Dança

A coreografia da resistência

Depois de dois anos desvinculado da FCS, Ballet Jovem Minas Gerais procura meios alternativos para se manter

Por Laura Maria
Publicado em 24 de abril de 2018 | 03:00
 
 
 
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Diretora do então Ballet Jovem do Palácio das Artes, Andréa Maia ainda se recorda do mês de maio de 2015: depois de oito anos à frente da companhia de dança e tendo formado 120 bailarinos, ela recebeu a notícia de que o grupo, vinculado à Fundação Clóvis Salgado (FCS), seria extinto, sob a justificativa da falta de verba. Ela, porém, não aceitou o comunicado calada.

Juntou-se aos outros bailarinos e professores para se manifestar contra a decisão. “Depois das manifestações e da repercussão ruim, ainda conseguimos ficar lá por um ano, mas a fundação não queria mais o projeto. Então, um dia, tudo se acabou, e nossos arquivos chegaram a ser jogados em uma caçamba”, relembra.

Os documentos foram perdidos, mas o projeto de continuar dançando, não. Três anos depois do ocorrido, a companhia de dança, rebatizada com o nome Ballet Jovem Minas Gerais (BJMG), não só não deixou de existir como também tem trabalhado na montagem de espetáculos. Os próximos, aliás, serão apresentados no dia 25 de maio, no Sesc Palladium.

Sem o amparo de uma grande instituição como a FCS, as dificuldades aumentam exponencialmente, especialmente aquelas relacionadas à falta de dinheiro. A companhia, porém, não se faz de rogada. Para arrecadar verba, foram promovidos desde “feijão tropeiro na casa de alguém” até inscrição na Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Atualmente, o BJMG tem se valido, há mais de um ano, da campanha de crowdfunding (financiamento coletivo online) da Evoé Cultural, na qual contam com a ajuda de pessoas físicas e jurídicas para manutenção da companhia, que inclui custos como transporte e alimentação dos bailarinos.

“O trabalho de direção e dos professores é voluntário, mas enfrentamos algumas dificuldades, como pagamento da passagem de ônibus para alunos. Muitos deles vêm do interior e moram na casa de algum parente. Nós, então, passamos a usar a plataforma para manutenção desses custos”, explica Andréa.

“O contribuinte pode apoiar pagando com o boleto ou cartão de crédito e, na finalização da compra, pode optar por abater do seu imposto de renda”, explica Bruna Kassab, fundadora da Evoé. Ela explica, ainda, que a campanha é de manutenção recorrente, ou seja, fica aberta a contribuições durante o ano inteiro. A meta mensal de arrecadação da companhia é de R$ 2.500, e o valor mínimo de contribuição é R$ 15.

Mais parcerias. O financiamento coletivo, entretanto, não cobre todas as despesas do grupo, segundo Andréa. O valor arrecadado para este mês está na casa dos R$ 460 (número consultado até o fechamento desta reportagem), o que representa apenas 18% da meta. “A maioria das pessoas que contribui é de conhecidos ou familiares”, diz.

Por isso, parcerias com outros órgãos são fundamentais. Atualmente, a companhia conta com o apoio do Centro de Referência da Juventude, o CRJ, localizado próximo à praça da Estação, que cede o espaço todas as manhãs de segunda a sábado para a realização de ensaios, que acontecem das 9h às 13h.

“Estamos no CRJ desde o fim do ano passado. Como as atividades se concentram mais no período da tarde e da noite, as manhãs são mais vazias. Estamos, inclusive, promovendo uma parceira com os outros coletivos de dança do CRJ para o Dia da Dança (comemorado no próximo domingo)”, reitera.

A companhia ainda conta com o apoio de teatros, que cedem o espaço para apresentação dos espetáculo, e de pessoas que se dispõem a doar sapatilhas para os bailarinos.

Trajetória

Desde 2007, o Ballet Jovem Minas Gerais proporciona estrutura e embasamento profissionais a jovens bailarinos amadores por meio de aulas e espetáculos. O grupo se apresenta com duas montagens no dia 25 de maio, com coreografias de Tíndaro Silvano e Alessandro Pereira.

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