Cinema

Filmes de Plástico faz 15 anos, lança distribuidora e prepara novas produções

Quarteto mineiro já lançou 25 curtas e longa metragens, que acumulam mais de 50 premiações

Por Alex Bessas
Publicado em 04 de abril de 2024 | 06:30
 
 
 
normal

Como ideia e prática, a Filmes de Plástico surgia há 15 anos, em um 1º de abril, quando Gabriel Martins e Maurílio Martins finalizavam o curta “Filme de Sábado”, projeto de estreia da produtora de Contagem, na região metropolitana, que, desde a sua fundação, conta com outros dois membros, André Novais Oliveira e Thiago Macêdo Correia – sendo os três primeiros cineastas, e o último, produtor.

“Nossa intenção, desde o início, era ter um nome que assinasse todos os filmes, porque, no fim das contas, a gente já entendia e queria comunicar que o trabalho coletivo, para nós, deveria ser maior do que os êxitos individuais”, explica Gabriel Martins, lembrando que a formalização veio sem pressa – precisamente, foram três anos trabalhando juntos até que a empresa ganhasse um CNPJ. 

Uma década e meia depois, é sensível que o quarteto alcançou a que era a sua ambição original. Não por outro motivo, quando a Filmes de Plástico apresentava, no fim do ano passado, no Festival de Brasília, a comédia romântica “O Dia que Te Conheci”, protagonizada por Renato Novaes e Grace Passô, os aplausos vieram ainda nos créditos iniciais, diante da logomarca da produtora.  

“Não me recordo de ter presenciado reação semelhante a nenhuma outra produtora brasileira, o que denota o carinho do público (bastante expressivo) desse evento e o reconhecimento de um legado da produtora mineira, construído nos últimos anos não apenas em Brasília, mas em festivais dos mais diversos — desde os universitários como o FBCU até vitrines internacionais como Cannes, passando pela Mostra de Tiradentes”, registra Vitã, cineasta e roteirista que também se dedica à pesquisa e crítica de cinema, no ensaio “Dois alguéns apaixonados”, em que, para a “Revista Moventes”, analisa a nova produção da Filmes de Plástico.   

E, agora, embalados justamente pelo lançamento do premiado “O Dia que Te Conheci”, é que Gabriel, Maurílio, André e Thiago anunciam a fundação de sua própria distribuidora, a Malute. O nome escolhido, diga-se, dialoga com o DNA da Filmes de Plástico, que, nesses 15 anos, fez história com um modo de produção que prioriza uma rede de afetos evidenciada pela presença, em suas produções, de atores e atrizes não profissionais, que geralmente possuem estreito grau de proximidade com o quarteto.

Nada mais coerente, portanto, que a nova empreitada homenageasse Maria José, a Dona Zezé, mãe de André, que faleceu em 2018 e era carinhosamente chamada de “Malute” por seu marido, Norberto, pai do cineasta. O casal, inclusive, aparece em filmes da produtora, como em “Ela Volta na Quinta”, de 2014. 

Marco importante

“Esses 15 anos são um marco importante, que acompanha um momento em que a produtora se abre para novos horizontes e dá novos passos. O primeiro deles é a abertura da nossa distribuidora, a Malute, o selo que vai distribuir os nossos filmes a partir de agora”, revela o produtor Thiago Macêdo Correia, detalhando que algumas das numerosas novas produções da Filmes de Plástico ainda vão sair em parceria com a também mineira Embaúba Filmes, parceira histórica da produtora mineira. 

“A Malute vai estrear lançando o novo filme do André”, explica Thiago, referindo-se a “O Dia que Te Conheci”, que, só no mencionado Festival de Brasília, conquistou três Candangos: um para Renato Novaes, na categoria Melhor Ator, outro para Grace Passô, como Melhor Atriz, e mais um para André Novais, pelo roteiro. O título ainda foi agraciado com o Prêmio Zózimo Bulbul, concedido por júri indicado pelo Centro Afro-Carioca de Cinema e pela Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan).  

“Nesta semana estamos indo estreá-lo em Nova York, em um festival no MoMA”, informa o produtor, acrescentando que o longa entra no circuito comercial, no Brasil, em 13 de junho – oportunamente, na semana do Dia dos Namorados. 

Experimentar novos caminhos

Thiago Macêdo Correia sustenta que o lançamento da Malute está em sincronia com um desejo antigo do quarteto: o de experimentar diferentes possibilidades de comunicação com o público. “Além das nossas próprias produções, a distribuidora também deve lançar, eventualmente, projetos de outros realizadores e pessoas que nos interessam”, detalha. “Além disso, tem a ver com a nossa intenção de querer meter mais a mão nesses processos”, acresce. 

