Corria o ano de 1980 e os irmãos Kleiton e Kledir eram dois artistas gaúchos começando a carreira solo após a dissolução da banda Almôndegas. Uma das faixas do álbum de estreia, “Vira Virou” não só foi gravada pelo MPB4, conjunto vocal já consolidado no cenário nacional àquela altura, como deu nome ao disco do quarteto.
A canção fez um enorme sucesso e Kleiton e Kledir foram convidados para viajar pelo país com o MPB4, que, em 1979, já havia feito sua própria versão para “Circo de Marionetes”, que leva a assinatura da dupla e encerra o último disco dos Almôndegas, reconhecida como uma das pioneiras em mesclar a música tradicional gaúcha com elementos do rock, do pop e da MPB.
“Viajamos o Brasil inteiro ao longo de dois anos. Éramos só dois guris começando a carreira, nossas músicas começaram a tocar nas rádios, nos apresentamos em ginásios lotados. Foram momentos muito especiais, nos transformamos em amigos, aprendemos sobre a vida na estrada, o dia a dia da profissão”, conta Kledir.
Há 45 anos, portanto, os caminhos da dupla gaúcha e do MPB4 se encontram. Desde então, compuseram juntos e firmaram parcerias em discos e mais recentemente no single “Paz e Amor” (2020), nos tenebrosos tempos de pandemia. Essa estreita e frutífera relação ganha mais um capítulo com o show inédito que chega a Belo Horizonte nesta sexta-feira (4).
O Grande Teatro do Palácio das Artes (detalhes no fim da matéria) reunirá novamente os seis artistas, que passaram pela capital mineira em 2022, mas agora a apresentação conta com algumas novidades, como os momentos em que o palco fica só para Kleiton e Kledir, que depois saem por alguns instantes e dão lugar a Aquiles, Miltinho – remanescentes da formação clássica do MPB4 –, Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti.
Nesse formato, o show estreou em Porto Alegre e seguiu, antes de desembarcar em BH, para São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza. “O Miltinho me ligou e resolvemos montar um novo show juntos”, diz Kledir. “Em 2022, éramos os seis no palco o tempo todo. Depois entendemos que, para a dinâmica do espetáculo, seria muito melhor ter um momento da dupla e depois um só do MPB4. Também houve alguns ajustes no repertório. É uma evolução do projeto”, emenda.
Entre canções e conversas entre amigos que dividem tantas histórias, o repertório passeia por sucessos da dupla, como “Vira Virou”, “Deu Pra Ti”, “Paixão” e “Maria Fumaça”, além de “Paz e Amor”, e temas clássicos da música popular brasileira na voz do MPB4, entre elas “Roda Viva”, “Apesar de Você”, “Amigo É Pra Essas Coisas” e “Cálice”.
Disco de inéditas à vista
Além da turnê com o MPB4, Kledir se empolga ao falar sobre o disco de inéditas que irá lançar com o irmão Kleiton. Em fase de pré-produção, o álbum começa a ser gravado neste segundo semestre. O compositor diz ter uma quantidade enorme de músicas guardadas: “Somos criadores compulsivos”. Parcerias com Ivan Lins e a argentina Aracely Matos, neta de Mercedes Sosa (1935-2009), voz colossal da América Latina, estão entre as novidades.
“Buscamos nesse novo disco a consciência dessa identidade gaúcha contemporânea, é a nossa identidade Kleiton & Kledir. Temos influência das milongas, da música tradicionalista, mas não ficamos presos a isso. Somos pessoas urbanas, contemporâneas”, comenta Kledir.
Show com o irmão Vitor
Na semana que vem, mais precisamente no dia 11, Kleiton e Kledir se unem ao irmão Vitor Ramil para o início de um projeto também inédito: como trio, sem os filhos e sobrinhos que os acompanharam em “Casa Ramil” e à exceção de participações eventuais em discos e shows, eles jamais haviam se reunido em uma apresentação pensada para celebrar suas trajetórias.
A ideia é viajar pelo país, mas, em princípio, o espetáculo terá datas em Porto Alegre e Pelotas, terra natal dos irmãos. Sem banda que os acompanhe, Kleiton, Kledir e Vitor sobem ao palco no formato voz e (vários) violões e voltam a um tempo pré-Almôndegas, num tempo em que melodias de Crosby, Stills & Nash, Cat Stevens e Simon & Garfunkel faziam a cabeça dos três jovens gaúchos. “O show vai nessa onda, tentando resgatar esse espírito, esse tempo mais analógico”, destaca.
Será, também, uma visita às origens, mas sem melancolia, avisa Kledir: “O mundo avança. Vamos, sim, fazer um passeio por Pelotas, mas é como se a gente revisitasse esse tempo numa oitava acima”.
Programe-se
O quê. Show Kleiton & Kledir e MPB4
Quando. Nesta sexta-feira (4), às 21h
Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro)
Ingressos. A partir de R$ 115 na bilheteria do teatro Palácio das Artes e pelo site Eventim