Desencontro

Filarmônica diz desconhecer acordo com SESI para gestão da Sala Minas Gerais

Instituto que gere a Filarmônica e sua sede emitiu nota após divulgação de acordo

Por Alex Bessas e Bruno Daniel
Publicado em 05 de abril de 2024 | 17:04
 
 
 
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Em reação às notícias de que a Sala Minas Gerais, no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, será administrada pelo SESI Minas pelos próximos cinco anos, a partir de abril deste ano, o Instituto Cultural Filarmônica (ICF), responsável pela gestão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e de sua sede – a Sala Minas Gerais –, informa não ter tomado conhecimento da assinatura do “Acordo de Cooperação Técnica para Gestão Compartilhada da Sala Minas Gerais e Mineiraria” entre a CODEMIG e a FIEMG/Sesi Minas, desconhecendo também o teor deste acordo. “Neste momento, aguarda mais informações e o devido diálogo entre as instituições envolvidas”, diz a instituição por meio de nota.

Conforme noticiado por O TEMPO, o acordo teria o objetivo de aumentar a movimentação dos dois locais, que segundo o Governo de Minas, está “subutilizado”. No evento de celebração da parceria, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe, criticou que o fato de, segundo ele, a Sala Minas Gerais só receber apresentações de quinta a domingo. Além disso, ele argumentou que a temporada de concertos começa apenas em março, o que estaria, nas suas palavras, trazendo dificuldades de gestão para a própria Filarmônica. 

“Aquilo que é ocioso não consegue se manter. Quem vai montar uma estrutura aqui para ter apenas três horas de espetáculo por semana? Este prédio tem que estar vivo, ocupado, borbulhando o dia inteiro. O prédio é magnífico, mas infelizmente está subutilizado. Vamos manter a potencialidade da Orquestra e manter o espaço vivo da cultura de Minas Gerais”, declarou Roscoe.

O ICF, por outro lado, argumenta no sentido contrário. “A Sala Minas Gerais já possui uma ocupação por parte da Filarmônica de 270 dias por ano, sendo mais de 80 apresentações nas tradicionais séries de concertos com a presença de convidados de renome internacional e um público anual de cerca de 100.000 pessoas, além de ensaios e ações educacionais gratuitas, como os Concertos para a Juventude e os Concertos Didáticos”, aponta o instituto em nota. “A sala de concertos é também o local para a gravação de todos os álbuns da Filarmônica, totalizando 12 lançamentos internacionais, com uma indicação ao Grammy Latino em 2020”, complementa.

“Em meio à pandemia, recursos captados pelo ICF permitiram a instalação na Sala Minas Gerais de seu próprio estúdio de TV para a realização de transmissões ao vivo de seus concertos – até o momento foram realizadas quase 100 transmissões e gravações, promovendo um alcance nacional e internacional da Orquestra para milhares de pessoas, tendo obtido dois reconhecidos prêmios por essa ação. Implementada em 2021, a Academia Filarmônica também tem como sede a Sala Minas Gerais para a realização das suas atividades educacionais e apresentações, com o uso diário de diferentes espaços pelos alunos. Além destas atividades promovidas pelo Instituto Cultural Filarmônica e pela Orquestra, a Sala Minas Gerais é também palco para diferentes eventos corporativos e culturais, sendo uma importante fonte de receita para a sustentabilidade do espaço e da própria Orquestra”, prossegue o ICF.

Mais eventos

Reforçando que as visões sobre o uso do espaço parecem destoantes, durante o evento de celebrou a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica para Gestão Compartilhada da Sala Minas Gerais e Mineiraria, falou-se em ampliar a utilização do espaço. A ideia é que a Sala Minas Gerais, erguida em 2015, passe a receber grandes produções musicais, nacionais e internacionais, além de espetáculos, eventos corporativos e empresariais. Para o espaço externo, a ideia é promover festivais de música, gastronomia, literatura, teatro e empreendedorismo. 

O secretário de estado de Culturae Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, por exemplo, disse acreditar que, com o acordo, o espaço tem potencial para se tornar um “novo Palácio das Artes”: “Eu vejo aqui capacidade de receber exposições. E podemos dinamizar com novos usos. O Palácio das Artes é o coração da cultura, mas ele também se abre para outras áreas, como encontro de gestores. Acredito que ganhamos um espaço muito importante, integrado, que é a Sala Minas Gerais”.

Bem-sucedida

O ICF, por sua vez, sustenta que a Filarmônica de Minas Gerais é uma das iniciativas culturais mais bem-sucedidas do país. “Juntas, Sala e Orquestra vêm transformando a capital mineira e o Estado de Minas Gerais em polo da música sinfônica, com reflexos positivos no turismo, no comércio, nos serviços e na geração de empregos, criando riqueza e promovendo o nome do Estado no cenário internacional”, lê-se na nota à imprensa. No documento, o instituto ainda esclarece que “participou de edital, lançado pelo Governo de Minas Gerais em 2020, para a seleção pública de entidade para operação e manutenção da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, juntamente com a gestão, operação e manutenção da Sala Minas Gerais, tendo sido a instituição vencedora deste chamamento público”.

“Uma gestão compartilhada com outra instituição, como a FIEMG/Sesi Minas poderia ser oportuna desde que seja para contribuir, como fazem as grandes empresas de São Paulo parceiras das orquestras, nos esforços que o ICF vem empreendendo em favor da sustentabilidade da Filarmônica, de sua programação artística e da utilização da Sala Minas Gerais para os objetivos que motivaram a sua construção, concebida para ser a sede da Filarmônica e realização de suas atividades, cumprindo, assim, seu papel como importante agente da política cultural do Estado”, indica a entidade responsável pela gestão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

Transição

Segundo os informes noticiados anteriormente por O TEMPO, os espaços contemplados no acordo são a Sala Minas Gerais, a Mineiraria e os três pavimentos de estacionamento no local. A previsão é que haja uma transição de gestão entre o SESI e a Filarmônica até junho, quando a instituição ligada à Fiemg começa efetivamente a participar da administração. Os espaços continuam sendo propriedade do Governo de Minas, por meio da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). O SESI Minas vai fazer a exploração comercial do espaço. 

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