôs um desafio: “E se eu traduzir canções da música popular brasileira para o inglês?”. 

A cantora escolheu a obra de ninguém menos que Chico Buarque e o resultado dessa autoprovocação é “I Love You”, versão para a belíssima “Eu te Amo”. A canção acabou entrando em “Drama 'n Jazz”, disco que a artista lançou em 2012, e poderá ser ouvida pelo público belo-horizontino nesta quinta-feira (26/6), quando Maestrini sobe ao palco do Cine Theatro Brasil. 

A novidade, agora, fica por conta do formato do show. Pela primeira vez em mais de 10 anos, “Drama ‘n Jazz”, espetáculo cuja curadoria foi originalmente assinada por Nelson Motta, será executado por uma orquestra – neste caso, a mineira Opus –, o que traz novas abordagens ao repertório. O quarteto que conduzia o show agora dá lugar a 23 músicos. O ineditismo empolga. “É como uma nova brincadeira com um brinquedo que eu já conheço”, comenta.

Maestrini conta que Leonardo Cunha, maestro e fundador da Orquestra Opus, mergulhou no disco, em vídeos e nas partituras básicas. A partir disso, Cunha selecionou um novo conjunto de canções para celebrar a parceria. Ao todo, são 14 temas arranjados especialmente para a proposta orquestral. A cantora diz que o fio condutor do show, que integra a Mostra Cine Brasil de Música, é ritmo e sentimento: “Escolhi músicas para as pessoas serem ninadas ou se balançarem”.

Além de “I Love You” e clássicos do jazz, Maestrini interpreta “Deixa Estar”, sua versão para “Cross My Heart”, de Tim Maia, e as autorais “Se vacilar”, criada em parceria com Ana Carolina e Torcuato Mariano, e “Onde”. Nas mãos da compositora, “How Long Can You Get” se transforma em “Que Sorte Tenho Eu”.

Polivalente

Com uma carreira profundamente ligada à música desde a adolescência, Alessandra Maestrini formou-se em canto lírico e estudou nos Estados Unidos. No Brasil, destacou-se no teatro musical nas montagens “Rent”, “Les Misérables”, “Ópera do Malandro” e “7, o Musical”, mas foi também na televisão, com atuações em séries e novelas como “A Cara do Pai”, “Toma Lá Dá Cá” e “Tempos Modernos”, que Maestrini alcançou prêmios e reconhecimento nacional.

Das produções mais recentes, a cantora e atriz mostrou sua versatilidade em “O Som e a Sílaba”, minissérie brasileira lançada pelo Disney+ em 2024. Na comédia musical dirigida por Miguel Falabella e recentemente premiada no NY festivals TV & Film Awards Shortlist, em Nova York, Maestrini é Sarah Leighton, uma jovem no espectro autista que sonha em ser estrela de ópera. 

Sempre envolvida em projetos que envolvem música ou dramaturgia – quando um e outro não estão juntos no mesmo trabalho –, a artista aceitou uma nova empreitada ao dirigir, ao lado de Denise Stoklos, “O papel de parede amarelo e eu”, adaptação teatral do livro “O Papel de Parede Amarelo” (1892), de Charlotte Perkins Gilman (1860-1935), com Gabriela Duarte.

O monólogo estreou em São Paulo, em abril, chegará ao Rio de Janeiro em agosto. A produção ainda deve percorrer outras praças no país e também há a possibilidade de desembarcar em Portugal. Sobre a experiência como diretora, Maestrini diz que se trata de uma realização: “Foi minha estreia na direção fora dos palcos, porque eu já havia dirigido ao mesmo tempo em que atuava. Recebemos ótimas críticas, foi maravilhoso”.

Equilibrando-se entre trabalhos diversos e ideias tantas que ainda precisam ganhar vida, Alessandra Maestrini admite que se dedicar a verter o cancioneiro de Chico Buarque para o inglês ocupa um lugar especial quando pensa em planos futuros. Na gaveta, ela tem mais ou menos 10 letras já traduzidas, além de “Eu te Amo”. “O Que Será (À Flor da Pele)” virou “It”; “Basta um dia” também encontrou sua releitura própria.

Quando o resultado desse processo solitário e desafiador poderá ser visto em disco e nos palcos ela não sabe exatamente, não se apressa nem se angustia, mas avisa como quem tem certeza de que a novidade há de pintar por aí: “É um desejo que tenho e já fico pensando em como apresentar essas canções”.

Serviço

O quê. Orquestra Opus convida Alessandra Maestrini na Mostra Cine Brasil de Música

Quando. Nesta quinta-feira (26/6), às 21h

Onde. Grande Theatro Unimed-BH do Cine Theatro Brasil (av. Amazonas, 315, Centro)

Ingressos: R$ 80 (inteira), R$ 40 (meia-entrada) e R$ 50 (Vale Cultura) na bilheteria do teatro e na plataforma Eventim