Debate

Diálogos sobre mente e arte 

Vida e obra do artista plástico Victor Arruda norteiam conversa sobre criação artística e psicanálise, hoje, na dotART

Por Lucas Buzatti
Publicado em 11 de junho de 2016 | 03:00
 
 
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Quais tópicos permeiam a relação, muitas vezes estreita, entre arte e psicanálise? Responder a essa pergunta, bem como a outras tantas que tangem o tema, é o objetivo do debate “Voar Fora da Asa – Mente e Arte”.

A conversa, que acontece hoje, na dotART Galeria de Arte, em Belo Horizonte, será centrada na vida e na obra de Victor Arruda. Além do artista plástico carioca, participam do evento a psiquiatra e psicanalista Cristina Vaz, a professora da UFMG Libéria Neves e o psiquiatra e psicanalista Raimundo Jorge Mourão. A mediação será de Wilson Lázaro, diretor artístico da galeria.

A temática do debate surgiu a partir das discussões estabelecidas pelo artista Victor Arruda em suas obras. “Quando decidi ser artista plástico, aos 16, 17 anos, minha ideia era fazer algo a partir dos artistas que eu conhecia, que eram modernistas. Tinha intenção de fazer uma pintura com qualidade estética, e que fosse algo como a extensão do modernismo”, relembra o artista, hoje aos 70 anos. “Só que, à medida que eu comecei a fazer análise, aos 19, e também a viajar para outros países, vi que essa qualidade estética era, na verdade, um empecilho para o meu trabalho. Que eu não podia ser um continuador do modernismo, que isso era chover no molhado”, completa.

À época, a análise à qual Arruda se submetia gerava alguns trabalhos que não seguiam padrões estéticos, mas que ele guardava para si. “Sou homossexual e, nos anos 70, em plena ditadura militar, era uma barra pesadíssima. Naquele período, a opção sexual era vista como doença. Acabei levando meus conflitos internos e com a sociedade, como a homofobia e o racismo, para essa minha produção artística pessoal”, afirma Arruda. “Mas, depois, percebi que aquilo, em si, era o meu trabalho. Que eu podia fazer uma pintura muito brutal, que abordasse o poder, o dinheiro e a sexualidade”, completa.

Antiestético. Quando viu-se diante dessa guinada, Arruda decidiu abandonar totalmente sua verve modernista e queimou muitas de suas obras antigas. “Passei a fazer um trabalho antiestético, uma antipintura, muito influenciado pelo dadaísmo. Para isso, eu tinha que reforçar a questão do malfeito. Se antes eu fazia um trabalho malfeito para mim, e tinha uma pintura estética para me comunicar com as pessoas do mundo da arte, a partir dali, eu me comunicaria, também, pelo malfeito”, explica o artista.

Segundo Victor Arruda, foi depois desse momento que seu trabalho tornou-se psicanalítico. “Ele passa a ter essa característica quando eu rompo com o modernismo e começo a fazer uma pintura narrativa e antiestética”, diz. “Meu trabalho tem essa brutalidade de uma pessoa que não sabe pintar e não conhece a história da arte. Só que sou exatamente o contrário. Um pintor erudito e museólogo, que estudou profundamente a história da arte. E isso é muito difícil de entender para a maioria das pessoas”, sublinha.

Com quase quatro décadas de carreira, Arruda afirma que, nos últimos anos, sua arte passou a chamar a atenção de jovens artistas, psicanalistas e pessoas de fora do universo artístico. “Trabalho para que ela seja vista”, pontua.

É verdade que Arruda não mede esforços para atingir seu objetivo. Tanto que, em 2014, depois de saber que não havia sido convidado para a ArtRio, resolveu entrar “de penetra”. “Fiz um neon em um barco que dizia: ‘Homenagem às vítimas do dinheiro’. E circulei por perto da exposição. Deu tanto o que falar que, por fim, a ArtRio absorveu o trabalho, que chamou de terrorismo poético”, relembra.

No debate de hoje, Victor Arruda passará slides de suas obras, fazendo paralelos com a psicanálise. “A arte é um descarregamento da pressão. Se a psicanálise vai se envolver de forma artística com a narrativa do paciente, depende muito da sensibilidade do analista em não ter um ouvido formal”, finaliza.

Agenda

O QUÊ. Debate “Voar Fora da Asa – Mente e Arte: Victor Arruda”

QUANDO. Hoje, às 11h

ONDE. dotART Galeria de Arte (rua Bernardo Guimarães, 911, Funcionários)

QUANTO. Entrada franca

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