ESTREIA

História de Mussum é retratada no cinema com Ailton Graça no papel do humorista

Filme produzido pelo mineiro André Carreira será lançado amanhã no país

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 01 de novembro de 2023 | 07:00
 
 
 
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Ailton Graça adianta que humor – como não poderia deixar de ser, em se tratando de um dos maiores comediantes do país – não falta em “Mussum, o Filmis”, que estreia amanhã nos cinemas. “Vai ter, sim, os seus momentos de riso, mas o que ele pega é na emoção”, assinala o ator que dá vida ao personagem, sob a batuta de Silvio Guindane. A expectativa sobre o longa é enorme, não só por o que representa o integrante de Os Trapalhões no imaginário popular, mas pela trajetória do longa-metragem, maior premiado do Festival de Gramado.

Mussum é um divisor de águas na trajetória de Ailton Graça, que recebe a sua primeira oportunidade como protagonista. Ele não é um humorista nato como o Antônio Carlos Bernardes, o nome por trás do Mussum, mas os dois carregam vários pontos comuns. “O Antônio Carlos nunca errou nas escolhas dele. Toda hora que mirou num alvo, ele foi e se deu bem. Ele se deixou levar. Eu também faço isso. Sou de religião de matriz africana e sigo o oráculo. Se ele diz para eu ir naquela direção, eu irei”, afirma Graça.

“Eu sempre fiz uma diferença muito grande entre comediante e cômico, porque o primeiro é capaz de fazer tudo. Eu procurei verticalizar nesse lugar, sempre propondo, às vezes na mesma linha, o drama e a comédia. Sempre gostei de brincar muito com isso”, analisa. E é exatamente esse caminho entre o choro e o riso que o filme produzido pelo mineiro André Carreira caminha. “Foi com esse pensamento que eu mergulhei para tentar dar vida ao Antônio Carlos”, destaca Graça, laureado como melhor ator em Gramado.

André Carreira lembra que a ideia surgiu há dez anos, após o lançamento da biografia “Mussum – Uma História de Humor e Samba”, de Juliano Barreto. “Esse livro teve bastante exposição na mídia, e eu o comprei na hora, como fã de Os Trapalhões, ávido por conhecer mais a história do grupo. O Mussum era Os Trapalhões para mim. Eu não tinha vivido por Mussum de antes. Quando comecei a descobrir que esse personagem era tão rico e toda a ligação dele com o samba e como passou a infância, eu pensei: ‘Isso merece um filme’”, recorda.

O pensamento inicial era fazer um documentário, mas, no primeiro contato com o filho de Mussum, Augusto Gomes, o produtor ficou sabendo que um projeto no formato já estava em andamento – e que seria lançado em 2018, com direção de Susana Lira. O próprio Augusto sugeriu uma ficção. “Eu gelei na hora. Dei uma gaguejada. Naquele momento, com os orçamentos limitados, era difícil para a gente fazer uma produção de maior porte, ainda mais reconstituição de época, indo dos anos de 1940 até 1994, quando ele morreu”.

Uma semana depois, ele encontra o roteirista Paulo Cursino, com quem trabalhou em “O Candidato Honesto”. E novamente ouviu a sugestão de uma ficção sobre o comediante. Até parecia coisa do destino. Foi aí que apareceu o nome de Graça, que estava filmando “Até que a Vida nos Separe”, com roteiro de Cursino e direção de Roberto Santucci. “Vendo o material das diárias, o Cursino percebeu as semelhanças de Ailton com o Mussum. Eu também vi o material, e chegamos num consenso que era ele quem deveríamos chamar”, registra Carreira.

Ailton Graça aceitou o convite imediatamente, mas teve que esperar muito para soltar os bordões do Trapalhão. “De lá para cá, foram muitos os desafios. O filme foi adiado várias vezes. Quando a gente preparava para rodar, vinha a crise da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e dava para trás. Preparamos para rodar de novo, Ailton entrava numa novela. Esperávamos um ano, (surgia) outra novela. Depois veio a pandemia. Mas em nenhum momento a gente cogitou outro nome, apesar de coprodutores terem sugerido para o projeto sair do papel”.

Graça destaca que, com “Mussum”, vive o seu primeiro protagonista na telona. Foi Santucci quem percebeu essa “falha”, após vê-lo em ação em cenas de humor de “Até que a Sorte nos Separe”, e começou a pensar em projetos para ele. “Falei para o Santucci que seria mais fácil se fosse um ‘pretogonista’. Pouco depois, ele voltou com uma inquietação gigante, dizendo já ter encontrado. ‘Você vai fazer o Mussum!’, falou. Fiquei empolgado. Pensei que começaria a rodar em seis meses, mas não foi o que aconteceu”, recorda.

O ator aproveitou esse longo tempo de atrasos para, em suas palavras, “encher o saco de todo mundo que teve alguma relação” com Mussum. “Aí fui jogar futevôlei com o Augusto; depois, fui atrás do outro irmão, Sandro, e comecei a procurar coisas na internet, mergulhando em tudo o que tinha do Mussum. A cada vez que falavam que iam rodar (o filme), mergulhava de novo. E, no meio desse processo todo, descobri uma coisa muito importante: para dar vida ao Mussum, só o Antônio Carlos. Mas, para dar vida ao Antônio Carlos, eu poderia me arriscar”.

Para Ailton Graça, o que a cinebiografia trata é justamente a respeito desse “cara que deu em um grande palhaço chamado Mussum”. Um olhar que ganhou ainda mais corpo com a entrada de Guindane na direção. “Eu, como sambista, não me perdoo ao não saber que o criador do reco-reco foi o Antônio Carlos, durante o período que passou na Aeronáutica. Havia muitas camadas dele que não chegavam para as pessoas”, sublinha. Logo também perceberam que não seria um filme somente sobre o ator. Mas, sim, a respeito da relação dele com a mãe.

“Essa relação vai permeando (a história) e discutindo uma série de coisas, como cidadania, sobrevivência do povo preto e como é ir atrás de seus sonhos”, aponta Graça. Um veio que foi determinante na construção do roteiro, a ponto de abrir mão de refazer algumas gags conhecidas. “O Cursino tem essa característica de alternar humor com momentos de drama, como ‘Tudo Bem no Natal do Ano que Vem’, que já navegava neste espaço da ‘dramédia’. A ideia é essa: levar o público a rir e, de repente, dar aquela porrada para as pessoas se emocionarem”, detalha Carreira.

Mas não foi fácil se manter fiel a essa chave. “Foi duro porque a vontade é de colocar tudo. As histórias são tão incríveis. Daria para fazer uma série, fácil”, afirma o produtor, que prontamente ouve de Graça que logo receberá um currículo com foto, assinando embaixo na ideia de um segundo projeto. “Por outro lado”, retoma Carreira, “havia a expectativa de entregar Os Trapalhões; por mais incrível que fosse a história pregressa, no final o público iria cobrar”. A solução foi abrir o filme com um esquete do quarteto, “dando de cara o que as pessoas querem”.

Nessa mesma cena, frisa Ailton Graça, “ele já sai Antônio Carlos, em que ele faz a gag e sai cumprimentando os amigos (dentro do estúdio da TV Globo)”. Uma cartada que Cursino repete várias vezes no filme. “Não dá para desassociar quem é o Mussum e o Antônio Carlos, mas dá para você contar a vida dele nessa dramédia. Isso dá conforto para quem vai ver Os Trapalhões, mas vai encontrar nessa referência o lugar do criador, vendo coisas que jamais viu. Não daria para tirar uma história de 25 anos de sucesso de ‘Os Trapalhões’”, observa.

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