Artes Cênicas

Espetáculo da Academia de Palhaços trata do obsoleto e do fim de ciclos

A peça “Adeus, Palhaços Mortos surgiu após um incêndio que quase acabou com o grupo teatral

Por Rafael Rocha
Publicado em 16 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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A se confirmar a previsão do tempo para o fim de semana – sol forte com algumas nuvens –, os mineiros vão comprovar sua fama hospitaleira e receberão os paulistas da Academia de Palhaços com as melhores condições climáticas possíveis. A dúvida sobre o tempo não é mera precaução, e São Pedro há de fazer sua parte. Chuvas e nuvens acinzentadas já deixaram os integrantes do grupo em maus tempos e até mesmo a formação da companhia teve que ser alterada depois de tormentas e vendavais.

Mas a natureza anda dando bons sinais. Logo na estreia da trupe na capital mineira, a peça “Adeus, Palhaços Mortos” contabiliza sua centésima apresentação. A montagem tem sessões gratuitas nesta sexta (16) e sábado (17) no Galpão Cine Horto.

Assim, ao estacionar em BH a Kombi, batizada de “La Fênix”, plotada com chamas e labaredas, Laíza Dantas, Paula Hemsi e Maurício Schneider estarão aliviados e prontos para apresentar a trama inspirada no texto “Um Trabalhinho Para Velhos Palhaços”, do franco-romeno Matéi Visniec. 

Contar a história de três palhaços idosos que se encontram a caminho de uma entrevista de emprego não deixa de ser uma espécie de autoanálise da trupe. Assim como o espetáculo, a trajetória da Academia de Palhaços tem um quê de tragédia. Numa noite de 2015, o elenco voltava de uma apresentação. Chovia bastante na capital paulista, o trânsito estava intenso e um carro ao lado buzinava insistentemente. “Paramos e vimos que havia fogo no motor”, relembra Paula. 

Um incêndio devastador na Kombi utilizada pela trupe deixou o veículo em perda total. “O tanque (de combustível) estava cheio e nem mesmo dez extintores foram suficientes para acabar com as chamas”, conta Paula. Um caminhão-pipa que passava parou e conseguiu dar fim ao incêndio, mas o estrago já estava sentenciado. O trauma do incêndio deixou os bastidores do grupo em tal ebulição que resultou na saída de dois atores.

Um mês antes, um temporal repentino já havia deixado o elenco estressado diante do imprevisto que insist.e em aparecer na vida de artistas que frequentam o universo independente. “Isso serviu para revermos nossa trajetória e nos afirmarmos enquanto companhia”, acredita a atriz remanescente.

A bonança veio com a chegada do diretor José Roberto Jardim, que propôs ao que restou do grupo encenar o texto de Visniec. Falar de três artistas circenses diante do fim de suas existências parecia a abordagem ideal para aquele contexto.

Na peça, os circenses veem um anúncio no jornal: precisa-se de palhaço velho. Na antessala da entrevista, os três candidatos percebem que já se conhecem. Há um carinho entre eles, mas a vaga é uma só. Há ironia, há sarcasmo e puxadas de tapete podem acontecer. “Falamos do fim dos ciclos, do obsoleto, do que está ultrapassado”, reflete Paula.

A configuração do cenário é destaque da montagem, que exibe um cubo com projeções abstratas. “Nossa pesquisa também pretende romper as fronteiras sobre o que é teatro e o que é artes visuais”, explica. O espetáculo faturou o Prêmio Shell de melhor cenário em 2017.

Serviço. “Adeus, Palhaços Mortos”, da Academia de Palhaços. Nesta sexta (16) e sábado (17), às 20h, no Galpão Cine Horto (rua Pitangui, 3613, Horto; 3481-5580). Entrada grátis (retirada de ingressos começa 1 hora antes do espetáculo).

Anote. Palestra e oficinas serão ministradas pelo grupo. Informações no telefone (31) 3481-5580.

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