Dos que vão morrer, aos mortos

Escritor mineiro que viralizou na web lançará livro no sábado, no Mercado Novo

Romance de Rafael Sette Câmara, “Dos que vão morrer, aos mortos, se passa em BH e fala sobre um filho que tenta compreender a misteriosa morte da mãe.

Por O Tempo
Publicado em 26 de fevereiro de 2024 | 13:05
 
 
 
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Uma mulher faz almoço em casa quando toca o telefone. Ela atende, deixa as panelas no fogo e sai, e seu corpo é encontrado 36 horas depois, em outra cidade. Esse é o instigante começo do livro "Dos que vão morrer, aos mortos”, romance de estreia do escritor mineiro Rafael Sette Câmara que será lançado oficialmente no próximo sábado, dia 2 de março, no Mercado Novo, em Belo Horizonte.

O livro, publicado pela Editora Urutau, viralizou no X, antigo Twitter, antes mesmo da publicação, atingindo 1.5 milhão de pessoas e levando a obra a um recorde: foi a maior pré-venda da história da editora. 

Embora seja uma obra de ficção, Rafael trouxe histórias da sua vida para compor a trama - e a morte da mãe é uma delas. “Alguns fatos ocorreram na vida real, outros são realidade apenas em mim", explica o autor. "Se minha mãe não tivesse partido de forma violenta e incompreensível, nada do que escrevi existiria. Infelizmente, é nesse ponto que ficção e realidade se confundem.”

“Dos que vão morrer, aos mortos” é uma história sobre o luto e passagem do tempo, mas também fala sobre fé, intolerância religiosa e doenças como a depressão. “Tentei transformar minha história mais triste em algo belo, minha dor em literatura. Este romance é uma espécie de exorcismo”, completa. 

BH como cenário

O livro traz descrições detalhadas de paisagens da capital mineira: Praça Sete, Rua Sapucaí, Edifício Maletta, Tobogã da Contorno, Pampulha, Savassi e o Cemitério do Bonfim são alguns dos endereços que aparecem na história.

“A cidade onde vivemos tanto nos abraça quanto nos engole, e serve de cenário para as melhores e as piores histórias de quem vive ali”, explica Sette Câmara. "BH é mais que uma testemunha da dor e do amadurecimento do narrador, é também personagem da obra", diz o autor.

O lançamento será aberto ao público no dia 2/3, sábado, às 11h, no Museu Imaginário, no terceiro piso do Mercado Novo. Haverá um bate-papo com o autor, mediado por Lúcio Magalhães e Erick Bernard, que comandam o perfil @ruasdebh. O evento contará ainda com sessão de dedicatórias. 

"Dos que Vão Morrer, aos Mortos" tem 172 páginas e custa R$ 60. Pode ser adquirido online, no site da editora Urutau, ou diretamente com o autor @rafaelsettecamara, que envia com dedicatória. O livro teve leitura crítica da escritora Laura Cohen Rabelo, atual vencedora do Prêmio da Academia Mineira de Letras. A orelha é assinada pela escritora Marcela Dantés, finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura. 

Trechos do livro:

“O luto, essa planta suculenta, uma mãe-de-milhares que se reproduz infinitamente. Espalhada pelo sopro mais leve, capaz de brotar até na falha do rejunte dos azulejos e nutrida por uma gota d’água, logo ela toma conta do jardim. Sufoca todo o resto, e, mesmo quando é arrancado do peito, o luto segue enraizado, pronto para ressurgir e virar solidão”.

Dos que vão morrer aos mortos, página 34

“O sol se punha escarlate. À nossa frente, a Serra do Curral emoldurava os arranha-céus que escalam a montanha. No alto da Avenida Afonso Pena, prédios modernos e espelhados refletiam o fim do dia, que termina na ponta oposta de Belo Horizonte. A avenida desce reta, quatro quilômetros de asfalto que cortam o centro da cidade de norte a sul, artéria lotada de pessoas voltando para suas casas. Observávamos a cidade planejada dos vivos, em frente, com seu ruído constante e cortante, até que o concreto dos prédios é substituído por cruzes, anjos retorcidos e Cristo crucificado no mármore. Não uma, não duas, mas centenas de vezes. Incontáveis Cristos agonizam eternamente em incontáveis túmulos, alguns novos e floridos, indicando mortes recentes e ainda choradas. Outros velhos e abandonados, provas de que até a morte em seu símbolo máximo, a sepultura, envelhece. As silhuetas de milhares de tumbas eram iluminadas pelo fim do dia, mausoléus tão grandes que pareciam casas, a cúpula da capela transformada em catedral. O município planejado dos mortos. Trezentas e cinquenta mil pessoas em sono eterno e divididas em quarteirões idênticos e de ruas largas e arborizadas, a morte reta e simétrica. Das árvores vinha o canto das maritacas que se preparavam para dormir, uma algazarra que se sobrepunha ao barulho distante do trânsito. Foi o pôr do sol mais bonito que já vi”.

Dos que vão morrer, aos mortos, página 20

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