O músico Célio Balona, de 86 anos, faleceu nesta quinta (4). A informação foi confirmada pela jornalista e amiga próxima Malluh Praxedes. Numa postagem, ela relembrou as "gargalhadas constantes, aquelas histórias todas, sua vida, sua arte, sua música e aquele acordeon incomparável!".
O músico e produtor Geraldo Vianna, que trabalhou com Balona, também confirmou a notícia. Até o momento, ainda não há informações sobre a causa da morte ou notícias acerca de velório e sepultamento.
Trajetória
A história de um dos acordeonistas mais celebrados do país começou em Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata mineira. Filho de um farmacêutico que, nas horas vagas, era compositor, dramaturgo e poeta, Balona teve que vencer a desconfiança do velho Lourival Passos (que chegou a ser gravado, inclusive, por Luiz Gonzaga) para percorrer o mundo com seu instrumento, até se apresentar em Castelfidardo, na Itália, ao lado de Vince Abbracciante.
Em casa, todos os discos dos grandes cantores italianos e de orquestras internacionais tomavam o som da vitrola depois do jantar. Ao lado dos irmãos, Balona sentava-se na sala para ouvir os tenores do país da bota, a regência precisa de Victor Young e a magia que preenchia o ambiente com as baladas norte-americanas. Nas festinhas do grupo escolar, ele passou a ser escolhido para cantar, porque era naturalmente afinado.
Com a professora Nicinha Soares, estudou um pouco de canto, antes de se mudar com a família para Juiz de Fora, graças a uma transferência no emprego do pai. Foi precisamente no bairro de Santa Terezinha que ocorreu o encontro definitivo que mudaria toda a sua existência. A rotina do garoto não se alterava: almoçava, fazia o dever de casa correndo e ia para o campinho jogar bola até o anoitecer.
Certo dia, ouviu uma melodia diferente, abandonou o divertimento favorito e foi atrás de desvendar o mistério. Deparando-se com uma casa com varanda, fitou o senhor que tocava o acordeom vermelho, e aquele encantamento criou morada imediata em seu coração. Balona, então com oito anos, só deixou de assistir ao concerto particular quando, aos onze, rumou para Belo Horizonte. Perambulando pela capital, o mesmo tipo de som o inebriou, mas, desta vez, eram vários, em diferentes timbres e escalas.
Parado em frente àquele estranho lugar, na rua Bernardo Guimarães, perguntou à senhora que saía sobre o que se tratava. Zilá Guimarães explicou que ali funcionava uma escola de música. Nesse ínterim, depositou as esperanças no programa do apresentador Paulo Roberto na Rádio Nacional, “Gente Que Brilha!”, patrocinado pela marca de esponja de aço Bombril, que recebia cantores aclamados e tinha um quadro de perguntas e respostas.
Quem quisesse participar, deveria mandar uma carta com seis rótulos de Bombril e a elucidação da enquete. Mas só teria chance se fosse sorteado para o primeiro ou segundo prêmio. Balona sabia que o nome de batismo do violonista Garoto era Aníbal Augusto Sardinha e enviou tudo certinho pelo correio. Segunda-feira, oito horas da noite, Balona estava com o ouvido colado no rádio, quando o apresentador anunciou que eles haviam recebido mais de 40 mil cartas. O pai imediatamente abanou a cabeça. A primeira sorteada era de Teresina, no Piauí. Faltando cinco minutos para acabar o programa, Balona não acreditou quando escutou seu nome e seu endereço, rua Aimorés, 1.056.
Com o dinheiro no bolso, a mãe vendeu uma máquina de costura a fim de inteirar o valor e comprar um acordeom para o filho. Aos 14 anos, Balona já integrava a orquestra do maestro Delê, a mais famosa de BH. Como músico da Casa do Baile, na década de 1970, Balona encarou os holofotes com gente como Jair Rodrigues, Dorival Caymmi, Cauby Peixoto, Elizeth Cardoso, Dick Farney, Lúcio Alves, Lucho Gatica e Gregorio Barros. Mais recentemente, dividiu o palco com Ivan Lins, Leny Andrade, Gilson Peranzzetta e Cristovão Bastos.
Em 1967, Balona já demonstrava seu faro para o novo. Depois de três LPs, ele colocava na praça “Balona Espetacular”, com “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, “Carolina”, de Chico Buarque, e “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, todas recém-lançadas, misturando Tropicália com Clube da Esquina e MPB. “Você sente o cheiro do talento quando ele aparece”, garante.
Em 1963, ao comparecer com os amigos-músicos Nivaldo Ornelas e Helvius Vilela a um show de Sérgio Mendes no antigo Kart Club, onde hoje funciona o BH Shopping, conheceu, em primeira mão, um futuro clássico da música brasileira. Talvez o maior deles. Munido de seu gravadorzinho italiano da marca Geloso, registrou tudo. Resultado: segundo uma empresa de estatística do Rio de Janeiro, foi o terceiro a gravar “Garota de Ipanema”, no álbum “Balona É o Sucesso”, também de 1963. (Raphael Vidigal Aroeira)