Embora o disco novo revele ao público 11 canções, Angela Ro Ro guarda mais novidades. “Ajudai, Senhor”, uma parceria inédita com Cazuza (1958-1990), segue em seu baú. “Essa música está registrada e editada, não gravei ainda porque estava reservando para o projeto com letras inéditas do Caju, que é como eu o chamo, pelo apelido do apelido. Mas ainda não me convidaram, nem sei quem está à frente disso. Pessoalmente, eu só berraria os blues do Cazuza pedindo ajuda aos céus nesta homenagem, porque sou completamente ateia”, declara Angela. “Cobaias de Deus”, a outra parceria com o amigo que morreu vitimado pela Aids, e de temática parecida, ganhou a voz de Angela em 1993, no disco “Nosso Amor ao Armagedon”. Mas olhar para o passado não é com ela, ao menos à primeira vista. “Pula pra frente, já foi o tempo do ‘Tango da Bronquite’”, provoca, em alusão à faixa do seu segundo disco, paródia ao sucesso “Fumando Espero”, de Carlos Gardel.
Humor. Fã do intérprete de tangos mais adorado da Argentina, Ro Ro aproveita a oportunidade para destilar sua verve. “Gardel não era nem uruguaio nem argentino, era francês, todos sabemos, mas a gente o perdoa, não tem problema”, diverte-se, antes de filosofar. “A ironia não é importante em lugar nenhum. Mas levar no humor é fundamental, porque ele ou ela, não sei o sexo da criança ainda, enfim, é uma irmã do amor”, considera.
Encontros. As referências de Angela vão além de Gardel. Ela enumera a gama de influências artísticas a que teve acesso graças a sua mãe. “Poderia ter feito medicina, mas demos sorte, porque mamãe sempre quis que eu tivesse ligação com a música e, para juntar o desejo com a fome, nasci com talento, esse dom. Em casa a gente ouvia de tudo, fui aplicada desde pequena em Lucho Gatica, Bing Crosby, Antonio Maria, Dolores Duran, Noel Rosa, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Geraldo Pereira. Tenho Frank Sinatra tatuado na cabeça da minha voz”, diz.
No entanto, o encontro musical mais decisivo na trajetória da entrevistada aconteceu ao vivo e a cores. “Sempre fui fã de fila de camarim da (Maria) Bethânia. Embora sejamos relativamente contemporâneas, eu fui gravar meu primeiro disco com quase 30 anos, e ela começou menor de idade. Quando ela cantou ‘Gota de Sangue’ e ainda me chamou para tocar o piano nessa faixa do LP, quase caí para trás. Fiquei admirada no estúdio com o perfil longilíneo e a cabeleira dela, mas segurei a onda e fiz o meu trabalho”, recorda. A versão de Bethânia para a canção de Angela foi lançada no disco “Mel” (1979), que vendeu mais de 800 mil cópias. “Meus álbuns não mofam na prateleira, mas nunca fui uma grande vendedora, fiquei estarrecida ao participar desse projeto”, admite.
Apresentadora. A partir de 2005, a inquieta Angela passou a viver a experiência de apresentadora de TV, com o programa de entrevistas “Escândalo”, no Canal Brasil. Em um formato mais aberto e descontraído, ela comandou na web, no rádio e na TV, a partir de 2012, o “Nas Ondas da Ro Ro”, que, no momento, de acordo com a cantora, espera por patrocínios para voltar à programação. “Eu Sou Insana?”, documentário dirigido por Jodele Larcher e lançado em 2014, se valeu de trechos da atração que ficaram fora da edição final. “O título usa um dos bordões que inventei: ‘Eu acredito na raça humana. Eu sou insana?’. É tudo uma festa só, fico solta, livre, conto piada, toco piano, canto com meus convidados, lidero a farra toda. Espero que volte”, anseia Angela, que recebeu de Alcione a Eduardo Dussek no programa. “Sempre que o Jerry Adriani ia lá, a gente se beijava na boca, é uma saudade”, confessa.
DISCOGRAFIA
1979 “Angela Ro Ro”
1980 “Só Nos Resta Viver”
1981 “Escândalo!”
1982 “Simples Carinho”
1984 “A Vida É Mesmo Assim”
1985 “Eu Desatino”
1988 “Prova de Amor”
1993 “Nosso Amor ao Armagedon – Ao Vivo”
2000 “Acertei no Milênio”
2006 “Compasso”
2007 “Angela Ro Ro – Ao Vivo” (CD e DVD)
2009 “Escândalo”
2013 “Feliz da Vida!”
2017 “Selvagem”