O escritor Luis Fernando Verissimo está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital de Porto Alegre. Segundo apurou a reportagem, seu estado de saúde é grave.

Um dos mais importantes autores brasileiros - cronista, romancista, humorista e criador de personagens como O Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, Ed Mort, Família Brasil e outros-, Verissimo teve um AVC em 2021, sofre da doença de Parkinson e tem problemas cardíacos.

Em 2020, operou um câncer ósseo na mandíbula, e não precisou fazer quimioterapia nem radioterapia. Os bons resultados da cirurgia, porém, foram atropelados pelo AVC.

Verissimo vive com a esposa, Lúcia, e com o filho caçula do casal, Pedro, na histórica casa da família no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, a mesma onde viveram o pai dele, o escritor Erico Verissimo, e a esposa Mafalda.

Neste domingo, reportagem da Folha contou a história da casa, mostrou as conexões entre pai e filho e relatou como a família busca manter vivo o legado de ambos.

Em setembro, Verissimo completa 89 anos. Com as sequelas do AVC, ele parou de escrever e teve a fala afetada. É em inglês que saem as poucas palavras hoje pronunciadas por ele.

"São coisas soltas, yeah, thank you, stop. Não chega a fazer uma frase, mas é em inglês. De vez em quando, os rapazes que ficam com ele [fisioterapeutas e enfermeiros] dizem também ‘Stop’, ‘No’, ‘Thank you, my friend'", conta Lúcia, 81 anos recém-completos, casada há 61 com o escritor.

Ela e os filhos lamentam que, pouco após o AVC, quando a situação de Luis Fernando era melhor que a atual - chegou a desenhar/rabiscar e balbuciar umas palavras-, ele não quis fazer fonoaudiologia para retomar a fala. "Foi uma pena. A impressão que dava é que ele achava que era coisa de criança", diz Lúcia.

Quando ainda articulava umas poucas frases, conta a esposa, o próprio cronista fez troça de sua notória introversão-quase-mudez. "Um dia ele chegou a dizer: ‘Eu não falava porque não queria, agora não falo porque não posso." O filho Pedro ameniza as limitações: "Ele sempre foi muito silencioso, então temos traquejo de entendê-lo mesmo sem frases completas".

Verissimo comunica-se principalmente com as mãos e o olhar. E dá sinais de que entende o que lhe cerca, impressionando a família. "Uma vez estávamos assistindo na TV a uma entrevista do Paulo César Pinheiro, de cuja música ele gosta muito", narra Lúcia. O compositor carioca contava ter tido a sorte de conhecer Pixinguinha: estavam num bar, e um amigo do mestre do choro comentava os malefícios do álcool.

"Achei que o Luis Fernando estava ali olhando, mas sem prestar atenção. De repente, o Paulo César contou que o Pixinguinha disse para o amigo a seguinte frase: ‘O álcool só é nocivo pra quem é mau caráter’. Ele deu uma gargalhada. Na hora certa. Ele entendeu o que o Paulo César estava falando, e vou te dizer mais: poderia até ser uma frase feita por ele."

Como ocorre desde os tempos de Erico, a rotina de Luis Fernando tem muita música. "É um grande frequentador do YouTube, onde ouve muito jazz", relata o filho Pedro, cantor e compositor. O cronista tocava sax e integrava a banda Jazz 6.

Para facilitar a locomoção, o computador dele foi transferido do escritório no subsolo (sua "toca", ao lado da do pai) para o do térreo. O cronista faz fisioterapia três vezes por semana, folheia o jornal Zero Hora pela manhã, vê TV, sobretudo notícias e futebol, "especialmente jogos do Inter ou quando tem campeonato europeu, aqueles jogos bons", diz Lúcia.