Orquestra Barroca

Erudito em caráter inédito

Músicos lançam 15º disco da carreira com óperas de Beethoven e Mozart nunca gravadas com instrumentos de época

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 27 de julho de 2014 | 03:00
 
 
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A princípio parece um desafio: executar óperas clássicas nunca tocadas por outros músicos no Brasil, usando instrumentos de época. Mas, para os compositores e arranjadores da Orquestra Barroca de Juiz de Fora, isso se tornou um hábito minucioso. Aproveitando os 25 anos do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que se encerra hoje, após farta programação, a Orquestra Barroca acaba de concluir a gravação do 15º disco da carreira, que registra mais três obras inéditas, incluindo renomadas peças de Mozart e Beethoven.

Em atividade desde 2000, a Orquestra Barroca carrega na bagagem mais de 50 óperas gravadas em caráter de ineditismo, compondo o maior acervo de discografia do gênero do país. “Virou quase um ritual. Todo ano abrimos o festival com as peças inéditas para gravar um disco. É um registro da história antiga brasileira e europeia, que nenhuma orquestra faz atualmente. Esse trabalho serve hoje como uma vitrine para que o mundo tenha contato com a riqueza de uma música raríssima no planeta”, explica o regente e violinista barroco Luis Otávio Santos, também diretor artístico do festival.

E é no Teatro Pró-Música, em Juiz de Fora, que as primeiras notas de instrumentos delicados podem ser ouvidas nos ensaios. A reunião dos músicos, entretanto, só começa uma semana antes do festival – são apenas quatro dias para ensaiar e outros três para gravar. “O tempo pode parecer curto, mas todos os músicos têm 10, 20 anos de experiência em instrumentos barrocos. Além disso, em toda gravação recruto músicos que tenham afinidade com as óperas, trago vários do exterior, como desta vez temos gente da Holanda, França, Espanha e Itália no corpo da Orquestra Barroca”, justifica Luís Otávio.

Neste ano, as peças escolhidas para a interpretação da Orquestra Barroca foram a 1ª Sinfonia de Beethoven em Dó Maior, a Sinfonia nº 40 de Mozart em Sol Menor, além da primeira peça clássica composta no Brasil, a Ópera Zaíra (1816), do português Bernardo José de Souza Queiroz, que viveu no Rio de Janeiro em meados do século XIX. “Como o festival faz bodas de prata, escolhemos marcos da música clássica. Primeiro Beethoven, que faz a passagem do classicismo para o romantismo. Depois, Mozart e a única sinfonia executada em um tom menor, e por fim o início da música clássica no Brasil com a beleza portuguesa-brasileira de Zaíra”, complementa.

Diferente de uma orquestra convencional, em que a maioria dos instrumentos é revestida com madeiras envernizadas e metais inoxidáveis, a Orquestra Barroca trabalha com especificidades raras e frágeis da música clássica. Os instrumentos de corda, por exemplo, como violino, violoncelo e harpa, são todos trabalhados com cordas de tripa, em vez das modernas e finas cordas de metal. A flauta transversal, por sua vez, é de madeira de carvalho, enquanto as trompas não possuem as tradicionais válvulas para amaciar e facilitar o sopro do instrumento. “É um jeito diferente até de segurar o instrumento. O meu violino mesmo, de 1785, é riquíssimo em tonalidades, mas as cordas sofrem com a exposição ao sol ou frio, precisam ser esticadas por uma semana antes de se tocar e ainda desafinam com frequência”, diz o regente Luís Otávio.

Disco

As três óperas escolhidas foram gravadas no Teatro Pró-Música, em Juiz de Fora, em 9 de julho, sem a presença do público. Os admiradores de música clássica puderam acompanhar a execução das óperas na abertura do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. O lançamento do disco, entretanto, deve acontecer apenas em dezembro, quando ele será disponibilizado para venda pela internet.

Apesar de a maioria dos instrumentos ter fabricação datada dos séculos XVII e XVIII, a captação do áudio foi feita em estúdio digital de alta qualidade, no próprio teatro. “Se não for assim, o som não fica no melhor padrão, que é o necessário para a boa admiração desse som raro”, disse Luís Otávio.

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