A palavra que Edna de Cássia usa para definir a sua aparição icônica nas telonas é "engraçado". Protagonista de "Iracema, uma Transa Amazônica", um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro, que retorna nesta quinta-feira (24) ao circuito de exibição ao completar cinco décadas em 2025, ela só tinha 15 anos quando Jorge Bodanzky e Orlando Senna a contrataram para viver uma prostituta iniciante na Transamazônica - rodovia construída na época da ditadura militar que atravessava o país de leste a oeste, símbolo do "milagre econômico" propagado pelo governo.

"Não vou dizer que me acho bonita. Só acho graça da Iracema. Ela me faz rir e mais nada. Tenho o DVD em casa, mas eu não costumo assistir ao filme", registra Edna, que foi descoberta após matar aula para poder ir a um programa de auditório em Belém, sua cidade natal. Bodanzky e Senna estavam em busca de uma atriz jovem e nativa para atuar ao lado do veterano Paulo César Pereio, que interpreta um caminhoneiro gaúcho que enaltece o progresso, mas que não pensa duas vezes antes de abandonar Iracema pelo caminho.

Apesar de a mãe ter ficado nervosa ao saber que a filha não tinha ido para a escola, não pôs empecilho à participação dela no filme. "Eu fui entregue na mão da Conceição Sena (atriz e esposa de Sena). Passei 30 dias com eles e tudo se resolveu ali. Minha mãe tinha muita confiança na Conceição. Fui muito bem tratadae, por isso, deu tudo certo. Se tivesse havido algum contratempo, do jeito que eu era, já teria abandonado as filmagens no meio. Não estava nem aí, sabe?", relata Edna, que preferiu não seguir carreira como atriz, por não se achar capaz.

Apesar da autocrítica, ela ganhou o troféu Candango de melhor atriz no Festival de Brasília de 1980, após o filme ter a exibição proibida no país. Os problemas com o governo militar não inquietaram Edna. "Eu não tinha noção de nada. Só tinha 15 anos", justifica. De lembrança do filme, só guarda o seu "Oscar", declara, seguida por uma risada, ao falar do prêmio brasiliense. "Nem o shortinho da Coca-Cola guardei", frisa, ao citar um figurinho com a bandeira da empresa de bebidas, que ela mesma criou para vestir numa das cenas de "Iracema".