Música

Aos 70, Nelson Angelo lança álbum que traz parceria com Frei Betto

Cantor e compositor mineiro se apresenta em BH no dia 19 de julho

Por Raphael Vidigal
Publicado em 16 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
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Nelson Angelo corria os olhos no jornal quando, de repente, algo interrompeu a morosidade da leitura. Ele se sentiu “tragado, puxado por aquelas linhas” e, num instante, “estava dentro do texto”. “Entrei ali e não saí mais”, conta. O acontecimento foi em 2004, mas só agora, 15 anos depois, o compositor conseguiu dar um fecho à experiência. 

O texto que tanto impactou Angelo foi “Negritude”. A crônica escrita por Frei Betto se transformou em música nas mãos do entrevistado, que justifica a demora pela dificuldade em contatar o agora parceiro musical. “Fiquei um bocado de tempo nessa espera, mas valeu a pena, porque as palavras ficaram a cada dia mais entranhadas dentro de mim”, garante Angelo. 

Com a anuência de Frei Betto, a canção passou a integrar “Vitral do Tempo”, álbum que o músico belo-horizontino acaba de lançar. “Essa música simboliza o envolvimento do Brasil com a África, no sentido de reconhecer a beleza da convivência. A negritude é uma coisa muito ampla, não tem a ver só com cor de pele. Principalmente para a gente, de Minas Gerais, ela está no âmago do nosso ser”, afiança o músico, que aproveita o ensejo para relembrar versos contidos na faixa: “Sou cidadão brasileiro/ Ainda luto por alforria/ Empenhado em abolir preconceitos e discriminações, trabalho escravo e tortura/ Grilhões forjados na inconsciência e inconsistência dos que insistem em fazer da diferença, divergência/ E ignoram que Deus é também negro”, recita. 

“A base da nossa sociedade está muito desgastada. Tem muita briga, cara fechada, xingamento. Precisamos resgatar as nossas influências para que voltemos a ter a fluência de propor algo”, ensina. Nesse movimento de olhar o passado para aprender sobre o presente e ter esperanças no futuro, o cantor resolveu registrar uma nova versão para “Quando Eu Vi o Mar”, parceria feita com o poeta mineiro Cacaso (1944-1987). 

“A letra conta a história de uma pessoa que nunca viu o mar, e, quando chega lá, fala: ‘Uau!’. É sobre essa sensação de perplexidade que atinge o ser humano. Para as pessoas humildes, que vivem nos interiores do planeta, quando elas chegam na beirada do mar, o mundo arredonda”, diz.

O novo disco, que sucede o lançamento de “Rio da Lua”, feito com Lô Borges, enfileira oito canções autorais, algumas instrumentais. Aos 70 anos, o autor de “Fazenda” e da letra para “Um a Zero”, choro de Pixinguinha e Benedito Lacerda, sente que o reconhecimento veio tardiamente. “Preferia ter aparecido com 30 anos, mas não se discute com a natureza”, observa. No dia 19 de julho, Angelo se apresenta em BH, no espaço Do Ar, que fica na rua Amoroso Costa, número 32, no bairro Santa Lúcia.

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