Para celebrar sua primeira década, o Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB BH) vem apresentando uma série de ações ao longo de agosto, mês de aniversário deste que se tornou um dos principais equipamento culturais da capital mineira.
 
“O CCBB BH comemora dez anos neste domingo (27), dia em que vamos inaugurar a nossa nova exposição, Studio Drift, que traz uma interlocução entre arte, biologia e tecnologia. Já nas artes cênicas, a gente retoma uma parceria que a gente iniciou 10 anos atrás com a Cia. Luna Lunera, com a estreia do novo espetáculo do grupo, “Aquela que eu (não) fui”, que vai cumprir temporada até setembro”, comenta Gislane Tanaka, gerente geral da instituição.
 
 
 
 
 
Ela lembra que a história da companhia mineira de teatro Luna Lunera com o CCBB BH começou logo na inauguração da sala de teatro do museu, em outubro de 2013, com o espetáculo “Prazer”, que cumpriu temporada até dezembro daquele ano.
 
“À época, a gente ficou inseguro se teríamos público para uma temporada longa, que se estenderia até perto do Natal. E a gente teve! Tanto que a peça é até hoje recordista de público”, pontua, citando que, ao longo de 38 apresentações, a peça foi vista por quase 10 mil espectadores.
 

Reencontro

 
A atriz Isabela Paes, que participa da concepção tanto de “Aquela que eu (não) fui” quanto de “Prazer”, guarda com carinho as memórias dessa produtiva parceria que agora completa seus primeiros 10 anos. “Para nós, foi um prazer enorme inaugurar mais um espaço para as artes cênicas na cidade. Sabíamos que seria algo importantíssimo e emblemático, mas, sinceramente, nenhum de nós esperava uma recepção tão positiva”, recorda, citando que, ao final da peça, o grupo propunha à plateia uma dança.
 
“Até que no último dia a gente propôs que essa dança fosse no pátio, com direito a um banho de mangueira”, acresce, classificando o evento como um batismo do espaço.
 
Para Isabela, o grande mérito do CCBB BH é conjugar em um só lugar espetáculos que vem de outros territórios e aqueles propostos por grupos locais. “Dessa maneira, fica mais fácil para o público compreender que nossa produção é de igual qualidade”, comenta.
 
“E além de ser um lugar de vitrine, é importante lembrar que a instituição investe na criação, o que é importantíssimo”, ressalta, lembrando que tanto “Prazer” como “Aquele aquela que eu (não) fui” foram financiadas pelo banco. Ela ainda detalha que o espetáculo que recém estreou já havia sido aprovado por um edital do equipamento anos atrás, mas não pôde estrear devido às restrições sanitárias exigidas para o enfrentamento da pandemia da Covid-19.
 
“Quando retomamos essa conversa, partiu do próprio CCBB BH a proposta de que o debute fosse justamente no contexto da celebração de 10 anos do lugar”, cita.
 
Em cartaz até 25 de setembro, a peça tem dramaturgia assinada por Diogo Liberano (RJ) e se estrutura em quatro capítulos, que recebem os olhares de quatro direções: Vinícius Arneiro (RJ), Marina Arthuzzi (BH), Lucas Fabrício (BH) e Isabela Paes (BH), integrante do grupo. A assistência geral de direção é de Zé Walter Albinati, também membro da companhia. Em cena, a atuação de Cláudio Dias e Marcelo Soul é somada com a participação das atrizes Joyce Athiê e Renata Paz.
 
Conforme a sinopse, o espetáculo transita em torno de fragmentos das trajetórias de personagens – que podem aparecer novamente ou não a cada capítulo – que se deparam com situações nas quais se instala algum tipo de ruptura, de mudança, pequena ou grande transformação, determinada seja pelos desejos das personagens ou alheia à vontade delas. 
 
“Eu acho que essa montagem é também um convite a não aceitar e não querer ser a versão mais insatisfatória de nós mesmos. Se existe insatisfação, portanto, que a gente olhe para dentro, para os nossos bloqueios e encare-os sem medo, aceitando as intuições, as vontades, aquilo que se quer ser”, avalia Isabela.
 
“Se em ‘Prazer’ a gente fala da alegria ‘apesar de’, agora trazemos reflexões sobre o ‘e se’, mas não de uma perspectiva da frustração e, sim, a partir de um olhar mais generoso para nós e para essa pessoa que eu não fui e que continua existindo, que seja como um assombração a me perseguir”, avalia.
 

Estreia

 
Sobre a mostra Studio Drift, Gislane Tanaka lembra que a atração, que chega agora em Belo Horizonte, já passou pelas unidades do CCBB no Rio de Janeiro e em São Paulo, indo muito bem em ambas as praças. “É uma exposição muito bonita, muito plástica, com instalações que as pessoas podem interagir, tirar fotos… A nossa expectativa é que ela tenha aqui também um bom retorno”, garante.
 
Assinando a curadoria da mostra com Alfons Hug, Marcelo Dantas também se mostra animado com a chegada do projeto à capital mineira. “O CCBB BH é uma instituição estratégica no escopo dos equipamentos culturais brasileiros, sendo um espaço que já se consolidou. Por isso, para nós, esta é uma importante oportunidade”, comenta, lembrando que a exposição apresenta trabalhos dos artistas holandeses Lonneke Gordijn e Ralph Nauta, da dupla DRIFT, que exploram a relação entre seres humanos, natureza e tecnologia.
 
“Embora as obras deles já tenham vindo separadamente para o Brasil, esta é a primeira vez que apresentamos um conjunto tão grande de obras”, menciona. Conforme o curador, nesta exposição natureza e tecnologia coexistem em harmonia. Ele detalha que, por meio do conceito de animismo, as criações da dupla exploram a conexão entre todos os elementos da natureza, incluindo objetos inanimados, e sugerem uma forma de reconectar-se com o planeta.
 
“Eles trazem também uma provocação, que diz muito do nosso tempo, ao nos fazer olhar para manifestações artificiais e observar nelas uma pulsão de vida”, sinaliza.
 
Dentre as obras, destaca-se “Fragile Future”, que utiliza sementes de dente-de-leão e circuitos elétricos de bronze para criar uma escultura multidisciplinar de luz. A obra aborda a evolução e sobrevivência em um contexto de futuro utópico e crítico. Outra peça impressionante é “Shylight”, que explora o comportamento noturno das flores por meio de uma escultura hipnótica que se fecha à noite.
 
Já a série “Materialism” explora o papel humano na transformação da natureza, onde peças em forma de blocos condensam objetos, instigando a imaginação sobre essa relação. A exposição, que fica em cartaz até 6 de novembro, também apresenta a colaboração com o Estúdio Campana, trazendo a “Cadeira Banquete” como parte da mostra. A exposição inclui ainda obras como “Amplitude”, “Franchise Freedom”, “Coded Nature”, “Drifters”, “Dandelight” e “Making of DRIFT”, que revela os bastidores do trabalho da dupla.
 

Mais atividades

 
Ainda na esteira de atividades celebrando seus primeiros 10 anos, o CCBB BH realiza um bate-papo com o renomado fotógrafo Walter Firmo, cujos trabalhos estão atualmente em exposição no térreo do museu. O evento acontece nesta quarta-feira (30). Além disso, o equipamento convida o visitante a fazer uma imersão no passado, resgatando a memória do prédio desde sua construção até os dias atuais, por meio de fotos antigas, cartazes de projetos e catálogos de exposições.