“Eu sinto que nós somos um pouco inquietos, que somos meio abusados. A gente vê que existem caminhos previamente testados que, teoricamente, garantem uma segurança mercadológica, mas, ao mesmo tempo, queremos testar, fazer um pequeno atalho, experimentar uma nova rota. Pode ser que funcione, pode ser que não funcione. Mas, ao menos, teremos aprendido algo nesse processo”, expõe. 

Gabriel Martins acrescenta que a ideia já vinha sendo gestada desde 2016, ganhando mais força a partir do lançamento de “Marte Um”, seu terceiro longa-metragem, que, lançado em 2022, fez sua estreia mundial no Festival de Sundance (EUA), circulou por festivais e mostras por todo o planeta, acumulando 38 prêmios, além de ter sido escolhido para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023. No circuito comercial, o filme passou da marca de 100 mil ingressos vendidos – número chamativo para o cinema brasileiro independente.

“A nossa experiência ao longo dessa década e meia e, mais especificamente, com esse filme nos mostrou que existiam coisas que gostaríamos de ter tentado e que, naquele momento, sem ter o controle sobre todas as etapas, não tivemos condições”, pontua. 

Novas produções

A julgar pelo volume de trabalho que o quarteto por trás da produtora Filmes de Plástico e, agora, da distribuidora Malute tem pela frente, a sensação que fica é que o uso da locução adverbial “um pouco” antes de “inquietos” e do advérbio “meio” antes de “abusados” é um mero sinal de modéstia. 

“Nosso aniversário também coincide com o início do trabalho do André com o próximo longa dele, que se chama ‘Se Eu Fosse Vivo... Vivia’. Estamos na segunda semana de pré-produção desse projeto”, explica, informando que o filme deve começar a ser rodado no dia 1º de maio, estando previstas seis semanas de filmagens em Contagem. “É um filme muito, muito importante para nós, porque marca um momento diferente na carreira do André. Nele, ao mesmo tempo que tem questões que talvez sejam muito familiares e próximas do que o público espera dele, tem também coisas que são muito diferentes”, analisa, descrevendo a nova produção como uma mescla de drama cotidiano com realismo fantástico e ficção científica. “É um filme que nos empolga muito”, revela. 

“No segundo semestre a gente roda o próximo filme do Gabriel, chamado ‘Vicentina Pede Desculpas’, o projeto mais estruturalmente robusto que realizamos na produtora até esse momento”, adianta.  

“Paralelamente, estamos finalizando o primeiro longa solo do Maurílio, o ‘Último Episódio’, filme que rodamos no finalzinho da pandemia e, agora, entra em reta final, sendo finalizado”, indica. A expectativa é que o título comece a circular em festivais no início de 2025, estreando, provavelmente, no segundo semestre do mesmo ano. O filme conta a história de três adolescentes, ambientada no início dos anos de 1990, em Contagem – “e é nossa homenagem à ‘Sessão da Tarde’”, define o produtor, citando a sessão de filmes vespertinos exibida pela TV Globo desde 1974, responsável pela formação inicial de parcela significativa do público interessado nas produções cinematográficas no Brasil.  

Por fim, também no início de 2025, a Filmes de Plástico planeja iniciar as filmagens de sua primeira série, intitulada “Natal dos Silva”. Criada por Gabriel Martins, a nova produção, classificada como uma comédia familiar, que vai sair pelo Canal Brasil no final do mesmo ano, será escrita e dirigida pelos três cineastas e terá cinco episódios de 30 minutos cada um. 

Retrospectiva

Simultaneamente ao lançamento de uma distribuidora e à produção de três filmes e uma série, os cineastas André Novais de Oliveira, Gabriel Martins e Maurílio Martins e o produtor Thiago Macêdo Correia ainda têm fôlego para planejar mostras retrospectivas, celebrando esses 15 anos da Filmes de Plástico. “Estamos planejando eventos tanto aqui, em BH, como em São Paulo”, adianta Gabriel. 

A ideia, explica André, é que essas mostras contemplem todos os 25 curtas e longas da Filmes de Plástico, que, aliás, somam mais de 50 prêmios em festivais nacionais e internacionais. Gabriel complementa existir a intenção de aliar essas exibições a comentários do quarteto. “Embora a gente já tenha participado de várias sessões comentadas individualmente, foram poucas, até raras, as ocasiões em que fizemos isso os quatro juntos”, observa, lembrando que mesmo filmes que já foram comentados por alguns deles no passado ganham novas leituras agora. “Um curta que fizemos lá no comecinho vai ser revisto por nós com mais distanciamento, possibilitando novas leituras, o que pode ser muito interessante”, opina. 

“Além disso, é uma forma de dialogar com um movimento interessante de uma nova cinefilia que está surgindo e que está descobrindo nossos filmes. Pessoas que, por exemplo, chegaram até nós por ‘Marte Um’ e, depois, foram descobrir que ‘Temporada’ (2018) também é da Filmes de Plástico”, cita.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!