Talvez você não saiba, mas entre as ruas e os prédios de Belo Horizonte, há uma queda d'água em leito natural considerada a maior dentro de uma capital brasileira. Localizado no bairro Novo Aarão Reis, na zona Norte da capital mineira, o Ribeirão do Onça já foi rio de banho, pescaria e histórias de quintal. Hoje resiste em meio ao concreto e ao descaso. E, como toda água que insiste em correr, há quem sonhe com sua retomada: devolver-lhe o direito de ser rio vivo e às margens o direito de serem lugar de encontro. 

A segunda edição do Festival da Onça, que começou na última segunda-feira (1°) e vai até o próximo domingo (7), nasce dessa esperança: um gesto coletivo que mistura mutirão e celebração, preservação e cultura, para ocupar os espaços populares, resgatar memórias e redesenhar futuros.

A programação envolve oficinas, visitas mediadas, mutirões e o lançamento do livro "Lembra: isto é Rio - Histórias do Ribeirão da Onça". Nos dias 6 e 7 haverá celebração e programação cultural no espaço transformado com mais de 15 atrações, entre elas show de MC Dodo, Fran Januário convida Dona Elisa, Uai Sound System, Swing Safado, Baile Charme, além de feira gastronômica, festival de pipa, cortejos com a Orquestra Popular Terno de Binga, As Grandes Figuras e Boi da Manta e atividades na Tenda da Cultura com biblioteca para leitura e troca de livros.  

Em registros de três décadas atrás é possível ver pessoas felizes brincando e nadando nas águas do Ribeirão do Onça, rio que nasce em Contagem, atravessa Belo Horizonte e deságua no Rio das Velhas na divisa de Santa Luzia, na região metropolitana.

Movidos pelo sonho de voltar a nadar, pescar e brincar no Onça - realidade já é possível no Rio Sena, em Paris, França, que, após 100 anos foi despoluído -, o festival, em parceria com a comunidade e movimentos, luta por qualidade de vida, pela valorização do rio e do meio ambiente.

A coordenadora de mobilização e articulação do projeto, Letícia Ribeiro, explica que em 2024, na primeira edição do Festival da Onça, o local recebeu as primeiras intervenções e ganhou um mirante e um escorregador. “Neste ano, o objetivo é dar continuidade às ações no território para a construção coletiva do Parque Ciliar Comunitário do Ribeirão Onça, um corredor verde com quase seis quilômetros de extensão em leito natural com áreas de lazer, cultura e convivência”, revela.

Após a desocupação de famílias devido aos riscos, a área localizada às margens da cachoeira estava cheia de entulhos e sendo usada como bota fora. Em parceria com o Conselho Comunitário Unidos Pelo Ribeiro de Abreu (Comupra), o Movimento Deixem o Onça Beber Água Limpa e o Projeto Manuelzão, foram feitas conversas entre equipe, moradores e apoiadores sobre as propostas de intervenção que serão executadas por meio de mutirões.

Festival da Onça: arte, cultura e meio ambiente

Com pesquisa, criatividade, persistência e cooperação, a partir da criação de vivências comunitárias, as ações começaram em articulação com a comunidade para desenhar os melhores caminhos para o projeto, em conjunto.

Depois, em julho, veio o cercamento da área para conter o descarte irregular de entulhos, e o nivelamento do terreno, com o auxílio de máquinas. “Com projetos de mobiliários realizados por estudantes da UFMG e selecionados via edital, realizamos a transformação do mirante da cachoeira, por meio de mutirões com os moradores, em um espaço de encontro, descanso e brincadeira contribuindo para o senso de comunidade e pertencimento na região do Novo Aarão Reis", afirma, Débora.

Programação do Festival da Onça

Diversos shows celebram a inauguração do Mirante da Cachoeira. No sábado (6), a partir das 17h40, se apresentam as atrações selecionadas via edital exclusivo para artistas das regiões Norte e Nordeste da capital. São eles: Tio Caco, Neghaum e convidados e Talita Silva e banda Lance Livre. Com suas músicas autorais que tratam de autoestima, autovalorização e questões cotidianas, Tio Caco sobe no palco do festival com Neghaum e convidados.  

Na sequência, Talita artista Neo Soul brasileira emerge como uma voz imponente na cena musical contemporânea. Suas composições  são profundas ao abordar temas fundamentais como amadurecimento, superações diárias, estratégias de sobrevivência e saúde emocional. A artista inaugura uma nova etapa do seu trabalho: sua banda Lance Livre.

Muito Samba com Fran Januário! A sambista e compositora, que é uma das maiores vozes do samba mineiro em uma junção de musicalidade e sofisticação, se apresenta junto à Dona Eliza, a madrinha do Samba de BH.  A apresentação acontece a partir das 16h.

O sábado também será de muito Funk com MC Dodo e Swing Safado - misturando funk mineiro, pagodão baiano, brega e reggaeton. Às 19h30, o Swing Safado promete entregar muita energia e alegria. Logo após, MC Dodo, encerra a noite celebrando a cultura periférica com seu funk consciente. Entre os shows haverá oficina Baile Charme com May Martins e discotecagem com Uai Sound System e DJ Guto Borges. 

No domingo (7), o feriado da Independência da República começa com a Orquestra Popular Terno do Binga, que apresenta o lançamento do repertório para o Carnaval 2026. A concentração inicia em frente à praça em frente à Escola (Av. Detetive Eduardo Fernandes, 320) às 9h e segue para o Mirante da Cachoeira com apresentação de As Grandes Figuras, bloco de carnaval em Nova Lima e o Boi-da-manta, que tem mais de 70 anos de história.

Destaques da programação

Exposição de Botânica - Na terça-feira (2), a Exposição De Botânica Desidratada acontece das 14h às 16h. A exposição é resultado das atividades da oficina Elementos da Natureza ofertada a alunos da Escola Municipal Herbert José de Souza (PEI). Local: Pergolado da Horta (Rua 50A, 48 - Novo Aarão Reis).

Cinema – Na quarta (3), às 19h, interessados em documentários, poderão assistir à Arrancados das Raízes - Vivências de um Território Vulnerável, de João V. Vilete e João V. Fagundes, que registra depoimentos de ex-moradores próximos ao Ribeirão Onça em meio ao processo de desapropriação de áreas de risco. Por meio de entrevistas, reportagens e fotografias pessoais, o filme conta histórias de quem vivenciou na pele os dias de perda causados pelas inundações, mas também viu sua luta por dignidade gerar frutos. Haverá uma roda de conversa com os diretores. Local | Escola Municipal Herbert José De Souza: Av. Detetive Eduardo Fernandes, 320 - Novo Aarão Reis .

Corrida com Calma Clima! Na quinta-feira (4), às 19h, o grupo de corrida e caminhada informal Calma Clima soma ao Festival da Onça. O local de partida será divulgado na véspera.

Lançamento de Livro – Na sexta-feira (5), acontece, às 19h, o lançamento do livro “Lembra: isto é Rio - Histórias do Ribeirão da Onça" organizado por Isabela Izidoro, André Siqueira e Elisa Marques com apoio de moradoras do Ribeirão da Onça. Haverá uma roda de conversa com educadoras e moradoras da bacia, para trocarmos experiências e imaginarmos futuros para o ribeirão. Local: Escola Municipal Herbert José De Souza: Av. Detetive Eduardo Fernandes, 320 - Novo Aarão Reis.  

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