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Alaíde Costa reinventa a forma de cantar a fossa Cantora da pré-Bossa Nova lança primeiro disco autoral, após 60 anos de carreira MPB 

Cantora da pré-Bossa Nova lança primeiro disco autoral, após 60 anos de carreira

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 20 de outubro de 2014 | 04:00
 
 
 
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Em 1954, antes mesmo de João Gilberto conseguir qualquer reconhecimento como pai da bossa nova, a cantora carioca Alaíde Costa chamava a atenção de Tom Jobim como crooner do Avenida Dancing, extinta boate do Rio de Janeiro, no movimento marcado como pré-Bossa Nova. “Era uma época em que eu me firmava como intérprete, mas já gostava de riscar minhas canções e sonhava em ter músicas minhas gravadas na minha voz”, diz. Exatos 60 anos depois de ter marcado a música brasileira como cantora, Alaíde Costa apresenta seu primeiro disco com composições autorais. “Canções de Alaíde” (Nova Estação) expõe, finalmente, uma compositora talentosa, que revela somente agora belas parcerias com Vinícius de Moraes, Geraldo Vandré e Paulo César Pinheiro.

Apesar de compor desde os 17 anos e ter registrado parcerias autorais em sua discografia, como “Você É Amor”, ao lado de Tom Jobim, esta é a primeira vez que a cantora interpreta um repertório completamente autoral – são 13 canções, sendo quatro delas assinadas por Alaíde Costa sozinha.

As primeiras ideias do disco nasceram ainda no final da década de 1990, quando a cantora fez um show no Teatro Denoy de Oliveira, em São Paulo, cantando suas músicas a convite de Luiz Carlos Bahia, com produção de Nelson Valência. O detalhe é que todos os arranjos eram da própria cantora, que em 2002 fez uma versão do show, desta vez com músicas e arranjos completamente autorais. “Ali acho que algumas pessoas viram que eu tinha uma veia criativa, de composição mesmo, e que era hora de gravar isso. Afinal, são 60 anos de carreira e 78 de idade, não podia esperar mais”, justifica a cantora.

Com produção de Thiago Marques Luiz, produtor do álbum “Ângela Maria – 50 Anos de Carreira”, e arranjos feitos pelo pianista Gilson Peranzetta, “Canção de Alaíde” se firma com um repertório muito mais de fossa do que de bossa – apesar de a cantora estar inevitavelmente associada ao ritmo.

A despeito do repertório depressivo, os requintes nítidos de canto lírico em seu timbre forte não deixam Alaíde Costa cair no esquema clássico da dor de cotovelo, cantada com seriedade e sofrimento – “o que Lupicínio Rodrigues faz muito bem, sem precisar de concorrência”, como ela mesma reconhece e pontua.

Dessa forma, em “Tudo O Que É Meu”, parceria com Vinícius de Moraes, a marca do Poetinha vem explícita nos versos “toma, amor, tudo o que é meu”, completados pelo lirismo feminino de Alaíde, que entoa em um vibrato alto e repetindo a passagem autoral: “quero ser tua até morrer”. Escrita ao lado de Geraldo Vandré, Alaíde Costa dá vida a “Canção do Breve Amor”, como uma homenagem ao movimento pré-Bossa Nova. “Essa música é de 1952, se não me engano. Eu cantava quase como um sussurro e decidi dar mais força a ela nesse disco”, justifica.

Uma força que permeia o álbum inteiro e deságua de uma só vez em “Choro”, que carrega o maior clima de fossa do disco e parece revelar como uma cantora dos anos 1950 consegue renovar as próprias preferências, criando uma nova forma de cantar a tristeza.

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