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Delano: “Eu não quero ser só mais um” 

Artista fala sobre timidez, machismo no funk, projetos futuros e desafios de manter carreira musical no Brasil

Por lucas buzatti
Publicado em 09 de novembro de 2015 | 04:00
 
 
 
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MC Delano conta que sua nova canção, “Que Grave É Esse”, também tem feito sucesso Brasil afora. “Agora estamos preparando o lançamento de um disco cheio, que vai se chamar ‘Tum Tum Tum’ e deve sair até o fim do ano”, revela o artista, cujo trabalho tem na internet sua plataforma de divulgação. “Eu já tinha um primeiro disco, que era mais para divulgar o trabalho nas comunidades. Esse, agora, vai ser uma coisa mais profissional”, pontua o MC.

Ao passo em que Delano é um artista desenvolto, no palco e no estúdio, no bate-papo o que se vê é um garoto tímido. “Tento equilibrar o Delano com o MC Delano, que é um personagem. O palco pede uma atitude mais animada, mas fora dele é timidez total”, ressalta. O funkeiro afirma que curte sair para as baladas com os amigos, quando não está trabalhando, mas que é um “garoto família”. “Gosto de ficar em casa, trabalhando, conversando com minha mãe e minha irmã”, conta. “Muita gente acha que ele é marrento, mas é só timidez mesmo. Ele é quieto, caladão. Às vezes a gente viaja e fica horas sem falar um com o outro”, diverte-se o empresário Marcelo Matos.

Delano afirma que percebeu que sua carreira tinha começado a deslanchar quando seus shows migraram para clubes e casas direcionados ao público de classe média alta. “Vi que a coisa tinha mudado quando comecei a fazer mais bailes na zona Sul e a viajar para cidades que eu nunca tinha conhecido”, admite, ponderando que nunca abandonou suas “origens de favela”. “Foram as comunidades que me levantaram. Não só o Santa Maria, mas a Serra, o Morro das Pedras e várias outras. Por isso, faço questão sempre de falar, em todo show, que sou de BH, que não é uma cidade muito ligada ao funk”, sublinha.

Sobre os novos rumos da carreira, MC Delano destaca que tem buscado parcerias com representantes de outros estilos musicais, como o sertanejo, o axé e o pagode. “Ele gravou com o Pixote, com o Parangolé, com o Thiago Brava”, elenca Marcelo Matos. Mas, para além da mistura sonora, as uniões buscam ressignificar os temas das canções, muitas vezes criticadas pelo apelo sexual e o teor machista. “Minhas primeiras músicas tinham letras que não eram de ‘putaria’, mas que tinham um duplo sentido”, admite. “Mas, depois de ‘Na Ponta Ela Fica’, me conscientizei e resolvi fazer músicas com letras mais leves, dançantes, que não sejam vulgares e não façam apologia de nada”, ressalta, pontuando que sua mãe foi uma das pessoas que sugeriram a mudança na forma de escrever. “Hoje, eu procuro mostrar as músicas sempre para ela, peço dicas, vejo o que ela acha da letra”, diz o artista.

Mas onde MC Delano quer chegar? “Quero ter uma carreira sólida, que não seja uma coisa passageira. Eu não quero ser só mais um”, reflete. Marcelo Matos completa: “Hoje, o Delano é um nome conhecido no funk. Cobra um bom cachê, tem um escritório, tem uma van dele. Isso é tudo resultado de talento e investimento. Agora, carreira musical é aquela coisa, né. Hoje está ótimo, amanhã pode não estar. Mas o nosso trabalho é para que ele seja cada vez mais conhecido”.

Fechando a conversa, pergunto a Delano o que ele diria a um moleque de periferia que aspira uma carreira de sucesso na música. Ele suspira, embarga a voz e responde: “Eu falaria para ele que é só acreditar. Inúmeras pessoas vão dizer que não vai dar certo, vão te julgar por ser da periferia. Mas é só trabalhar e acreditar. Tem que trazer para si o próprio sonho”.

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