Zizi Possi

Ela, o piano e uma voz intacta 

Cantora traz show acústico ao Palácio das Artes, remontando fases da carreira e incluindo versos da música cabo-verdiana

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 04 de junho de 2016 | 03:00
 
 
 
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“Esse é um show que eu faço desde que me entendo como artista. Nunca abandonei porque não preciso justificar repertório, nem lançar CD, é só cantar, sem me preocupar com a banda toda ali atrás de mim, sem pensar demais”, diz Zizi Possi sobre o espetáculo que ela traz ao Palácio das Artes, hoje à noite, acompanhada apenas do pianista Jether Garotti Jr.

Longe de sopros nostálgicas, a cantora paulistana retomou neste ano um de seus shows mais aclamados, colocando na roda as maiores interpretações, mas incluindo universos novos, como a música cabo-verdiana recém descoberta por ela.

Na marca de 35 anos de trajetória, Zizi sugere viver hoje uma afirmação da fase decisiva da carreira. Ela remonta à época em que rompeu com padrões mercadológicos vigentes em seus discos, na década de 1980, para arriscar gravações acústicas em três álbuns que se tornariam referências – o cultuado “Sobre Todas as Coisas” (1991), respaldado por Chico Buarque, “Valsa Brasileira” (1993) e “Mais Simples”, (1996).

“Os anos 1990 são especiais, claro, desde o ‘Estrebucha Baby’, ali em 1989, começa a mudar tudo. Foi quando eu voltei a São Paulo, fui indicada a pelo menos três Grammys, rompi com uma estética dominante e investi no formato acústico, que me dava maior liberdade para interpretar canções, sem me preocupar com banda, arranjos complexos, essas coisas. Era uma forma de me comunicar diretamente com o público”, diz Zizi.

No show, ela mescla as distintas fases e passeia por canções como “Caminhos de Sol”, “Asa Morena” e “A Paz”, até os radiofônicos singles de novelas, presentes em discos temáticos, que a tornaram conhecida em todo o Brasil, primeiro com “Perigo” (1986) e, posteriormente, com “Per Amore” (1997).

Mesmo sem ter a preocupação de revisar a carreira de Zizi Possi, o show “Piano e Voz” não é só um apanhado de clássicos da paulistana dispostos com liberdade. Multifacetada, tendo gravado desde canções comerciais até os malditos Jorge Mautner e Sérgio Sampaio, ela agrega as composições de seu último disco, “Tudo se Transformou”, de 2014, no qual interpreta canções chave da MPB em releituras atípicas. Entre elas, a música título do disco, lançada por Paulinho da Viola em 1970, até então reverberada pela voz de Caetano Veloso. Assim como o hino “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, amplificada por Jair Rodrigues, e agora sob a voz imponente de Zizi.

Revelando uma descoberta recente associada à música africana, Zizi Possi também estuda incluir canções do EP “O Mar Me Leva” (2016), no qual registra, pela primeira vez, quatro versões de mornas cabo-verdianas, produzidas por Zeca Baleiro. “Estamos fazendo adaptações. O Jether pegou tudo, está tentando ver como fica só no piano. Porque as mornas são músicas muito tristes e com forte apelo de violões. Mesmo assim, é uma vontade minha levá-las ao show, que de alguma forma, percorre todos os caminhos em que fui até agora”, diz a cantora.

O tempo todo, Zizi estará amparada pelo piano de Jether Garotti Jr, que a acompanha em seus discos há 26 anos e, além de arranjador, é um confidente musical da cantora. “Nós dois criamos uma linguagem juntos, conversamos sobre isso além de tocar e cantar. Ele me entende, consegue modificações sutis em notas, harmonias que se encaixam na emoção que eu quero para uma frase, por exemplo. É algo sublime”, diz Zizi.

O repertório gira em torno de 20 músicas, mas a vontade de Zizi Possi é estender as canções, surpreender o público com uma ou duas a mais do que o previsto em seu roteiro, ainda que haja cautela com as cordas vocais. “Há um desgaste vocal, claro. E eu prezo por ter a voz intacta sempre. Então, em cada show, fazemos o repertório e, no final, vemos se é possível acrescentar uma ou duas a mais. Sempre é a minha vontade”.

Agenda

O QUE. Zizi Possi – “Piano e Voz”

ONDEPalácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)

QUANDOHoje, às 21h

QUANTOOs ingressos custam R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia) para plateia I; R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia) para plateia II; e R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) para plateia superior.

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