Nara Leão, Nuno Roland e a turma do Balão Mágico gravaram a mesma música. Mas a interpretação que marcou Lula Lira, 24, foi a de Chico Science (1966-1997), em 1996, no “Programa Livre”, do SBT.

“Eu assisti a um vídeo do meu pai cantando ‘Tem Gato na Tuba’ (de Braguinha e Alberto Ribeiro, lançada em 1948), e achei que tinha tudo a ver com o nosso show, foi uma sugestão especial minha”, declara a filha do mentor da Nação Zumbi, em referência ao espetáculo que ela traz nesta sexta (28) à capital mineira. Ao lado do músico China e integrantes do grupo pernambucano Mombojó, Lula se apresenta com a banda infantil Coisinha no festival Saci (Sociabilização, Arte e Cultura na Infância).

“Comecei a trabalhar com o público infantil ainda criança, no teatro. Então, é algo que está muito vivo na minha memória afetiva”, sustenta Lula, que aproveita para delinear o espírito da apresentação de sexta (28). “Especialmente para esse projeto, busco muito das minhas primeiras lembranças para criar uma atmosfera legal com as crianças sem que exista qualquer tipo de hierarquia. A gente lida com elas de igual para igual. Todas as interações com a plateia estão ligadas às nossas experiências de quando pivetes”, garante.

Atriz. A experiência cênica, aliás, desenvolvida em peças como “A Paixão Segundo Nelson”, dirigida por Débora Dubois, também é sentida no espetáculo musical. “Minha vivência no teatro tem influência direta na cantora. São duas coisas que andam juntas. Quando você canta uma canção, automaticamente você a interpreta, seja gesticulando, nas expressões faciais. Isso também é atuar. Todo cantor é ator da música que se canta”, considera Lula.

Embora não tenha planos para voltar aos palcos de teatro em breve, a artista segue exercitando a veia dramática e, atualmente, grava a série “Lama dos Dias”, com direção compartilhada por Hilton Lacerda (“Tatuagem”), e DJ Dolores, e elenco composto por nomes como Maeve Jinkings (“Aquarius”, “O Som ao Redor”) e Julio Machado (“Os Dias Eram Assim”, “Velho Chico”). Ainda sem previsão de estreia, a produção será veiculada pelo Canal Brasil, e aborda o período em que o movimento manguebeat eclodiu no Recife, no início dos anos 90.

“Meu pai e a turma que estava com ele na época deu vida a um lugar que vivia afundado na miséria e no marasmo. Recife era considerada a quarta pior cidade do mundo quando as coisas começaram a acontecer por lá. O movimento mangue trouxe muita força para Pernambuco, agregou muita gente de vários seguimentos artísticos da música, cinema, moda, teatro”, assegura a artista, que lamenta a falta de iniciativas com peso semelhante nos dias atuais. “De lá para cá, não aconteceu nada no cenário musical do Brasil que fosse tão significativo quanto”, afirma.
 

FOTO: PEDRO MAIA/DIVULGAÇÃO
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Parcerias.Lula Lira se apresenta com a banda infantil Coisinha ao lado do músico China e integrantes do grupo pernambucano Mombojó


Influências. Afim de que o estabelecido não se confirme, Lula prepara, ela própria, suas novidades.

Até o fim do ano lança dois singles com sua outra banda, o Afrobombas, dona do sucesso na rede “De Sal e Sol Eu Sou”, de sua autoria. Já para 2018, além do primeiro disco com o grupo, Lula também promete o lançamento de um álbum solo. “Como não nasci com o dom de tocar nada, digo que meu instrumento é a voz. Escuto e gosto de bastante coisa, entre elas Martina Topley-Bird, Serge Gainsbourg, Tricky e Evinha”, enumera.

Na hora de compor, Lula se permite, ainda mais, os desvios e variedades. “Meu processo criativo não tem regra nenhuma. Normalmente as letras vêm antes da melodia, mas nem sempre”, revela. Pois assim como no momento da criação, ela leva para a vida, como palavra de ordem, a liberdade. “Acho que debater temas como identidade de gênero, sexualidade e feminismo é de extrema importância, não só no ambiente escolar, mas, principalmente, em casa. São tópicos que estão relacionados a individualidade de cada um, coisas tão íntimas da vida humana que não entra na minha cabeça que alguém precise ser ‘aceito’ por isso ou aquilo”, assegura Lula, não sem antes deixar um último recado de esperança. “O indivíduo é o que é e pronto. O respeito mútuo é a base do equilíbrio da vida na Terra, mas, infelizmente, ainda vai demorar para a gente chegar nele. Enquanto isso, nós seguimos lutando”, conclui.

 

Músico China exalta a ‘diversão levada a sério’ do conjunto

É pela definição de Chico Science (1966- 1997) que o cantor e compositor China explica os preceitos da banda Coisinha, que traz no repertório canções eternizadas pelos grupos Balão Mágico, Trem da Alegria e a dupla Vinicius de Moraes e Toquinho. “Virei artista por causa do Chico Science. Levo sempre essa frase comigo e tenho certeza que o nosso trabalho é uma ‘diversão levada a sério’, como ele dizia”, recorda o compositor e idealizador da empreitada.

“Resolvi criar o conjunto quando percebi que os meus filhos tinham crescido. Eu gosto muito de criança e fiz essas músicas para voltar a brincar com elas”, sublinha. Além de músicas já clássicas, casos de “O Pato” (Vinicius/Toquinho) e “Saci Pererê” (Jorge Ben Jor), quem comparecer ao espetáculo vai se deparar com “coisas nunca vistas antes”, brinca China.

“Queremos lançar para logo nosso primeiro disco, só com músicas próprias. Nós fazemos tudo na calma, a gente grava quando encontra, o que não acontece sempre. Mas já temos metade do disco pronto, ele deve ter dez canções, e uma delas fala sobre esconde-esconde”, revela o pernambucano, que ainda ressalta outra característica do show. “Não vai ter só música, a gente convida a molecada para interagir, subir no palco, tocar os instrumentos, fazemos brincadeiras da nossa infância. Nossa intenção é que todos, pais, filhos e nós mesmos, se divirtam como crianças”.
 


Agenda


O quê. Show da banda Coisinha
Quando. Sexta (28), às 19h
Onde. Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)
Quanto. R$ 40 (inteira)