Música

De volta à selva  

Guns N’ Roses fazem show hoje no Planeta Brasil; tecladista Dizzy Reed revela se sentir em casa quando toca no país

Por Thiago Pereira
Publicado em 22 de março de 2014 | 03:00
 
 
 
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Eles já foram reis um dia, ou melhor, durante alguns anos. Entre 1987 e 1992, aproximadamente, era difícil encontrar no planeta alguma banda mais amada e focalizada pela mídia que o Guns N’Roses. Era uma banda faminta pela fama, pela tríade contracultural básica (sexo, drogas e rock) e que não temia o perigo, seja dançando com “Mrs Brownstone”, seja chafurdando nos abismos psicóticos de turnês megalomaníacas ou videoclipes hiperproduzidos.

Foi nesse período que a banda marcou presença no país pela primeira vez, com apresentações histéricas em São Paulo e no Rio de Janeiro, sozinhos e depois no Rock In Rio. Época em que a selva chamada Brasil ainda era um terreno instável para mega produções musicais e eventos como um show do Guns. Pois eles estão de volta. Após se apresentarem quinta, no Rio (leia na página 12), eles são a atração principal do Planeta Brasil, hoje, na esplanada do Mineirão.

Com a grama devidamente aparada, o país já é uma espécie de quintal para o Guns N’ Roses, como assume o tecladista Dizzy Reed. “Seguramente já é uma tradição se apresentar por aí”, garante. “Sinto como se estivéssemos em nossa segunda casa, o Brasil é definitivamente o tipo de lugar que gostamos de voltar, temos uma grande união com o público e fiz minha estreia nos palcos com a banda aí em um show gigantesco”, diz o músico, referindo-se ao show na segunda edição do Rock In Rio, para um Maracanã deslumbrado de ver os homens mais ferinos do rock na época ali tão disponíveis.

O Guns N’Roses que desembarca para show em Belo Horizonte (a primeira vez na capital mineira foi em 2010, numa apresentação meio desastrada, em que o constrangimento do som no Mineirinho se embolava com o fato de ver o vocalista, Axl Rose, ali, meio defasado no palco em tempo e espaço) mais parece um mimo único do cantor, do que aquela potência que pilhou o país antes. É uma banda que se equilibra em outro tipo de penhasco: o da relevância artística.

Enquanto alguns podem percebê-los como sombra desgastada de algo glorioso, outros podem colocá-los no escaninho honroso das bandas clássicas do rock, uma iconografia da qual foram precedidos por nomes como Rolling Stones, Led Zepellin, Aerosmith, Van Halen... “‘Classic rock’ é uma destas classificações que não me agrada”, reconhece Reed, que completa: “Eu certamente entendo o porquê de usarem esse selo, em termos de marketing. Mas se nós alcançamos esse status? Não saberia responder. Alguns desses grupos citados por você seguramente já estão nesse patamar, mas falar disso é entrar em um território que considero perigoso”, diz o tecladista.

Filme. Essa precaução do músico em classificar o grupo diz muito sobre o posicionamento atual do Guns. Se a banda no auge embalava grandes canções com doses altíssimas de arrogância em declarações e posturas nem um pouco modestas, hoje a banda tem agendada uma segunda residência de shows – a primeira foi em 2012 – em Las Vegas no Hard Rock Hotel & Casino de 21 de maio a 7 de junho. “Uma das coisas mais difíceis de se estar em uma banda é viajar, portanto achei a oportunidade incrível”.

A primeira temporada do Guns na cidade norte-americana gerou o documentário “Appetite for Democracy”, que será exibido nos cinemas dos Estados Unidos no próximo mês (ainda não há confirmação para uma estreia no Brasil). Sobre o filme, Reed brinca: “Eu ainda não assisti, mas, bem, eu estava lá”.

Por hora, o músico garante que um próximo álbum deve sair em um intervalo bem mais curto que “Chinese Democracy”, o mais recente trabalho que levou 15 anos para ficar pronto. “Estamos cheios de ideias, muito próximas de estarem terminadas”, diz, elogiando a atual composição do Guns. “Estamos com essa formação já faz algum tempo, alcançamos um nível especial de performance. Amo os caras do grupo e temos feito grandes coisas juntos, musicalmente falando”.

Com essa declaração ele praticamente responde à inevitável pergunta a respeito de uma volta da formação clássica do Guns, um boato (e um sonho) que circula entre os fãs há muitos anos. “Não posso dizer que falamos nisso. Realmente não está entre nossas preocupações”, conclui.

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