Carnaval

DNA musical dos blocos

Artistas que são regentes na folia em BH falam da relação entre seu trabalho e o repertório que é levado para as ruas

Por Daniel Barbosa
Publicado em 09 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O Carnaval faz brotar por toda a cidade batuqueiros de ocasião e aspirantes aos mais variados tipos de instrumento. É gente que, não tendo propriamente uma relação cotidiana com a música, se permite durante a folia momesca. Mas o posto de regente, diretor artístico ou mesmo vocalista dos blocos é, na maioria dos casos, ocupado por instrumentistas e cantores com sólida carreira na cena local e que acabam imprimindo seu DNA musical ao repertório que é levado para as ruas. O Magazine conversou com algumas dessas figuras para saber como expressam sua musicalidade – individual por natureza – para o coletivo.

Há casos de blocos que já nascem como extensão do trabalho de um grupo ou artista. Figuram nesse rol, por exemplo, o Bloco da Calixto, capitaneado pela cantora Aline Calixto; o Bloco do Approach, cujo embrião é a banda Proa; ou o Bloco dos Hermanos, fundado pela banda Los Otros, que há 12 anos presta homenagem ao Los Hermanos. Outros casos similares são o Chama o Síndico, que se dedica ao repertório de Tim Maia e Jorge Ben e tem como vocalista Gustavo Negreiros, da banda Black Sonora, e o Me Beija que Eu Sou Pagodeiro, que tem como diretor musical o violonista Rodrigo Torino, que comanda, há alguns anos, o projeto Pagodin Retrô.

Em alguns blocos, contudo, a relação entre o repertório que eles praticam e o trabalho que seus regentes desenvolvem nos outros 360 dias do ano é mais difusa. Peu Cardoso é integrante da Orquesta Atípica de Lhamas, compositor de trilhas sonoras e, no Carnaval, comanda os blocos Havayanas Usadas, que se dedica ao axé, e É o Amô, que lida com a música sertaneja. “O meu trabalho com o Carnaval começou há sete anos. Minha família é baiana, então a gente faz música com referência na percussão de Salvador, do Olodum e de outros grupos. O Havayanas nasceu com essa proposta. Já o É o Amô usa também essa base percussiva, parte dessa ideia de bloco afro de Salvador, só que para fazer música sertaneja”, diz. “É um gênero com o qual eu nunca tinha trabalhado, mas o Carnaval está aí para levantar essas bolas também”, completa.

Já no caso da Divina Banda, que estreia no Carnaval deste ano, é o Clube da Esquina e os tambores de Minas Gerais que dão o tom. Rodrigo Borges, sobrinho de Lô e idealizador do bloco, diz que a agremiação surgiu como forma de comemorar os 50 anos de carreira de seu pai, Marilton Borges, e tem, neste primeiro ano de desfile, a presença de Maurício Tizumba como regente convidado da bateria, batizada Tereza Beleza.

“Claro que a gente passeia por parte do repertório do Clube da Esquina, mas o bloco vai além, homenageia a MPB de uma forma geral, tocando Mutantes, Novos Baianos, Tim Maia, Caetano, Gil, além de composições nossas”, diz, citando os integrantes da banda. “A gente adapta tudo a essa sonoridade, essa pegada afro da bateria”, destaca.

Ele aponta que essa adaptação é mais prazerosa do que trabalhosa. “A canção do Bituca, por exemplo, já é suingada por natureza, então a gente abre o desfile com ‘Tambores de Minas’ e depois vem ‘Caxangá’, ‘Fé Cega, Faca Amolada’, que cabem muito bem nessa levada. E com relação a Lô e Beto (Guedes), a gente vê que ‘Paisagem da Janela’ dá um samba-reggae, ‘Maria Solidária’ pode virar um ska. Pensamos em ritmos africanos que têm a ver com a coisa do Tambor Mineiro”, salienta.

Também com foco na música mineira, o bloco Pacato Cidadão é comandado por Gustavo Maguá e Guilherme Calk. Com dois álbuns lançados, que transitam entre o samba e o samba-rock, Maguá diz que foi instigado a criar o bloco por Calk, que já tinha uma relação com o cenário pop rock do Estado, e que sua própria relação com esse universo – de bandas como Skank, Jota Quest, Pato Fu e Tianastácia, que o bloco homenageia – se dá pela memória afetiva.

“Realmente, o Pacato Cidadão é um trabalho diferente do que eu faço. Meu primeiro disco é de samba, o segundo, de samba-rock, e estou preparando um terceiro que é de forró. Mas nossa geração tem uma mente mais aberta, porque chega informação de tudo a todo momento. Além disso, na minha infância e juventude, eu escutei muito essas músicas, então todas essas que eu canto no bloco conheço bem. Comecei a aprender violão tocando as coisas do Skank, do Pato Fu”, diz.

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