“Todo mundo quer saber o que é o xamêgo. Ninguém sabe se ele é branco, se é mulato ou negro. Quem não sabe o que é xamêgo.” O trecho da música de Luiz Gonzaga resume a aura de mistério em torno de um dos personagens mais marcantes da palhaçaria nacional: Xamego. Ou melhor, da palhaça, já que por trás da maquiagem estava Maria Eliza Alves dos Reis, pioneira em subir aos palcos circenses em um tempo em que mulheres raramente ocupavam esse espaço.

Quem ainda não conhecia sua trajetória teve a oportunidade de se aproximar dela na 23ª edição do Festival Mundial de Circo, que acontece em Belo Horizonte desde 9 de agosto e se encerra neste domingo (17). 

A programação exibiu o documentário “Minha avó era palhaço", dirigido por Mariana Gabriel e Ana Minehira, que resgata a história da primeira palhaça negra do Brasil.

“É um documentário maravilhoso sobre o palhaço Xamego. Ele fez muito sucesso nos anos 1920 e 1930, e era uma mulher negra. Foi a primeira mulher negra palhaça do país, mas as pessoas não sabiam. Além da pintura branca no rosto, ela se vestia de homem”, explica Fernanda Vidigal, coordenadora do Festival.

Segundo Fernanda, o pioneirismo de Maria Eliza era ainda mais notável porque, apesar de a caracterização deixar transparecer que era uma pessoa negra, poucos suspeitavam que Xamego fosse uma mulher. “Quem fez o filme foi a neta dela, que esteve aqui ontem para conversar com a gente. É um filme muito lindo, vale a pena assistir”, destaca.