E quem abriu a apresentação foi Mônica Salmaso. "Um boa noite cheio de esperança. Aqui quem fala é a Cinderela", anunciou. A cantora paulista, que é convidada desta temporada de shows, já de cara mostrou na primeira música "Todos Juntos" (Enriquez/Bardotti - Versão: Chico Buarque), de "Os Saltimbancos", o tom do que viria pela noite: "Todos juntos somos fortes/Somos flecha e somos arco/Todos nós no mesmo barco/Não há nada pra temer". Ou seja, um show político sem ser necessariamente explícito. As letras falavam por si.
Mas já falando no assunto, manifestações pró-Lula e contra o presidente Jair Bolsonaro se fizeram presentes antes, durante e após o espetáculo e não só na plateia. A banda, Mônica e o próprio Chico não deixaram de fazer o famoso "L", alusivo ao candidato do PT.
Mônica Salmaso, muito bem à vontade no palco e no repertório, não só soltou a bela voz, mas ainda chegou a tocar alguns instrumentos. Chico Buarque só adentrou no palco no fim da sexta canção "Paratodos" (Chico Buarque) e levou o público, sobretudo, o feminino, (aliás, a grande maioria dos presentes eram mulheres), ao delírio. Gritos de "lindo", maravilhoso" e "casa comigo" foram ouvidos em vários momentos das quase duas horas de show.
O repertório de 33 canções, que passeou pela trajetória de mais de cinco décadas de carreira do cantor e compositor de 78 anos, emocionou os espectadores. E Chico Buarque cantou TODAS as músicas de cor e salteado. Num determinado momento, quando ele apresentou sua banda formada por João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo acústico e elétrico), Marcelo Bernardes (sopros), Jurim Moreira (bateria) e pelo maestro Luiz Claudio Ramos (violão, guitarra e arranjos), ele soltou.
"Eu pensei em colocar um teleprompter (equipamento construído para projetar textos em um monitor) pra me ajudar, mas aí iriam me questionar. 'Como ele é o autor dessas músicas e não sabe nem as letras?'Já me acusaram de tanta coisa na internet e iam acabar me acusando de ter comprado minhas músicas. Podem me chamar de esquerdopata, de mamífero que mama nas tetas do governo e até de tchutchuca, mas de comprar minhas músicas não", brincou o autor de "Futuros Amantes".
O belíssimo cenário de Daniela Thomaz, com direito à projeções de fotografias que casavam com as músicas que estavam sendo executadas, foram um dos destaques da noite mágica que teve direito à homenagem ao "maestro soberano" e parceiro de "Imagina" e "Sabiá", Tom Jobim, e à irmã Miúcha, que morreu em 2018. Ao lado de Mônica, Chico interpretou "Maninha" (Chico Buarque) .
E, claro, além de samba, como a própria música que batiza a turnê sugere "Que Tal Um Samba?" (única inédita do setlist), teve baião, valsa, blues e cantiga. Um repertório que arrepiou e fez muita gente chorar de emoção. Definitivamente, Chico Buarque de Holanda consegue se superar a cada turnê.
No fim, o público acompanhou as três músicas do Bis - "Maninha", "Noite dos Mascarados" (Chico Buarque) e "João e Maria" (Sivuca/Chico Buarque) de pé e com pedidos de "mais um". Uma noite inesquecível para quem foi e com a esperança de que "depois de tanta mutreta/ depois de tanta cascata/depois de tanta derrota/ depois de tanta demência", "que vem aí bom tempo".
Confira o Setlist TURNÊ ‘QUE TAL UM SAMBA?’