Foto em Pauta

Céu nordestino de Gonzagão 

Projeto traz fotógrafo Tiago Santana para mostrar seus trabalhos, falar sobre sua trajetória e seu livro “Céu de Luiz

Por gustavo rocha
Publicado em 29 de julho de 2014 | 03:00
 
 
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A cultura nordestina é tão rica, diversa e ampla quanto a sua imensidão geográfica. Por conta disso, é impossível defini-la de maneira sintética, mas talvez tenha cabido ao músico Luiz Gonzaga – que surge em um contexto histórico de êxodo rural no Brasil e chegada de vários retirantes em busca de emprego no Sudeste da década de 1930 – ser a voz do povo que vem de lá. Recobrando a memória de “Gonzagão”, o fotógrafo cearense Tiago Santana lançou o livro “Céu de Luiz”, para celebrar o centenário do músico e retratar o universo de sua infância: a cidade de Exu, em Pernambuco. Santana mostra esse e outros trabalhos no projeto Foto em Pauta, nesta quarta, no Oi Futuro, com entrada gratuita.

“Eu sou nascido na região do Cariri, no Ceará, que faz fronteira com Pernambuco. Eu passei minha infância nesse lugar e o meu trabalho (de fotógrafo) começou porque eu queria retratar e fotografar a riqueza cultural presente ali. A região é uma espécie de síntese do Nordeste e até geograficamente ela é equidistante das principais capitais. O Gonzaga é dessa região também, só que nascido do lado pernambucano. Ele se valeu da música para contar a história e mostrar essa região. Eu uso a fotografia, outros usam a poesia”, revela Santana.

O livro, em edição de grande formato, vistosa, com 156 páginas, além das fotografias traz textos do jornalista alagoano Audálio Dantas – que escreveu em edições históricas, como na revista “O Cruzeiro”. Embora o trabalho remeta aos cem anos de Gonzaga, a dupla de criadores não se pautou por uma linha cronológica tão clara.

“A gente tomou a obra do Gonzaga e onde ele nasceu como pontos de partida para contar uma história e remontar esse cenário de maneira bastante subjetiva. É um exercício de passar um pouco dessa atmosfera do Gonzagão. O texto e as fotos são coisas independentes, que falam por si. No livro não tem ‘aqui é a casa onde nasceu’, ‘aqui ele brincava’ e por aí vai. Claro, de certa forma, é difícil tratar de um artista com tamanha trajetória sem fazer algumas conexões históricas, mas evitamos o óbvio”, garante o fotógrafo.

Dantas e Santana já trabalharam juntos em “O Chão de Graciliano”, de 2006, livro que contava a trajetória do romancista Graciliano Ramos, responsável por “Vidas Secas”, obra que ganhou uma versão para o cinema com direção de Nelson Pereira do Santos, em 1963.

narrativa subjetiva. Todas as fotos do livro são em preto e branco. Santana ressalta que, assim como a literatura e outras artes, a fotografia tem caminhos diferentes e múltiplos. “Ao longo da minha trajetória, eu costumo trabalhar com preto e branco. Para mim, o resultado são fotos menos dispersas que as coloridas. Creio que as pessoas conseguem observar melhor o gesto e os personagens que compõem aquela foto. Mas essa é minha visão. É interessante pensar que cada um é capaz de fazer sua própria narrativa daquilo que vê”, analisa.

Além disso, ele crê que seu trabalho não tenha necessidade de ser tão descritivo, algo que a fotografia contemporânea – segundo ele – tem permitido mais: as narrativas mais subjetivas e artísticas. “Eu tento fugir daquilo que é muito óbvio, buscando conservar algum mistério, coisas que não são, inclusive, mostradas por minhas fotografias. É uma fotografia subjetiva, mais lúdica, que deixa as pessoas preencherem algumas lacunas. O que me interessa fotografar são as relações humanas, o indivíduo na foto. Eu brinco que a foto é apenas um pretexto para conhecer aquelas pessoas”, se diverte o artista.

Agenda

O quê. Foto em Pauta, com Tiago Santana

Quando. Nesta quarta, às 19h30

Onde. Multiespaço Oi Futuro (av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras)

Quanto. Entrada franca

Vida longa

O projeto Foto em Pauta foi criado em 2004 pelo professor de fotografia Eugênio Sávio. A ideia é trazer renomados fotógrafos que mostrem seus trabalhos por meio de projeções e conversem com o público na sequência. 
Desde o início, já passaram mais de 60 deles por Belo Horizonte.

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